Companhias angolanas deixaram de utilizar o Corredor do Lobito (CL) para abastecer a região Leste com bens alimentares e material de construção civil há já três semanas, devido ao aumento dos preços praticados pelo concessionário dos serviços ferroviários e logística, soube à imprensa.
Esta situação, que começou pouco antes do primeiro carregamento de cobre da República Democrática do Congo para os Estados Unidos da América através daquele que é o maior corredor de desenvolvimento do país, acontece em fase de escassez de meios rolantes para passageiros do Caminho-de-ferro de Benguela (CFB).
São factos que, na óptica de analistas, mostram um CL a duas velocidades, com a necessidade de investimentos também na empresa-mãe.
O transporte de um contentor nos vagões ao serviço da Lobito Atlantic Railway (LAR), o concessionário, passou de 300 mil para três milhões de kwanzas, cerca de 3 mil 320 dólares norte-americanos.
Uma das companhias desistentes, segundo apurou a Voz da América, é a Carrinho, a maior no ramo alimentar em Angola, que estima em dois milhões de kwanzas os custos operacionais por cada contentor nos seus camiões que deixam Benguela em direção às províncias do Leste.
Há também cimenteiras que deixaram de utilizar o CL, segundo o empresário Ermos Cruz, diretor da fábrica de cimento Cimenfort, que traça um cenário de aperto para as províncias afectadas, o Moxico e as Lundas Norte e Sul.
“Um contentor de 20 pés custava 380 mil kwanzas, agora três milhões não chegam, portanto tornou-se impossível usar, é impossível usar nessa fase”, diz aquele produtor.
“Por conta disto, o Moxico não recebe, temos pena porque não temos estrada. Eles são nossos irmãos , não devem pagar pela factura que não é deles”, acrescenta Cruz.
A Voz da América contactou a área comercial da LAR, há já duas semanas, mas não houve qualquer reacção.
Entretanto, fonte da empresa é citada pelo jornal OPAÍS como tendo assumido o aumento dos preços, mas não em proporções avançadas pelos operadores.
Estas e outras dificuldades foram apresentadas ao secretário de Estado para a Indústria, Carlos Manuel de Carvalho, que prometeu levar o assunto ao Governo central.
O economista Alfredo Sapi adverte que está à vista um ciclo prejudicial até mesmo para o Estado, que começa com a falta de poder de compra das famílias.
“Havendo esta subida, as pessoas não estarão dispostas a adquirir aquele produto. E as empresas que contam com o Corredor … não vão ter pernas para andar, vão estar beliscadas”, comenta Sapi, lembrando que as autoridades vão ser confrontadas com o desemprego e falta de receitas a partir deste corredor.
Ainda no Corredor do Lobito, destaque para o dilema da falta de meios para passageiros do CFB na variante Huambo/Bié/Moxico, o que leva utentes a viajar em janelas e até mesmo sobre as poucas carruagens que circulam.
O ativista cívico e utente Mwana África faz a descrição de imagens que se tornaram virais nas redes sociais.
“Vemos que muitos cidadãos perdem os seus membros inferiores na tentativa de conseguir pegar o comboio, não havendo bilhetes. Há também casos de morte por causa desta desorganização institucional da direcção do CFB”, relata aquele ativista.
Em nota distribuída à imprensa, a Comunicação Institucional do CFB demarca-se do cenário de passageiros em más condições e anuncia um investimento milionário na recuperação de carruagens fora de serviço devido a avarias.
Fonte: VOA