Angola espera retornar aos mercados internacionais ainda este ano com a emissão de títulos de dívida em moeda estrangeira, também conhecidos como eurobonds, avaliados em 1.000 milhões USD, disse a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, em Washington DC (EUA), à margem das reuniões de Primavera do FMI e Banco Mundial.
Caso se concretize, a emissão ficará 5 vezes acima do previsto no Plano Nacional de Endividamento, que assinalava necessidades de 246 mil milhões Kz em eurobonds (o equivalente a 204 milhões USD no início do ano, quando o plano foi divulgado). Caso o Governo decida avançar para a emissão de eurobonds no valor anunciado pela ministra das Finanças, os detentores dos títulos de dívida pública em moeda estrangeira passarão a ser, juntamente com o China Development Bank (a quem Angola deve 10,1 mil milhões USD), os maiores credores individuais do País.
Até ao momento, Angola emitiu um total de 9,1 mil milhões USD em eurobonds. Vera Daves de Sousa justificou esta possibilidade com o recente aumento dos preços do petróleo, realidade que pode ajudar a reduzir os custos dos financiamentos para Angola.
Os yields da dívida angolana, que na prática significam os juros que os investidores estariam dispostos a cobrar para emprestar dinheiro, rondam actualmente os 10,7%, muito elevados, por exemplo, face ao que Angola paga pelos empréstimos às instituições multilaterais como o FMI ou o Banco Mundial.
Mas, caso o preço do petróleo continue a subir nos próximos tempos, a tendência das yields será baixar, sinalizando uma descida do risco de incumprimento. “Esperamos que isso nos ajude a ter acesso ao mercado a um melhor custo”, disse Vera Daves de Sousa em entrevista à Reuters, acrescentando que o Governo também está a considerar a emissão de títulos verdes ou ESG (Environment, Social and Corporate Governance ou Governação Ambiental, Social e Corporativa, em português).
Sobre os perigos da elevada dívida pública, que continuam a assombrar o Tesouro Nacional, a ministra das Finanças disse esperar que o rácio dívida/PIB, actualmente em 74-75%, desça para 60%. “O nosso plano passa por encontrar uma forma de diversificar até 2027 – por isso esperamos que até essa altura, ou mesmo antes disso, consigamos atingir esse nível”, disse Vera Daves de Sousa.
Vários países da África Subsaariana regressaram aos mercados em 2024, após um hiato de quase dois anos, quando as consequências da Covid-19, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia e o aumento das taxas de juro globais tornaram a dívida em moeda estrangeira proibitivamente cara para a maioria dos países da região.
Fonte: Expansão/AN