O Governo de Washington anunciou o afastamento de Tulinabo Mushingi do cargo de embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Angola. Para o seu lugar foi indicada Abigail L. Dressel.
O mandato de Tulinabo só terminaria no próximo ano. O afastamento foi tornado público dias depois de a oposição angolana ter feito duras críticas ao diplomata e à administração de Joe Biden, a quem acusa de ter “dupla face” nas questões sobre Angola. O líder da UNITA afirma que os governantes norte-americanos, quando visitam Angola, recusam encontros com a sociedade civil e com a oposição. E atribui a culpa ao embaixador Tulinabo Mushingi.
Adalberto Costa Júnior acusa ainda o Governo dos EUA de ignorar as “más práticas” governativas do Executivo de João Lourenço em detrimento das questões económicas. “A atual Embaixada dirige o modelo de cooperação partidário. Os governantes que vêm aqui falam apenas com o Governo partidário do MPLA. Recusam encontros com as organizações da sociedade civil, recusam encontro com a pluralidade. Isso é responsabilidade de quem está aqui também a fazer um mau trabalho para aquilo que é uma representação de um país onde há separação de poderes”, afirma Adalberto Costa Júnior.
Uma fonte da embaixada dos EUA esclareceu, entretanto, que as críticas ao diplomata não tiveram influência na mudança do chefe da missão diplomática.
O anúncio da intenção de nomear a diplomata Abigail Dressel é um procedimento normal. Tulinabo Mushingi vai terminar o mandato no fim deste ano.
“Questões económicas em jogo”
O jornalista e analista político José Gama diz que a administração norte-americana prefere “fechar os olhos” aos problemas que preocupam os cidadãos porque está em “lua de mel” com Angola por conta de alguns projetos económicos – como a gestão do Corredor do Lobito, um projeto estratégico para o comércio regional. “Enquanto tem esse compromisso com Angola, eles [os EUA], procuram não incomodar Angola. Angola vai cometendo atrocidades contra os ativistas, violação às liberdades fundamentais, agressão política contra os opositores, limitam as ações das ONGs.
Portanto, os EUA optaram por relacionar-se com Angola apenas no campo económico e não perturbar Angola nas questões sociais, direitos humanos e outros valores” avalia. José Gama diz que durante a sua missão em Angola, o diplomata americano não foi isento nas questões políticas do país. E lembra que até chegou a usar o ‘slogan’ do partido no poder no país, quandoelogiava a sua governação. “O que se exige de um diplomata é a total isenção. Nesse aspecto, o embaixador norte-americano não soube cumprir com o seu papel. Por isso é que a oposição angolana passou, desde então, a olhar com reservas as suas posições e passou a ser visto como um elemento que estivesse a favorecer uma das partes, que é o Governo angolano” diz o analista político.
Oposição pode ter influenciado o afastamento
O politólogo David Sambongo entende que a crítica de Adalberto Costa Júnior terá influenciado a exoneração do chefe da diplomacia norte-americana em Angola e fala dos excessos de Tulinabo. “É também muito notório o grau de exposição política do embaixador Tulinabo Mushingi. É um embaixador que, por exemplo, no período do CAN, excedeu-se muito ao colocar equipamento da Seleção Nacional de Futebol, a aparecer em muitos eventos e com posicionamentos muito próximos do Governo angolano, quando ele deve fazer diplomacia, deve apenas agir na linha de governação do seu país que é os Estados Unidos da América.” As críticas de angolanos ao embaixador americano poderão manchar a carreira de Tulinabo, considera José Gama.
O jornalista afirma, por outro lado, que o diplomata – que poderá deixar o país a qualquer momento – terá de ser mais cuidadoso nos seus pronunciamentos. “Porque isto vai lhe prejudicar em termos de reputação diplomática e também pode lhe prejudicar lá nos Estados Unidos. A figura que trata dos assuntos de Angola, Zâmbia e Namíbia, que é uma única pessoa, pode depois estar a prestar atenção nele e tentar perceber porque que é que ele está a ter estes pronunciamentos virados ao Governo de Angola e ser criticado por um partido com assento no Parlamento,” conclui. A DW tentou contactar a Embaixada dos estados unidos em Angola sobre o assunto, mas não obteve qualquer resposta.
Fonte: DW/AN