A província de Luanda registava um movimento quase normal na manhã desta sexta-feira, dia marcado para o protesto “No Dia 31 Fica em Casa”, embora nalgumas das zonas tradicionalmente mais movimentadas fosse visível uma redução de viaturas e pessoas.
A iniciativa convocada nas redes socais pelo activista Nelson Dembo, mais conhecido por “Gangsta”, denominada “Dia 31 Fica em Casa” que gerou alguma tensão social, ficou, pelo menos durante a manhã, longe das expectativas geradas, mas não se pode dizer que Luanda estava com a normalidade de uma qualquer sexta-feira.
A contribuir para a redução da movimentação de viaturas e pessoas, vendo-se mesmo alguns autocarros e táxis quase vazios, estão, além do protesto “No Dia 31 Fica em Casa”, a coincidência de se tratar de uma sexta-feira de final de mês e a anteceder no calendário um fim-de-semana prolongado, ligando o feriado de terça-feira, 04 de Abril, dia da Paz, e a ponte da segunda-feira pelo meio.
E é neste contexto que, nas rondas efectuadas pelos jornalistas, foi possível confirmar que as principais ruas, paragens e avenidas de Luanda registavam um movimento calmo e normal, sem qualquer registo de perturbação à ordem pública, embora considerando o período festivo do calendário, que inclui ainda o início das férias escolares, para essa relativa normalidade.
Na zona do Shoprite do Palanca, na Avenida Deolinda Rodrigues, e do mercado dos Congolenses, por exemplo, o movimento era calmo, com as habituas presenças de vendedores nos dois sentidos da via.
Nos municípios do Cazenga e Viana, o movimento também estava tranquilo, apesar de se registar alguma ausência de pessoas, sobretudo passageiros, nas paragens do Centro de formação Profissional do Cazenga, na avenida Hoji Ya Henda, e da Ponte Amarela, em Viana.
À imprensa constatou ainda que a comboio do CFL, que faz o trajecto Bungo/Viana, e vice-versa, efectuou o seu trajecto normal com um fluxo de passageiros sem diferenças substantivas para os restantes dias.
Entretanto, cenário diferente registava-se na Avenida 21 de Janeiro, na zona do Rocha Padaria, Vila de Cacuaco, Samba, no sentido multiperfil, e Calemba II, onde era visível uma redução substancial de movimento de pessoas e viaturas.
Na paragem do “Ngoma”, em Cacuaco, não havia registo de falta de táxis desde às primeiras horas deste dia, sendo, como sempre, muitos os que esperavam pelo transporte, mas no Mercado do kicolo, em Cacuaco, registava-se uma falta considerável de vendedores.
Na zona do mercado do km 30, que tem habitualmente enchentes à sexta-feira, e trânsito congestionado, hoje o cenário era distinto, como menos frequência de clientes e vendedores.
Já na praça do “quintalão do Petro”, no Golf II, no município do Kilamba Kiaxi, o cenário era o habitual aos outros dias, dw enchente.
Alguns cidadãos associam a situação calma da cidade ao facto de parte dos estudantes do Ensino Geral estarem de férias e por estarmos em véspera de mais um final-de-semana prolongado, onde muitas pessoas deixam Luanda para locais de repouso ou de regresso às suas províncias, para reverem família e amigos.
Outros referem que devido às várias informações distorcidas, muitos cidadãos e automobilistas preferiram mesmo ficar em casa por uma questão de prudência.
O novo Jornal soube que até perto das 11:00 desta sexta-feira, 31, não havia registo de qualquer perturbação à ordem pública.
Durante os dias que antecederam esta data, nas redes sociais assistiu-se a um duelo de grandes dimensões entre defensores do protesto, com ligações à oposição, maioritariamente, e contra a iniciativa, especialmente de indivíduos com conhecida proximidade ao poder, incluindo alguns jornalistas e figuras públicas sem cargos políticos.
O dia anterior
Após vários dias a circularem nas redres sociais e nos media informações sobre a iniciativa “No dia 31 Fica em Casa, não vamos trabalhar”, a Polícia Nacional (PN) emitiu, na quinta-feira, um comunicado onde garantia que iria responsabilizar criminalmente todos aqueles que provocassem desordem pública.
A manifestação com um pendor pacífico foi marcada pelo activista angolano “Gangsta”, que apela à população para aderir de forma a expor a insatisfação generalizada contra o actual governo e reivindicar melhores condições de vida.
A PN pronunciou-se sobre o assunto dizendo no seu comunicado que ” todos aqueles que persistirem nestas práticas de rebelião e vandalismo, serão responsabilizados criminalmente, porque a situação de segurança pública do País é estável e as forças da ordem estão prontas para darem resposta à qualquer acto que visa perturbar a tranquilidade pública”.
A direcção geral da PN apela às populações, no sentido de não aderirem a este acto, advertindo todos aqueles que estejam envolvidos na promoção desta acção, que poderá alterar a tranquilidade pública, de que a polícia vai actuar em conformidade.
UNITA apoia iniciativa
O Secretariado Executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA divulgou, no início da semana, um comunicado onde manifestava a solidariedade do maior partido da oposição à iniciativa.
Sublinhando que a Constituição legitima esta iniciativa, a UNITA “solidariza-se com a causa dos activistas e apela ao governo para prestar maior atenção às causas da insatisfação e da contestação, generalizadas”.
O partido do “Galo Negro” diz ainda que a justificação para esta iniciativa, com respaldo na CRA, são os “níveis elevados de desemprego, pobreza, alto custo de vida, corrupção institucionalizada e constantes violações dos direitos humanos, agravam a insatisfação e o desespero da juventude com a actual governação”.
E, numa altura em que esta iniciativa ganha tracção nas redes sociais, onde está igualmente a ser fortemente criticada por elementos próximos do poder, o partido de Adalberto da Costa Júnior aproveita o mesmo documento para “condenar veementemente a campanha de intoxicação da opinião pública nacional e internacional, levada a cabo por órgãos do Estado, que visa desvirtuar iniciativas de livre exercício de cidadania, plasmadas na Constituição da República de Angola”.
E os taxistas…
Face a esta iniciativa, as associações profissionais dos taxistas optaram por não aderir.
As associações dizem desconhecer os motivos para participarem no protesto e asseguram ao Novo Jornal, na quinta-feira, que ios “azuis e branco” estariam nas ruas e avenidas a trabalhar como sempre e os dirigentes associativos tranquilizam a população de que haverá táxi nas paragens nos períodos habituais e normais.
Os responsáveis das cooperativas de taxistas, Francisco Paciente, presidente da ANATA, Rafael Inácio, presidente ATA e Bento Rafael da ATL, confirmam que não iriam aderir à iniciativa do activista “Gangsta”.
Os três, dirigentes associativos asseguraram que sensibilizaram os seus associados para não ficarem em casa no dia 31, sob pretexto da paralisação, e garantem estarem prontos para trabalhar normalmente.
Francisco Paciente, líder da maior organização de taxistas do País, a ANATA, que congrega mais de 30 mil taxistas em todo o País, disse ao Novo Jornal que desconhecia as motivações da referida manifestação e sublinha que a agenda neste momento dos taxistas é lutar junto do Governo para que passem a ser inseridos na Caixa Social e que lhes seja atribuído a carteira profissional.
Fonte: NJ