Huambo – A adulteração de idades, por parte de atletas de diversos escalões, está a dificultar o desenvolvimento do desporto nacional, segundo agentes desportivos da província do Huambo.
Ouvidos pela imprensa a propósito do tema “A adulteração de idades no sistema desportivo nacional e africano, com enfoque no futebol”, consideraram ser um sério problema associado ao sub-desenvolvimento e que desprestigia o desporto angolano.
Para o presidente da Escolinha de Andebol do São João do Huambo, Osvaldo Congo, o fenómeno constitui um dos condicionalismos transversais do desporto angolano, por causar inúmeras consequências, do ponto de vista do desenvolvimento técnico e tácticos dos atletas, tendo em conta a sua condição física e idade real avançada.
Por isso, considera necessário e urgente olhar-se para tal realidade com maior responsabilidade, no sentido de se pôr fim a esta prática, motivada por diversos factores.
Apontou o acesso tardio à escola de muitas crianças, registadas em função do nível de escolaridade, como sendo uma das razões, acabando por evoluir no desporto e com poucas possibilidades para a mudança do quadro.
Como solução, sugeriu a melhoria dos serviços públicos, principalmente de registo dos cidadãos, assim como a mudança de consciência de atletas, treinadores e encarregados de educação sobre a necessidade de se absterem destas práticas, além da implementação de um maior rigor na avaliação das idades dos jogadores.
Já o comentarista desportivo Pedro Filemón referiu que o gráfico decrescente do desporto nacional prova as consequências destas atitudes.
Considerou ser comum nas competições desportivas, sobretudo, do continente africano, onde os atletas, com a pretensão de evoluírem para os escalões mais altos, tendem a diminuir as idades, de modo a terem maior credibilidade para ascenderem de categorias.
Conforme o especialista, uma das consequências da adulteração de idades está no facto de condicionar a evolução técnica dos praticantes e a reprovação em testes médicos, tendo em conta o avançar da idade real.
Estas práticas, segundo o antigo jogador de futebol do Ferrovia, Petro do Huambo e Mambroa, têm levado ao encerramento precoce da carreira desportiva de muitos desportistas.
Acrescentou que a situação, resultante da falta de acompanhamento dos jogadores, acaba por desencorajar a classe empresarial em investir no desporto angolano.
Visão sociológica da situação
O sociólogo José Abraão Mulusi afirmou que a adulteração das idades no desporto e no futebol, em particular, é uma continuidade do que acontece hoje nas sociedade, onde as pessoas deixaram de ter confiança umas nas outras.
Explicou que o fenómeno resulta da ânsia de as pessoas atingirem patamares elevados na carreira, sem olhar à meios e à medidas para atingir os fins preconizados.
Segundo o sociólogo e antigo internacional pela Selecção Nacional de futebol, uma pessoa que tenha, por exemplo, 17 anos de idade e que diminuiu para 13, notar-se-á uma diferença abismal nos movimentos e na velocidade, enganando-se a si próprio, os treinadores e a organização desportiva, com consequências gravosas a vários níveis.
José Abraão Mulusi adiantou que tais procedimentos demonstram, em certo ponto, a desestruturação das famílias, pois, na maioria dos casos, contam com a colaboração dos pais, sem medir as consequências da acção.
Esta situação, de acordo com o sociólogo, descredibiliza o futebol e o sistema de justiça nacional a nível internacional, ao revelar o grau de fragilidade, do ponto de vista ético das instituições, daí a necessidade de maior rigor no processo de inscrição dos atletas, como forma de acabar ou inibir práticas de adulteração de idades.
Serviço de identificação civil
O chefe do departamento do Serviço de Identificação Civil e Criminal na província do Huambo, Hélder Paulo Gomes, disse tratar-se de um fenómeno que, nesta região, é mais frequente para os jovens que pretendem incorporar nas Forças Armadas Angolanas.
Regista-se, igualmente, a mudança de mentalidade ou quando alguém assume a identidade de outra pessoa com a finalidade de obter benefícios, com a detenção, em 2022, de cinco casos encaminhados ao Serviço de Investigação Criminal (SIC).
No caso particular do desporto, Hélder Paulo Gomes informou que a instituição dispõe de um sistema capaz de identificar qualquer tentativa de adulteração dos dados, pois o registo de nascimento é feito logo ao nascer.
Depois do registo de nascimento, acrescentou, os dados pessoais são codificados informáticamente e qualquer tentativa de alteração fraudulenta cria duas informação de uma só pessoa e, por conseguinte, bloqueia o sistema até que o visado se dirija ao posto de identificação para repor a legalidade. ZZN/VKY/ALH/MC
Fonte: Angop