O ativista angolano Nelson Adelino Dambo, conhecido por `Gangsta` , disse ontem que “teme pela vida” e recusa cumprir o termo de identidade e residência, a medida de coação imposta pela justiça, e preferiu acampar em parte incerta.
“Eu não saí do país, eu estou em Angola, eles têm o SME (Serviço de Migração e Estrangeiros) para confirmarem se saí ou não do país. Eu montei uma estrutura de uma ação cívica campal, estou acampando, não vou assinar o termo de identidade e residência, porque, [ao aceitar] essas medidas de coação, estaria a ser cúmplice com a ditadura”, disse o ativista à Lusa.
`Gangsta` , um ativista angolano que é muito crítico do poder, disse que vive, desde 31 de março de 2022 sob termo de identidade e residência, medida aplicada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), junto do Serviço de Investigação Criminal (SIC), após ter sido constituído arguido.
As medidas de coação, que segundo o ativista resultam das críticas que faz ao poder e o Presidente angolano, determinam apresentações periódicas nas autoridades, não se ausentar do país e nem de Luanda sem a autorização da PGR, não mudar de residência e nem se ausentar dela por mais de cinco dias sem comunicar, medidas de coação que se recusa a cumprir.
“Eu vivo sob um termo de identidade e residência, mas porquê? Porque eu falo. Foram-me imputados cinco crimes, nomeadamente associação criminosa, instigação à rebelião, instigação à desobediência civil, ultraje ao Presidente da República, mas porquê? Porque eu falo? Não, eu não concordo, já não assino mais nenhum documento de presença periódica no SIC”, atirou.
O ativista, que diz temer pela vida e atribui responsabilidades ao Presidente da República, João Lourenço, salientou que irá estar fora de casa e está disponível a arcar com as consequências.
O acampamento “que montei deve durar até eu ser capturado pelo Governo criminoso do MPLA (partido no poder), com os seus métodos arcaicos e medievais, porque eles comigo não querem falar, a única coisa que querem é me meter na cadeia”, frisou.
Segundo o ativista, João Lourenço é um “Presidente ilegítimo, não eleito pelo povo”, a quem acusa de ter “roubado o voto popular e o sonho dos angolanos”.
“Ele (o Presidente angolano) usou instrumentos coercivos, nomeadamente a presença musculada da polícia e as forças armadas angolanas, incluindo os serviços secretos, para se manter no poder, não vou obedecer leis injustas, medidas de coação porquê?”, questionou.
`Gangsta` criticou também os agentes do SIC por fazerem recurso o que classifica de “método de pressão como terrorismo psicológico”, nomeadamente junto das suas irmãs, detidas e interrogadas recentemente sobre o seu paradeiro, ambas, no entanto, já em liberdade.
O que motivou esse alarido de que estaria em fuga “foram os últimos `lives` que estou a fazer”, explicou, salientando: “o SIC diz que continuo a instigar a desobediência civil e ultraje à figura do Presidente da República”.
Disse ainda que o seu apoio à Frente Patriótica Unida (FPU), plataforma eleitoral constituída pela UNITA, Bloco Democrático e o projeto político PRA JÁ Servir Angola, na campanha eleitoral de 2022 constitui uma das principais razões do SIC “intensificar essa campanha de ataques” contra si.
“Porque do ponto de vista cronológico, eu entro sob medidas de coação no dia 31 de março de 2022, eu não poderia sair de Luanda, mas mesmo assim acompanhei a campanha da FPU e isso gerou na consciência do MPLA e do pessoal do SIC uma raiva inflamada”, realçou, concluindo: “Eu temo pela vida, claro, mas deixar claro que se eu morrer quem me matou foi o João Lourenço”.
Fonte: RTP