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Petróleo: Agosto de 2022, esta a data a que é preciso recuar para encontrar valores tão altos como os actuais para o barril de Brent

Para encontrar o barril de Brent, que é o que mais importa para as exportações angolanas, aos valores a que está nesta manhã de quinta-feira, 28, mesmo com esta medida a recuar ligeiramente face ao fecho da sessão anterior, é preciso recuar já mais de um ano.

Precisamente um mês e 20 dias, até 08 de Agosto de 2022, quando o barril de crude Brent valia 96,69 USD, o mesmo, mais cêntimo menos cêntimo, que perto das 10:00 desta quinta-feira, hora de Luanda.

E por detrás desta espectacular subida do barril nos mercados internacionais está o resultado directo da política de cortes da OPEP+, soma da organização dos Países Exportadores (OPEP) com a Rússia e mais um grupo de produtores/exportadores normalmente desalinhado mas que integrou o “cartel” desde 2017 para manter os mercados equilibrados em alta.

Com a retirada pela OPEP+ de 3,6 milhões de barris por dia (mbpd) em 2022 e já este ano, ao que se somam 1,3 mbpd por opção unilateral de sauditas e russos, os dois maiores produtores deste “condomínio petrolífero”, os mercados começaram já a sentir fortemente o buraco entre a procura e a enxaguada oferta e os stocks da maior economia e maior consumidor do mudo, os EUA, estão a bater recordes em baixa, perdendo até 20 milhões de barris em escassas semanas.

Face a este dramático risco de afectar a economia mundial a ponto desta poder não ter crude para queimar, os analistas começam já a alertar para o provável efeito perverso de o sucesso do “cartel” poder estar a ditar o seu futuro periclitante, porque uma fragilização das maiores economias industriais pode levar a um menor consumo e um menor consumo pode voltar a tapar o tal buraco a ponto de a oferta voltar a superar a procura. Ou seja, as good news podem revelar-se, afinal, bad news.

A chegada para breve do barril de Brent aos 100 USD é já dado adquirido pelos mercados e pelos analistas, havendo mesmo alguns sectores que apontam já como azimute os 150 USD, como é o caso da JPMorgan, o que é sustentado nas últimas análises da Agência Internacional de Energia (AIE), além da OPEP, que prevê um aumento sólido da procura ao longo de todo o ano de 2023 e para meados de 2024.

Só que uma subida de mais de 30% desde Junho não pode deixar de mexer com as águas neste sector extremamente sensível, até porque todo este “ganho” para os países exportadores, e especialmente para os mais dependentes, como é o caso de Angola, das ramas exportadas para equilibrar as suas economias, está assente em medidas artificiais – a redução da OPEP+, sauditas e russos – e não em dificuldades estruturais de abastecer os mercados.

Até porque se sabe muito bem que a subida dos preços leva à subida dos derivados, como a gasolina e o gasóleo, o que provoca uma retracção no seu consumo, e, com grande regularidade histórica, esta diminuição no consumo resulta na diluição da diferença entre a oferta e a procura, o que acaba por criar o risco de o tiro da OPEP+ acabar por sair pela culatra.

Alias, se se vierem a confirmar as previsões da AIE, e ainda pior, da JPMorgan, o problema pode ser ainda mais sério, porque não só reduzir-se-á o consumo de gasolina nos países mais ricos, mas as economias mais débeis poderão mesmo sofrer impactos estruturais porque alguns sectores serão fortemente afectados, desde logo o dos transportes, mas também das indústrias mais antiquadas que ainda dependem dos derivados do petróleo.

Contas nacionais

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent acima dos 90 USD, e ainda mais relevante se chegar mesmo aos 100 USD, é uma excelente notícia, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

Se continuar assim por muito tempo, as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico.

E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB, revelando-se como um antidoto não negligenciável para o aumento dos custos do pagamento da dívida, especialmente agora que se começam a sentir fortemente os efeitos do fim das moratórias de três anos criadas pelo G20, com a China a ser especialmente importante para Luanda, no contexto do combate mundial à pandemia da Covid-19.

O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola

Fonte: NJ

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