Na era digitalização, o cliente bancário em Angola que pretender obter um crédito junto da banca comercial não consegue comparar a melhor oferta do mercado através da internet, pois uma boa parte dos bancos não disponibilizam informações completas sobre este segmento nos seus websites, de acordo com uma pesquisa feita pela imprensa.
Acresce que algumas informações disponibilizadas não permitem que o cliente tenha uma ideia de quanto deverá pagar ao banco pelo crédito. É o caso de informações sobre a Taxa Anual de Encargos Efectiva Global (TAEG), que muitos bancos não publicam, e que contempla juros, comissões, impostos e custos com seguros obrigatórios. Fazem apenas referência à Taxa Anual Nominal (TAN), que corresponde à soma da Luibor (taxa de referência para empréstimos interbancários) com o spread. Uma outra ferramenta que também ajudaria na pesquisa da melhor oferta de crédito são os simuladores, porém, dos 22 bancos comerciais que actuam no mercado nacional apenas quatro sites têm simulador e destes apenas um funciona correctamente.
O facto de os bancos não disponibilizarem todas as informações relevantes sobre os seus produtos, sendo obrigatório por lei, particularmente sobe os critérios e as taxas de juros associados a diferentes modalidades de créditos é preocupante e é um indicador forte da fraca apetência dos bancos para o crédito, sobretudo a particulares, segundo o economista Wilson Chimoco. “Os bancos têm disponibilidade de informação sobre comissões para contas de custódia, para títulos de dívida pública, e se não têm sobre os créditos é uma indicação pouco positiva sobre a disponibilidade dos bancos em concederem créditos”, referiu.
Para o especialista, muitos são os motivos que levam os bancos em Angola a não concederem crédito a particulares. “Os motivos são vários e são conhecidos. O crédito em Angola não é um negócio por conta dos riscos associados a eles e os bancos, conscientes disso numa realidade como Angola, tendem a procurar evitar o máximo possível de risco”, mencionou.
A realidade do mercado nacional faz com que os bancos apostem os seus recursos em investimentos menos arriscados, mais rentáveis, como os títulos de dívida pública e as operações cambiais com o estrangeiro, em detrimento dos financiamentos. Isto constrasta com as realidades de outros países, onde o crédito é core business do sector bancário, como acontece na África do Sul, Nigéria, em Portugal e em praticamente todo o mundo onde o sistema financeiro está desenvolvido. Chimoco considera que Angola é um caso à parte por conta dos desafios que o País tem. “Não apenas desafios macroeconómicos, mas também desafios de regulamento e de instituições, a eficiência das instituições quando existem, como é o caso dos tribunais e é o caso da existência e operacionalidade da central de crédito”. Ou seja, há um conjunto de constrangimentos que não incentivam os bancos a concederem créditos, considerou. E há outros factores importantes como o facto de os registos de propriedade serem praticamente inexistentes e ser impossível de responsabilizar judicialmente os eventuais incumpridores dos contratos de crédito.
Os juros são altos
De acordo com os preçários dos bancos, dos bancos que nos permitem fazer uma comparação, o BIC é o que apresenta os créditos mais baratos, já que um financiamento pessoal de 5.000.000 por um prazo de 36 meses fica com uma TAEG de 13,89%, o que dará uma prestação mensal na ordem dos 168.728 Kz. Contas feitas, por este empréstimo, e segundo cálculos da imprensa com base nas informações do simulador, o cliente pagará ao banco 6.082.596 Kz por este financiamento, ou seja, custar-lhe-á no final pouco mais de 1 milhão Kz. Já para um crédito automóvel de 10.000.000 Kz, por um prazo de 48 meses, o cliente pagará mensalmente 301.152 Kz, com o banco a receber 4.455.325 Kz além dos 10.000.000 Kz que emprestou. A TAEG é de 20,87%.
Fonte: AN