Os membros da Associação Industrial de Angola (AIA) apontaram a realização de um estudo de viabilidade para a construção de ramais de ligação entre os principais centros de produção de grande escala e o Corredor do Lobito como uma das prioridades, com vista a maximizar os ganhos económicos daquela imponente infra-estrutura ao serviço da economia angolana e da região austral do continente.
A mensagem foi passada por intermédio do presidente da referida associação, José Severino, quando apresentava uma panorâmica sobre as grandes oportunidades que se abrem para o país tirar proveito das suas vantagens comparativas no domínio dos recursos minerais, numa altura em que a Europa procura por novos mercados para obtenção de recursos energéticos, face ao diferendo diplomático e comercial com a Federação Russa e a China.
O Corredor do Lobito, na opinião de José Severino, não pode ser visto apenas como um activo ao serviço das localidades por onde passa a sua linha ferroviária (Benguela, Huambo, Bié e Moxico), porque o seu potencial económico tem alcance directo nas províncias fronteiriças da Huíla, Cuanza-Sul e Malanje, que deverão expedir as suas valências de produção por meio de futuros ramais, no sentido de exportá-las quer para a RDC, Zâmbia, quer para outros continentes por via do Porto do Lobito.
“Nós temos aí muitos recursos,um deles seria a reflorestação, outro é a Barragem de Lomaum, que pode fornecer energia eléctrica a Benguela,particularmente ao Cubal e à Ganda, que são autênticas cidades que precisam de ter energia. A Ganda sempre teve agro-indústria, com duas grandes fazendas que exportavam produtos para a Espanha. Temos a celulose e outros grandes recursos. Para quem não conhece, quando se fala do Cubal e da Ganda fica com a ideia de que são apenas vilas, sem depreciação das demais localidades, mas são cidades”, assegurou.
O responsável da AIA tem noção de que o foco e interesse das grandes potências são os minerais, mas reitera a sua visão segundo a qual outros produtos jogarão um papel relevante nas trocas comerciais, ao tomar como exemplo que “nós precisamos de levar sal da Baía Farta, que produz grandes pilhas, mas precisam de ser escoados, ao invés de ficarem apenas expostas aos nossos olhos”.
“Entre a Baía Farta e o CFB se devia estudar a construção de um ramal para se fazer um comboio de sal, cimento, entre outros produtos de grande valor comercial”, disse.
Subsídios aos combustíveis
A AIA sugere que a retirada dos subsídios aos combustíveis deve ser feito por pequenos aumentos regulares do preço, de modo a que o mercado se consiga ajustar e evitar grandes impactos susceptíveis de criar constrangimentos aos operadores económicos e aos cidadãos.
O presidente da AIA deu a conhecer que um estudo recente revela que a maior preocupação está relacionada com o preço do gasóleo, que é o combustível de excelência na actividade de contrabando, porque é de grande utilidade nos transportes e na indústria.
“Há estudos para se continuar a subsidiar a Agricultura as Pescas, porque a camionagem não olha muito para o gasóleo. O que a camionagem reclama é o estado das estradas. Propusemos que a Sonangol disponibilize muito mais vagões para reduzir aquilo que é o transporte rodoviário, que é o mais longo, mais caro e contribui para deteriorar as estradas em menos tempo”, disse.
Produção de calcário
Por outro lado , o presidente da AIA considerou “preponderante” a implementação de um programa extensivo virado para a produção de calcário destinado ao tratamento de água potável, e a extracção de calcário dolomítico para a correcção dos solos para o aumento da produtividade de bens agrícolas de amplo consumo.
O líder industrial assegura que este procedimento vaipermitir ao Estado deixar de gastar todos os anos somas avultadas em dinheiro com a importação desta matéria-prima essencial a partir da África do Sul, assim como fazer com que os campos agrícolas no Centro e Sul do país forneçam uma quantidade superior de produção por cada hectare, na perspectiva do alcance da auto-suficiência alimentar tão almejada pelo Executivo.
Reforçou que o subsídio aos preços dos adubos por parte do Executivo não tem resultado no aumento exponencial da produtividade devido à falta de calcário para a correção dos solos, sobretudo nas unidades produtivas do Centro e Sul do país, caracterizadas por uma grande acidez.
De acordo com José Severino, a aplicação do adubo sem se proceder à correcção dos solos “é quase uma inutilidade”, motivo pelo qual muitos camponeses, por desconhecimento, mostram desinteresse pelos fertilizantes,porque acham que não têm rendimento, quando “o problema é que os solos não são corrigidos”.
“Fizemos uma proposta no Orçamento Geral do Estado (OGE) para que o calcário seja subsidiado e haja a construção de fornos para o produto, e do que apelamos à empresa Sonagol, como resultado temos o projecto de fertilizantes do Soyo, que já entrou em funcionamento”, frisou.
Fonte: JA