O “sonho da casa própria” continua a ser dificultado pela subida dos preços dos materiais de construção que tem travado projectos de auto-construção dirigida no País. Moeda fraca e inflação em alta prejudicam construção.
Os preços dos materiais de construção subiram 24,8%, entre Março de 2023 e o mesmo período de 2024, com o cimento a ser o que mais subiu, apontam dados do Índice de Preços dos Materiais de Construção (IPMC), divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
E se em termos homólogos os preços subiram quase 25%, em Abril face a Março registou-se um aumento de 2,2%.
À semelhança do que acontece com os bens de consumo corrente, como a alimentação, também os preços dos materiais de construção têm sido afectados pela situação macroeconómica do País, com uma moeda fortemente desvalorizada e uma inflação galopante que, só em Luanda, está hoje próxima dos 40,0%.
No caso dos materiais de construção, em termos homólogos, o cimento e aglomerantes foram os que registaram maiores aumentos de preços (54,3%), seguido pela classe da madeira e contraplacado (23,3%) e betão pronto (18,1%).
De acordo com especialistas, a indústria cimenteira no País tem sido fortemente afectada pela conjuntura económica e tem estado a ver a sua produção em queda já há alguns anos. Ou seja, além das questões relacionadas com a desvalorização da moeda e da inflação também há que ter em conta a queda da oferta, o que faz cumprir a lei de mercado em que oferta inferior à procura faz disparar os preços.
Estes são indicadores nada positivos para o “sonho da casa própria” das famílias angolanas.
Futuro sombrio
Profissionais da área dos materiais de construção são unânimes em afirmar que os preços deverão disparar ainda mais até ao fim do ano, devido a uma combinação de factores: económicos, inflacionistas, cambiais e sociais. E a isto junta-se a fraca qualidade dos serviços de fiscalização no controlo e acompanhamento dos preços dos materiais de construção.
A Associação dos Empreiteiros da Construção Civil e Obras Públicas de Angola (AECCOPA) salienta que nem mesmo aquando do lançamento do Programa de Reconstrução Nacional, que transformou o País num canteiro de obras logo após o fim do conflito armado e no auge do sector imobiliário, o preço dos materiais de construção atingiu preços tão especulativos como nestes últimos dois anos.
De acordo com Luís Salvador, responsável da associação, não existe carência de cimento no mercado nacional, na medida em que o produto é facilmente localizado nas lojas, mercados informais e em muitas esquinas nos bairros como um negócio de oportunidade. Por isso, chama a atenção do Executivo no sentido de iniciar um programa nacional de auscultação, com intervenção directa do Ministério das Obras Públicas, Urbanismo e Habitação, relativo à temática do preço do cimento e dos materiais de construção, no geral, que tem estado na origem do adiamento de inúmeros projectos de auto construção dirigida.
O IPMC é um indicador económico que reflecte a variação dos preços dos principais materiais que intervêm na actividade de construção e transformação de edifícios para qualquer fim, entre a promoção imobiliária, engenharia civil, trabalhos especializados de construção, como demolição e preparação dos locais de construção, instalação eléctrica, acabamento de edifícios e outras obras.
Fonte: Expansão