A petrodependência continua, já que o sector do oil & gas, apesar da queda das exportações, continua a representar 94% das vendas angolanas, ou seja, por cada mil dólares exportados, 940 USD foram de vendas de petróleo. Já o sector real da economia representa menos de 2% das exportações.
As exportações de mercadorias angolanas encolheram 28% em 2023 para 35.970,3 milhões USD face aos 50.038,0 milhões USD contabilizados em 2022, o que correspondente a menos 14.067,7 milhões USD, segundo cálculos com base num documento do Banco Nacional de Angola (BNA) sobre a evolução do mercado cambial e perspectivas.
Como de costume, a culpa da queda das exportações deve-se ao petróleo, cujas vendas para o exterior caíram 9.834,1 milhões USD (24%) devido à queda não só do preço de mais de 100 USD para uma média de 80 USD, mas também da produção no País que resultou de várias paragens para manutenção programadas e não programadas dos equipamentos nos grandes blocos.
A queda nas exportações provocou uma diminuição nas receitas fiscais, sobretudo as do sector petrolífero, o que conjugado com a manutenção da pressão importadora, bem como da incapacidade em obter financiamentos, quer internos quer externos, empurrou o País para uma crise cambial e de tesouraria, provocando a queda do kwanza para níveis históricos (ver página 22).
Mesmo depois de serem exportados menos 20,7 milhões barris de petróleo bruto no ano passado, devido à queda da produção, ainda assim o sector petrolífero (petróleo bruto, derivados e gás) representa 94% das exportações angolanas, praticamente o mesmo peso que representava em 2022, o que demonstra, o pouco impacto na economia do Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI). Ainda assim, as exportações fora do sector petrolífero e diamantífero cresceram 7% para 642,3 milhões USD, ou seja mais 39,9 milhões USD.
Contas feitas, os sectores da denominada diversificação económica valem menos de 2% das receitas brutas de exportação do País. Face à ao afundanço das exportações petrolíferas o ano passado, isto significa que a diversificação económica está longe de compensar os efeitos negativos que uma quebra de produção no petróleo provoca aos cofres do Estado.
Tal como entende o economista Carlos Lumbo, a queda acentuada no preço e a lenta redução da produção petrolífera no País, vêm intensificar mais o ritmo de queda nas receitas de exportação, que continuam ferem das exportações do “ouro negro”.
Quanto às exportações de bens não petrolíferos, Carlos Lumbo acredita que estes foram precisamente afectados pelo impacto da depreciação do Kwanza, resultante da queda das receitas petrolíferas, na medida em que dependem fortemente de importações. “Lá igualmente o impacto do petróleo”, disse, acrescentado que “infelizmente o PRODESI nunca foi capaz de desenvolver competitividade no para o País”.
As exportações dos minérios (dominados pelos diamantes), cujo peso representa 4% das exportações nacionais, também encolheram. Apesar de o volume de quilates exportados ter crescido, o preço médio dos diamantes exportados caiu 29%, o que levou à queda das receitas brutas com as exportações das pedras preciosas. Assim, no ano passado, as receitas com as exportações de diamantes caíram 19% para 1.571,8 milhões USD face ao período homólogo, ou seja, menos 374 milhões USD. O documento não revela quanto é que o País importou o ano passado – e só se saberá quando o banco central publicar as estatísticas externas relativas ao ano passado – apenas revelando quanto se comprou em bens alimentares em 2023.
Ao todo, a importação de bens alimentares considerados essenciais caiu quase 45%, passando dos 1.526,6 milhões USD importados em 2022, ano eleitoral, para os 841,1 milhões USD em 2023. De acordo com estes dados do BNA, que estão respaldados no site da AGT como as importações de produtos do PRODESI, 25% das importações destes bens essenciais foram coxa de frango, seguindo-se 24% de arroz, 17% de óleo de palma e 13% de açúcar.
Fonte: Expansão