Fome e falta de acesso à educação e saúde estão a levar cidadãos do Cunene, em Angola, a trocar o país pela Namíbia. Apesar dos esforços para ter uma vida melhor, população diz ter sido esquecida pelas autoridades.
Bendita Hifeleoshali diz que a comunidade onde vive, no Cunene, sul de Angola, enfrenta enormes dificuldades, com destaque para a fome provocada pela seca. Outros problemas por ela apontados residem nos setores da Saúde e da Educação.
“Pretendo ir para a Namíbia, sobretudo em Windhoek. É mais ou menos melhor para viver, porque em Windhoek existem aqueles mais velhos que passaram a guerra e recebem um subsídio do Estado, tal como os velhos de idade avançada e as crianças desfavorecidas que também recebem dinheiro do Estado, mas aqui em Angola isso não se verifica”, comentou.
“Tanto faz ter bilhete de identididade daqui ou da Namíbia, mas se tiver que ter o da Namíbia teria, porque lá a vida é melhor do que aqui em Angola”, acrescentou.
José Cambinda é residente na comunidade Oyambo, nos arredores do município de Cuanhama, capital do Cunene. Segundo ele, a população passa por enormes necessidades na região, onde as árvores têm sido usadas para criar salas de aula improvisadas.
Namíbia como solução
Frustrado pela inexistência de soluções, José Cambinda aponta as promessas não cumpridas do Governo que está a levar os angolanos a trocarem a sua terra pela vizinha Namíbia.
“No nosso país, que é Angola, às vezes só falam que é amanhã… E nunca chega [nada] à população. Então, são estas pessoas que estão a correr para a vizinha república da Namíbia. Muita gente tem-se tratado nos hospitais da Namíbia”, salientou.
Mais de 200 famílias no Cunene ainda enfrentam pobreza extrema, muitas por consequência da seca que afeta a região.
Xavier Siwanapenduka, oficial da Comissão de Justiça, Paz e Integridade da Criação da Diocese de Ondjiva, tem dúvidas de que o Governo assegure e proteja a vida dos angolanos, como está estabelecido na Constituição da República.
“Estas famílias das comunidades têm como única fonte de rendimento a agricultura de subsistência, ou seja, a agricultura que depende da chuva“, recorda.
“Estamos a falar de famílias pobres por causa da agricultura, por um lado, mas por outro lado tem a ver com o acesso aos próprios serviços sociais básicos, da educação, da saúde, do registo civil e à própria via de comunicação entre municípios e comunas”, criticou.
Fonte: LUSA