A pressão da falta de oferta continua a empurrar os preços para cima, associado a isto está a subida de preços do gasóleo e dos transportes colectivos. Inflação homóloga nacional já está acima dos 28%. Já em Luanda a situação é ainda mais preocupante, uma vez que os preços subiram 38,9%, em Abril.
O Banco Nacional de Angola (BNA) reviu em alta a meta de inflação para 2024, prevendo agora uma taxa de 23,4% até Dezembro, face à taxa de 19% anteriormente prevista. Mas o facto é que a meta do BNA está longe da trajectória da taxa inflação que se tem verificado desde Maio do ano passado, já que em Abril deste ano a taxa inflação homóloga fixou acima dos 28% com uma tendência crescente nos próximos meses, o que torna a meta do banco central demasiado optimista para actual cenário económico que País enfrenta, de acordo com especialistas consultados pela imprensa.
A revisão em alta da previsão de inflação para 2024 do BNA é justificada, essencialmente, pela subida de preços do gasóleo e dos transportes colectivos urbanos de passageiros, assim como pela inércia inflacionista, ainda assim pouco realista segundo alguns especialistas.
Além da subida de preços do gasóleo e dos transportes, a pressão da falta de oferta continua a empurrar os preços para cima. Tal como noticiou à imprensa na edição anterior, nos primeiros quatro meses deste ano o País gastou 4.479 milhões USD em importação de mercadorias, o que compara com os 5.165 milhões registados entre Janeiro e Abril de 2023. Trata-se de uma queda de 13%, equivalente a menos 686 milhões USD. Menos oferta e procura em alta, tendo em conta que a população cresce a 3,1% ao ano, empurra os preços para cima. E a tudo isto junta-se a especulação.
Assim, para o economista e director do Centro de Investigação Económica da Universidade Lusíada (CINVESTEC), Heitor Carvalho, a meta do BNA é muito optimista, considerando que é pouco expectável que se assista uma redução da taxa mensal necessária para que a inflação homóloga vá caindo todos os meses até final do ano a “bater” na projecção do BNA. “Nós também já fomos habituados a números incongruentes que saem de vez em quando. Mas eu creio que, neste momento, o grande problema do INE e da inflação não são números incongruentes, mas é a questão de que quando há variações muito grandes da inflação, o INE deve ter uma segurança qualquer para não publicar dados de inflação muito elevados e, por isso, não deixa pôr uma inflação mensal muito grande”, disse o economista.
Assim, para Heitor Carvalho, tendo em conta também a redução das importações que se tem verificado, o País não vai registar tão cedo uma redução da pressão das importações sobre a inflação. “Portanto, eu não creio que se consiga chegar aos 23,4% de inflação”, acrescentou.
O economista Wilson Chimoco também partilha da mesma opinião e aponta que além da meta do BNA ser muito optimista, é de difícil alcance. “Tem de se assistir a uma revolução na cadeia de fornecimento de produtos para que tal meta seja alcançada. E, francamente, não vejo como”, disse.
Os números mais recentes do INE apontam que o custo de vida a nível nacional aumentou 2,6% em Abril face a Março, tratando-se do valor mais alto desde Agosto de 2016, ao passo que o ritmo anual de aumento do custo de vida está a subir há 13 meses, registando uma taxa de 28,2% em Abril, tratando-se da taxa de inflação homóloga mais alta desde Junho de 2017. Já na capital do País a situação é ainda mais preocupante, uma vez que face a Abril do ano passado os preços subiram 38,9% em Luanda e, em termos mensais, cresceram 3,3% face a Março, tratando-se da taxa de inflação homóloga mais alta desde Fevereiro de 2017, quando atingiu os 39,5%.
Recordar que no ano passado o BNA viu-se obrigado a rever a meta de inflação duas vezes, tendo as suas três previsões para o ano falhado já que a taxa de inflação em 2023 ficou acima dos 20%.
13º aperto da política monetária desde 2014
Para combater a trajectória crescente da taxa de inflação que se verifica desde Maio do ano passado, o Comité de Política Monetária do BNA voltou a apertar a política monetária ao elevar a taxa de juro directora (taxa BNA) para 19,5% face os 19,0% anteriormente definidos, bem como o coeficiente de reservas obrigatórias em moeda nacional para 21%. Com este aperto, o BNA pretende retirar liquidez à economia, já que elevou as taxas de juros directoras que servem de referência ao mercado monetário interbancário. Este é o 13.º aperto da política monetária desde 2014, segundo cálculos da imprensa.
Fonte: Expansão