Em 2022 circularam no aeroporto de Luanda 1,4 milhões de passageiros. A uma média de crescimento anual de 3,4%, como prevê a IATA para África, só em 2093 é que o novo aeroporto atingirá os 15 milhões de passageiros/ano. Objectivo é tornar Luanda num hub de passageiros e mercadorias.
Quase vinte anos de incertezas e dúvidas, e 7.500 milhões USD depois, o novo aeroporto António Agostinho Neto é inaugurado numa altura em que ainda se desconhece quem vai gerir esta infraestrutura apontada pelas autoridades como o trunfo para a viragem necessária que o sector da aviação civil nacional precisa para se tornar uma referência em África.
Para já, a aposta recaiu para uma gestão temporária enquanto decorre o concurso para a escolha do operador, que terá arrancado em Outubro, apesar da quase inexistente informação sobre o processo.
Foi em 2005 que o então Presidente Eduardo dos Santos mandou construir esta infra-estrutura. De lá para cá, muitos foram os milhões gastos, numa gestão pouco transparente. Só em 2015 é que o Tribunal de Contas lançava os números do aeroporto bem como uma avaliação pouco positiva ao desenvolvimento das obras. Até àquela altura, teriam sido gastos mais de 6 mil milhões USD, incluindo infra-estruturas à volta.
Entretanto, já há novos números. Enquanto o actual Governo avança que foram gastos apenas 2.800 milhões USD o que, para o ministro dos Transportes, Ricardo d”Abreu, até “nem é muito” dada a dimensão do projecto, mas segundo cálculos do Expansão os valores são bem superiores, cerca de 7.500 milhões USD. Deste valor, em termos gerais, 4.600 milhões foram pagos à CIF na primeira fase de construção (período de Eduardo dos Santos), 2.840 milhões são do contrato feito com a AVIC para finalizar a obra, e cerca de 500 mil dólares para finalizar ou alterar obras e equipamentos que estão fora do contrato.
A previsão é que a nova “coqueluche” de Luanda venha a receber futuramente 15 milhões de passageiros/dia. No entanto, segundo cálculos do Expansão com base na previsão de crescimento anual de passageiros em África, de 3,4%, feita pela International Air Transport Association (IATA), este número apenas deverá ser atingido no ano de 2093. Ou seja, de acordo com o relatório e contas de 2022, da Sociedade Gestora de Aeroportos (SGA), no ano passado passaram pelo 4 de Fevereiro 1.389.581 passageiros. Com um crescimento de 3,4% todos os anos, em 2093 passariam pelo Novo Aeroporto Internacional de Luanda 14.922.518 de passageiros.
No entanto, as autoridades estão mais confiantes e esperam atingir os 15 milhões de passageiros no fim do período de concessão do da infraestrutura, que será de 30 anos, como avançou à imprensa o ministro dos Transportes. “De acordo com as nossas projecções, que estamos a fazer no processo de concessão, acreditamos que a capacidade de 15 milhões se vai atingir no fim da concessão, 30 anos, portanto.E estamos a ser relativamente moderados”, disse Ricardo Viegas d”Abreu. Isto porque o objectivo passa por “roubar” o fluxo de passageiros que passa pela África do Sul em mobilidade para o continente.
Desafios práticos
No que se refere à comparação com actual aeroporto 4 de Fevereiro há diferenças abismais da forma e da dimensão de trabalhadores necessários para operar. E isto desde as actividades mais técnicas, como por exemplo o controlo de tráfego aéreo, às mais simples como a limpeza (varredura) das pistas, onde por exemplo os trabalhadores terão de estar certificados, que na prática obriga ao domínio da língua inglesa para poderem comunicar com a torre de controlo.
Na primeira fase vão ser instalados 40 balcões migratórios para as partidas e 30 para as chegadas, que se olharmos à necessidade de operar com três turnos (210 trabalhadores), ao que se juntam mais 50% para fazer o serviço das folgas semanais, vemos que a funcionar em pleno, o SME precisa de destacar apenas para atendimento aos passageiros, 315 profissionais.
Fonte: Expansão