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Crise Rússia/Ucrânia: Presidente dos EUA diz ″não, não, não″ a Putin – Biden respondeu à letra ao Presidente russo: ″A Ucrânia nunca será derrotada!″

Ao contrário do que os seus assessores foram dizendo ao longo do dia, depois do discurso de Vladimir Putin em Moscovo, esta manhã de Carnaval, Joe Biden, na capital da Polónia, Varsóvia, respondeu ao chefe do Kremlin de forma directa e incisiva, dizendo-lhe que se enganou redondamente quando, há um ano, pensou que a Ucrânia e o ocidente se vergariam à sua vontade. Mas o mais relevante foi que o “líder do mundo livre”, como a ele se referiu o seu anfitrião, o Presidente polaco Adrzej Duda, admitiu que o resultado desta guerra vai influenciar tremendamente o mundo de amanhã.

A guerra na Ucrânia foi um teste da Federação Russa à convicção do ocidente e à resistência ucraniana, mas deu-se mal, muito mal, aliás, frisou Joe Biden neste muito aguardado discurso de Varsóvia, embora as expectativas tenham tido escassa correspondência, porque o Presidente dos EUA repetiu aquilo que já tinha dito ao longo do último ano, desde que o conflito no leste europeu começou com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Essa escassa correspondência com as expectativas só não foi mais lata porque Joe Biden disse sem titubear que do resultado deste conflito vai sair um mundo diferente, ou mais livre e democrático, com o triunfo da Ucrânia, ou mais autocrático e ameaçador, se Kiev não sair claramente vencedor, mas não deixou de se comprometer, mais uma vez, com todo o apoio de Washington e dos seus aliados para que a Rússia não saia vitoriosa desta agressão bélica.

“O mundo está num ponto de viragem e as decisões que tomarmos serão fundamentais para o que vai suceder no mundo, caos ou estabilidade, esperança ou medo, democracia ou autocracias, liberdade ou opressão… essas são as escolhas e tudo o que estamos a fazer hoje é para que os nossos filhos e netos possam viver em liberdade”, vincou.

Para Biden, a NATO e o ocidente “estavam a ser testados com esta guerra por Vladimir Putin”,

“Mas não virámos a cara, respondemos… não virámos a cara, mantivemo-nos unidos, ao contrário do que ele pensava que iria acontecer”, apontou Biden directamente ao discurso do seu homólogo russo desta manhã.

E continuou no mesmo tom: “Há um ano, muitos esperavam o colapso de Kiev em dias, mas acabei de chegar de lá e vi a bandeira ucraniana hasteada, o Volodymyr Zelensky ainda é o Presidente da Ucrânia e o país continua independente”.

Depois de na segunda-feira ter feito uma aparição surpreendente em Kiev, junto à Catedral de São Miguel, ao lado de Zelensky, Joe Biden está hoje, terça-feira, e amanhã, em Varsóvia, naquela que é uma visita há muito anunciada e definida como elemento saliente no período em que a guerra cumpre um ano.

“O que está em causa é a liberdade, não só para o povo ucraniano, mas para todo o mundo. Temos de nos opor e dizer “Não, não, não” à tirania… A vontade do povo ucraniano em manter-se livre vai prevalecer… a Rússia nunca derrotará a Ucrânia”, disse ainda o Presidente norte-americano neste discurso mais curto que o esperado.

Um dos chavões repetido uma e outra vez, foi a questão da liberdade que levou os aliados ocidentais a manterem-se lado a lado com os ucranianos, sublinhando que agora a NATO “está mais forte e mais unida que nunca”.

Disse que Putin também se enganou sobre a capacidade ocidental de lidar com a sua chantagem do gás e do petróleo, mas enganou-se “mais uma vez”

A democracia faz o mundo mais forte e não mais frágil, são os autocratas que estão a enfraquecer…”, replicou.

“Nós sabemos o que significa a palavra solidariedade”, como bem sabem os polacos que durante décadas sofreram a ocupação soviética…, uma referência ao sindicato Solidariedade, um dos pilares da resistência polaca ao regime comunista que caiu com o colapso da URSS em 1991.

“Um ano de guerra e Putin já não duvida da nossa força, mas ainda duvida das nossas convicções, de que permaneceremos unidos… mas pode ter a certeza de que estaremos unidos sempre… e ele vai falhar nos seus objectivos”, disparou.

Falando para o povo da Rússia, Biden frisou que “os EUA e a Europa não pretendem destruir a Rússia como disse hoje o Presidente Putin, foi Putin que escolheu esta guerra e ele podia terminá-la rapidamente, parando de invadir a Ucrânia”.

Respondendo ao discurso desta manhã de Vladimir Putin, Joe Biden disse que o ocidente está a armar a Ucrânia porque essa é a forma de garantir que o país se mantém livre e independente, e não porque se quer destruir a Rússia.

Fez uma ligeira referência ao continente africano quando disse que os russos foram responsáveis pelas dificuldades sofridas com a interrupção da passagem dos barcos com cereais pelo Mar Negro, acrescentando que isso criou problemas sérios e apontou como objectivo “ajudar o continente africano, depois das dificuldades criadas pelo bloqueio dos cereais”, embora esse bloqueio tenha sido desfeito já em Outubro de 2022, tendo-se verificado que a esmagadora maioria dos cereais ucranianos seguiram para os países mais ricos e não para os pobres de África ou de outros continentes.

Joe Biden prometeu, conjuntamente com os parceiros ocidentais, mais sanções à Rússia, lembrando que este já é o país com mais sanções alguma vez aplicadas.

“A Ucrânia vai vencer e os EUA e os seus aliados vão continuar a apoiar o país no futuro”, repetiu.

E também repetiu que a NATO se mantém firme assente no seu Artº 5º, que garante que o ataque a um dos membros é um ataque a todos, prometendo defender “todos os centímetros” do flanco leste da NATO, um chavão repetido por todos os lideres ocidentais em visita ao leste europeu.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro de 2022 as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma “operação militar especial”, sublinhando que o objectivo não era (é) a ocupação do país vizinho, condição que evoluiu depois para a anexação de territórios no Donbass mas também as regiões de Kherson e Zaporijia, mas sim a sua desmilitarização e desnazificação e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional.

O Kremlin critica há vários anos fortemente o avanço da NATO para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro, tendo acrescido a esta reivindicação as províncias de Kherson e Zaporijia, depois da realização de referendos que a comunidade internacional, quase em uníssono, não reconhece.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o “império soviético”, que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo, sendo, para o Presidente Volodymyr Zelensky, essencial o continuado apoio militar da NATO para expulsar as forças invasoras.

A organização militar da Aliança Atlântica está a ser, entretanto, acusada por Moscovo de estar a desenrolar uma guerra com a Rússia por procuração passada ao Exército ucraniano, o que eleva, segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, o risco de se avançar para a III Guerra Mundial, com um confronto directo entre a Federação Russa e a NATO, que tanto o Presidente dos EUA, Joe Biden, como o Presidente Vladimir Putin, da Rússia, já admitiram que se isso acontecer é inevitável o recurso ao devastador arsenal nuclear dos dois lados desta barricada que levaria ao colapso da humanidade tal como a conhecemos.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à “operação especial” de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país, mas que agora está concentrada no leste e sudeste da Ucrânia.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas de fora o sector energético, do gás natural e em pate do petróleo..

Milhares de mortos e feridos e mais de 5,5 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.

Fonte: NJ

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