O ex-dono do JN, DN e TSF é credor de 2,5 milhões de euros da insolvente gráfica sintrense detida pelo antigo presidente do BES Angola, que viu as suas contas arrestadas e a eletricidade cortada.
Fundada em 1972, a indústria gráfica Printer Portuguesa foi vendida em 2012 pelo grupo alemão Bertlesmann ao empresário luso-angolano Álvaro Sobrinho, cujos bens e contas bancárias tinham sido arrestadas em Portugal no ano anterior.
“Desde a sua aquisição que a Printer não só nunca atingiu o ‘break even’ como, pelo contrário, todos os anos teve prejuízos e necessidade de fundos do acionista”, realça a empresa, na petição inicial de insolvência, que foi decretada a 3 de julho passado.
Logo aquando da aquisição da gráfica, Álvaro Sobrinho “prestou uma garantia bancária de três milhões de euros” para “assegurar os postos de trabalho e questões laborais que pudessem vir a acontecer”, explica o empresário no mesmo documento, a que o Negócios teve acesso.
Entre 2012 e 2022, recorda, “foram investidos cerca de 14 milhões de euros na Printer, para fazer face a investimentos (aquisição de novo equipamento, nomeadamente máquinas de acabamento, estampagem e impressão) e para fazer face a necessidades de tesouraria”, porquanto a empresa apresentava resultados negativos ano após ano.
Até que em 2022 as contas da Printer foram arrestadas por ordem do juiz Carlos Alexandre, no âmbito de um inquérito em que é visado Álvaro Sobrinho, que detém 100% da empresa, dos quais 50% de forma direta e os restantes 50% por via da sociedade Antão Vision Acquisitions, SGPS, que é detida a 100% por si.
“A partir de março de 2022, por causa da exposição mediática a que Álvaro Sobrinho foi sujeito no âmbito do inquérito, as regras de ‘compliance’ começam a dificultar algumas relações comerciais da Printer”, relata a empresa, em sede de insolvência.
“Porém, o maior problema foi causado pela decisão de manter as contas arrestada até hoje. Sem fundo de maneio, a Printer não consegue garantir a operação”, afirma, concluindo que, “fundamentalmente por motivos que lhe são alheios, encontra-se atualmente nesta situação dramática”.
Alega que, “não tendo sido constituída arguida, suspeita ou sequer inquirida nos respetivos autos de foro criminal”, o arresto das contas bancárias da empresa “teve como efeito imediato a paralisação total da sua atividade comercial”. Resultado: “A impossibilidade de efetuar pagamentos aos fornecedores, Estado e, acima de tudo, aos mais de 100 trabalhadores de uma empresa histórica em Portugal, foi a causa direta da presente insolvência”, assinala.
Em síntese, conclui, ao decidir arrestar as contas bancárias da empresa, “o tribunal competente para o procedimento criminal sentenciou igualmente a morte/insolvência da Printer, mas, acima de tudo, colocou em causa os mais de 100 postos de trabalho de uma empresa com mais de 50 anos de história em Portugal”, volta a enfatizar.
Acresce que “no dia 20 de setembro de 2023” a Printer “sofreu um ataque informático, nomeadamente ‘ransomware’, que afetou de forma substancial o normal funcionamento da empresa, fazendo mesmo parar a operação”, tendo “dificultado por isso também agora a agregação da informação necessária para dar entrada ao pedido de insolvência”.
Um ciberataque que causou à gráfica de Sintra “tantos danos, muitos irreparáveis, pois nunca conseguirá recuperar toda a informação destes últimos 50 anos”, pelo que, “neste momento, as contas de 2021 e 2022, apesar de fechadas, não estão auditadas, pois faltam elementos que a requerente está impedida de retirar do sistema”, alega.
Ainda que não auditadas, as contas desses anos plasmadas na petição inicial de insolvência da Printer registam uma faturação de 9,1 milhões de euros em 2022, mais 2,3 milhões de euros do que no ano anterior, para um prejuízo acumulado, só nesses dois exercícios, de mais de 1,6 milhões. Sem revelar contas de 2023 nem de 2024, apenas realça que, “nos últimos anos, as exportações representaram 64% da faturação da Printer”.
Por último, “em abril de 2024 a empresa fornecedora de energia elétrica à requerente cancelou este serviço, o que foi a machadada final na sua atividade, tendo então sido decidido encerrar as instalações por motivos de segurança dos trabalhadores”, remata a empresa de Sobrinho.
Decretada a insolvência, a Printer indicou uma lista de credores, para um volume de dívida sinalizado da ordem dos 27,3 milhões de euros. Ainda a decorrer o prazo para a reclamação de créditos, a lista final – que poderá ainda ser impugnada – é da responsabilidade do administrador de insolvência nomeado para o efeito, Jorge Calvete.
E quem são os maiores credores da Printer? À cabeça, a grande distância dos demais, está o próprio Álvaro Sobrinho, que diz que tem a haver 20,9 milhões de euros. Acontece que se trata de créditos subordinados, a título de de prestações acessórias de capital e suprimentos injetados na empresa, o que lhe dá um papel absolutamente secundário em assembleia de credores.
Pior: sendo a Printer apenas dona do imóvel, a sua liquidação, que é o cenário mais expectável, deverá dar muito pouco dinheiro para distribuir pelos credores, sendo os créditos subordinados os últimos a serem satisfeitos.
De resto, dois fundos de investimento sediados nas Bahamas, o Sithma Fund e o World Opportunity Fund – que controlava, ainda há pouco tempo, a Global Media, dona de meios como o JN, DN, O Jogo e a TSF – têm a haver 2,5 milhões de euros cada. Entre outros, a Printer refere que deve 207 mil euros à Segurança Social, 120 mil ao Fisco, 140 mil à EDP e outros 140 mil à Inapa.
Fonte: Negócios