O barril de Brent, a referência principal para as exportações nacionais, está esta manhã de terça-feira, 12, a caminhar para os 100 USD, como, de resto, previam algumas das mais importantes casas financeiras do mundo, e, dentre estas, a estrela de Wall Street, Goldman Sachs.
Como nos foguetões que partem da terra para a órbita terrestre com satélites a bordo ou astronautas para a estação espacial internacional, a primeira secção do combustível que está a impulsionar os mercados foi a decisão estratégica de sauditas e russos de prolongarem os cortes na produção até ao final do ano, o que levou o barril para a casa dos 90 USD pela primeira vez em mais de 11 meses.
Mas o impulso que ameaça levar a medida padrão internacional no negócio da matéria-prima para a estratosfera, onde países dependentes das receitas do petróleo, como Angola, gostam de ser flutuar – embora, no caso angolano, o decréscimo da produção reduza essa “flutuabilidade” -, ou a segunda secção deste metafórico foguetão, foi o recente Outlook da Agência Internacional de Energia (AIE), que aponta para um pico agreste nos gráficos da procura por crude até final da década de 2030 mas com impacto já este ano.
Contrariando os objectivos de retirar os derivados do petróleo da equação económica global para tentar travar a catástrofe ambiental, o mundo parece ignorar a emergência climática e quer é queimar hidrocarbonetos para dar resposta às necessidades da indústria, especialmente das grandes potências a queimar crude e gás, como a China, os EUA ou a Índia.
Isso mesmo surge comprovado no relatório prévio da AIE, que, além do crude e do gás, vê igualmente um pico na procura de carvão nos próximos anos, apontando o estudo, cujo conteúdo cabal será conhecido no início de Outubro, para a ideia de que os combustíveis fósseis estão a resistir à energia verde mas acabarão por claudicar no final da década com a crescente consciência planetária sobre as alterações climáticas e os seus trágicos efeitos, cada vez mais visíveis.
Essa alteração trará grandes alterações ao negócio da energia e os países que hoje dependem da produção de crude. Gás ou carvão, já têm muito pouco tempo para se adaptarem, com a diversificação da economia, porque, depreende-se desta postura da AIE, esta alteração terá um forte cunho exponencial e avançará à velocidade da luz sem que se dê por isso…
Mas a verdade é que, actualmente, assiste-se a um renascer da importância dos hidrocarbonetos, muito por causa da capacidade de manipulação dos mercados da OPEP+ e dos seus principais produtores, como a Rússia e a Arábia Saudita, que, além dos 3,6 mbpd que o “cartel” retirou à produção como ferramenta de controlo dos mercados, assumiram por sua conta e risco mais 1,3 mbpd, tendo agora prolongado esse compromisso até Janeiro de 2024, deixando os mercados pendurados na incerteza.
O que, tudo pesado, leva a que o barril de Brent esteja, esta terça-feira, perto das 12:00, hora de Luanda, a valer 91,31 USD, mais 0,74% que no fecho da sessão anterior.
E, apesar de ser um valor que só tem paralelo em Novembro de 2022, se as contas da Goldman Sachs estiverem certas, o barril deve chegar aos 100 USD ainda neste ano, ou no início de 2024, sendo estas bastante respaldadas pela capacidade crescente da OPEP+ controlar os mercados no seu interesse, manipulando a produção conforme o comportamento da economia mundial.
Situação vista de Luanda
Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent acima dos 90 USD é uma excelente notícia, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.
Se continuar assim por muito tempo, as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico. E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB.
O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.
Fonte: NJ