A UNITA, maior partido na oposição, refere que o MPLA vivencia um período de crise grave de liderança, e antevê que João Lourenço poderá ser substituído da liderança do partido no Congresso Extraordinário marcado para Dezembro próximo. O partido de Adalberto Costa Júnior sustenta sua previsão por um lado pela convocação de um conclave não previsto numa altura em que o congresso nos timings estatutários deve ocorrer em ano e meio, bem como o surgimento de anúncios de candidaturas antecipadas ao nível dos ‘camaradas’, um facto nada tradicional nas hostes do partido com sede na Avenida Ho Chi Minh.
Entretanto, a própria UNITA, que adivinha convulsões em ‘quintal alheio’, também não terá se esquecido ainda da crise que vivera entre 2021 e 2022, em que Isaías Samakuva parecia estar a liderar uma UNITA paralela à da direcção, o que gerou ataques verbais violentos (nas redes sociais) entre os militantes do partido, concentrados em trincheiras opostas. Alguns jovens activistas alheios ao partido, também entraram na briga, mas vilipendiando a ala samakuvista.
Se até ao momento o MPLA consegue ludibriar a opinião pública sobre a crise vista pelos ‘maninhos’, a UNITA já deu mostras de não dispor de mecanismo dissuasor que venha a impedir seus militantes a ‘lavar a loiça suja’ fora de casa. E teme-se que o regresso de Isaías Samakuva aos holofotes de forma independente volte a criar um fantasma contra a direcção do partido.
Numa nota de imprensa que deu entrada às redacções, Isaías Samakuva, que já está fora da estrutura directiva da UNITA, convoca a imprensa de forma independente para uma conferência para esta terça-feira, sem detalhar o assunto. O facto já está a criar alergias nos corredores da mais importante infra-estrutura do partido na Maianga, em Luanda.
É que, desde que largou a presidência da UNITA, cargo que ocupou por quase duas décadas, Isaías Samakuva, nunca veio a público demonstrar quer apoio ao partido, quer apoio ao seu presidente Adalberto Costa Júnior. Mesmo em eventos magnos, como foi a longa cerimónia de três dias para enterro das ossadas de Salupeto Pena e Alicerces Mango, mortos na sequência dos confrontos pós-eleitorais de 1992, foi notória a ausência de Isaías Samakuva nos dias em que Adalberto Costa Júnior estivesse presente.
No dia do arranque das cerimónias, Adalberto Costa Júnior fez-se rodear de históricos e de relevantes quadros do partido, bem como políticos agora alheios à UNITA, mas que ainda têm história no partido como é o caso de Abel Chivukuvuku e muitos de seus seguidores. E foi a forma dramática e melancólica como Abel Chivukuvuku, em discurso, lembrou em detalhes como as escaramuças de 1992 começaram em Luanda, e como recebiam as informações de quadros a sucumbirem, e a forma como ele próprio caiu às garras de grupos armados na zona do Sambizanga, que levou a sala aos prantos.
Isaías Samakuva, que a nível interno ainda é tratado por presidente, fez-se presente apenas no segundo dia do evento, dia em que Adalberto Costa Júnior já não se fez presente. O desencontro de ambos, até parece coreografado, registou-se também no Huambo, onde foi a enterrar as ossadas de Alicerces Mango, e igualmente no Bié, onde foram depositadas as ossadas de Salupeto Pena, a escassos metros de onde está enterrado Jonas Savimbi, seu tio.
Para lá desses factos, Isaías Samakuva, mesmo já fora da liderança da organização, passou a ser recebido pelo Presidente João Lourenço, no Palácio Presidencial, para entre vários assuntos e em diversas ocasiões, discutir a situação do país, o melhor modo de trazer a calma face às tensões políticas, sobretudo em 2021, período em que a UNITA era acusada de patrocinar manifestações violentas, e além de se ter deslocado ao Palácio para interceder junto do Chefe de Estado a legalização da Fundação Jonas Savimbi, a pedido dos filhos do fundador do partido.
Entretanto, face ao histórico e a visível relação de proximidade entre Isaías Samakuva e João Lourenço, cresce a incerteza e o cepticismo no seio da direcção e de militantes de base da UNITA sobre o que poderá Isaías Samakuva dizer na tão esperada conferência de imprensa. A tensão interna resulta, como já enunciado, por conta da postura de Isaías Samakuva, que intramuros demonstra estar com a direcção do partido, mas vista de forma oposta fora de suas fileiras…
Fonte: AN