Embora as notícias sobre a inflação sejam “encorajadoras”, a batalha está longe de estar ganha. Permanecem como prioridade as políticas monetárias, já que o “ambiente financeiro continua frágil, especialmente numa altura em que os bancos centrais se movem por um caminho desconhecido para reduzir os seus balanços”, diz o FMI.
A luta contra a inflação “começa a dar frutos, mas os bancos centrais devem continuar os seus esforços” em 2023, ano em que a economia global vai abrandar, antes de retomar em 2024 e em que África Subsariana crescerá mais do que a média global, segundo as últimas projecções de crescimento do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Uma “flexibilização prematura” das políticas monetárias pode “desfazer” os ganhos alcançados, explica Pierre-Olivier Gourinchas, director do Departamento de Estudos do FMI, que insiste na necessidade de “monitorizar a acumulação de riscos e enfrentar vulnerabilidades, especialmente no sector imobiliário ou no sector financeiro não bancário menos regulamentado”.
As perspectivas do FMI, divulgadas no final de Janeiro, são “menos sombrias” do que as de Outubro, embora se preveja que o crescimento continue a ser “historicamente lento” em 2023, uma vez que a luta contra a inflação e a guerra da Rússia na Ucrânia pesam na actividade. Ainda assim, a súbita reabertura da China abre caminho a um rápido relançamento da actividade e, com as pressões inflacionistas a começarem a diminuir (84% dos países baixam a taxa de inflação para uma média de 6,6% face a 8,8% em 2022), as condições financeiras globais melhoraram, o que permitiu aumentar “ligeiramente” as previsões de crescimento para 2022 e 2023.
“O crescimento económico revelou-se surpreendentemente resistente no III trimestre do ano passado, com mercados de trabalho fortes, consumo doméstico robusto e investimento empresarial, e uma adaptação melhor do que o esperado à crise energética na Europa”, refere Pierre-Olivier Gourinchas.
O conselheiro económico do FMI acrescenta que a inflação “também mostrou sinais de melhoria e, em geral, a maioria dos países está a aligeirar as medidas, ainda que a inflação de base, que exclui os preços mais voláteis da energia e dos alimentos, ainda não tenha atingido o seu pico em muitos países”. O “enfraquecimento” do dólar americano desde o seu pico em Novembro também proporcionou algum alívio às economias emergentes e em desenvolvimento.
Crescimento moderado
O crescimento na África Subsariana permanece “moderado em 3,8%”, embora com uma revisão para cima, desde Outubro, antes de descolar até 4,1% em 2024. Projecções que colocam a região acima das médias globais de 2,9% e 3,1% para 2023 e 2024. A revisão para cima das projecções para a África Subsariana reflecte o “crescimento crescente da Nigéria em 2023, devido a medidas para abordar questões de insegurança no sector petrolífero”.Em contraste, África do Sul baixa as previsões de crescimento, para 1,2%, em 2023, após uma recuperação em 2022, consequência de um crescimento mais fraco da procura externa, a crise energética e constrangimentos estruturais.
As economias da Ásia emergente e em desenvolvimento são as que mais crescem, com 5,3 em 2023 e 5,3% em 2024, impulsionadas pela Índia (6,1 e 6,8%). Já a zona Euro tem a pior projecção em 2023 (0,7%), posição que troca em 2024 com os EUA, que ficam na cauda, com um crescimento de 1,0%, quando é esperada uma ligeira recuperação da zona Europa para os 1,6%.
Riscos inclinados para baixo
Apesar das perspectivas de crescimento serem “menos sombrias”, os riscos continuam inclinados para o lado negativo, embora os riscos adversos tenham moderado desde Outubro e alguns factores positivos se tenham destacado. A cooperação multilateral é um antídoto para a fragmentação geoeconómica, especialmente em áreas-chave de interesse comum, como o comércio internacional, a expansão da rede global de segurança financeira, a preparação em matéria de saúde pública e a transição climática.
Nos riscos, o FMI destaca os travões à recuperação económica na China (novas infecções de Covid-19 e o abrandamento mais acentuado do que esperado do sector imobiliário), a inflação “teimosamente elevada” num contexto de tensão do mercado de trabalho, uma escalada da guerra na Ucrânia e uma “revalorização súbita nos mercados financeiros”.
Embora as notícias sobre a inflação sejam “encorajadoras”, a batalha está longe de estar ganha, pelo que permanecem como prioridade as políticas monetárias, uma vez que o “ambiente financeiro continua frágil, especialmente numa altura em que os bancos centrais se movem por um caminho desconhecido para reduzir os seus balanços”. A flexibilização prematura corre o “risco de desfazer os ganhos alcançados até agora” , adverte o conselheiro económico do FMI.
Fonte: Expansão