Adalberto Costa Júnior, presidente da UNITA, diz que 2022 ficou marcado pela mais renhida disputa eleitoral “em que os vencedores cederam para evitar banho de sangue”, e defende reformas na Comissão Nacional Eleitoral (CNE) “para se acabar com golpes de Estado institucionais”.
O presidente da UNITA, que discursava na cerimónia de cumprimentos de fim de ano, em Luanda, declarou que o “banho de sangue” pós-eleitoral foi “projectado” e pré-anunciado com a exibição de “um portentoso desfile e exibição pública de forças castrenses prontas a agir, para, de entre outros fins, silenciar as forças democráticas da sociedade por outras dezenas de anos”.
ACJ destacou, no seu discurso, que “apesar da batota”, o seu partido conseguiu “formatar, pela primeira vez em 45 anos, um Parlamento que retirou a maioria qualificada do MPLA”.
Segundo o líder UNITA, por causa de uma “visão inclusiva, anunciada e explicada” dentro e fora do país, o seu partido obteve, “em nome e no interesse das forças democráticas uma das mais significativas vitórias depois da paz armada”.
“O regime construiu-se na cultura da hegemonia e os tempos apontam para a reforma das mentalidades e do tudo quero, tudo posso, tudo mando. Por Angola tudo é possível realizar abraçando a cultura do diálogo e a reforma incontornável do Estado partidário”, reforçou.
Adalberto Costa Júnior deixou a garantia de que a UNITA e os seus parceiros da Frente Patriótica Unida (FPU) não vão abdicar de “exigir” que o Presidente da República seja eleito directamente pelos cidadãos e “não à boleia de eleições para o parlamento”.
E defendeu uma reforma na Comissão Nacional Eleitoral: “A CNE deve, neste ciclo legislativo, ser alvo de medidas de reforma prioritárias, de maneira a acabarmos com os golpes de Estado institucionais”, declarou.
Para Adalberto Costa Júnior (CJ) este foi um ano de “sucessivas batalhas, do retorno às prisões políticas de jovens activistas e de intimidações de todo o tipo”.
“Tentativas de supressão do direito à livre expressão dos jornalistas, do vilipendiar dos direitos dos professores e estudantes por condições mais dignas e salários mais justos” também se sucederam, segundo ACJ, que afirmou igualmente que “foi um ano em que continuou esquecida a agricultura familiar e o apoio às micro e pequenas empresas”.
Criticou, na sua intervenção, a proposta governamental de aumento do número de municípios angolanos, que deve sair dos 164 para 581, considerando que a mesma visa “alterar os círculos eleitorais para melhor esbater o voto urbano, de protesto, com desenhos administrativos em que é o governante que pretende reorientar o voto”.
A UNITA e seus parceiros, garantiu, “não abdicarão de exigir a subida para dois dígitos, realizáveis, do Orçamento Geral do Estado (OGE) para a educação e saúde e de exigir que o Presidente angolano seja constitucionalmente limitado em contrair dívidas sem autorização do Parlamento e adjudicar contratos sem concursos transparentes”.
Para o presidente da UNITA, o País transita para 2023 transportando na bagagem a “crença de que a alternância em Angola” está ao alcance, desde que se reconfigure “a conjugação dos mais amplos esforços da sociedade, ávida por mudanças e cansada da corrupção endémica, do roubo do património e dos recursos do Estado”.
“Em 2023, teremos de ter uma melhor Angola para todos. Temos de dizer basta às violações das liberdades individuais e dos direitos humanos. Juntos, teremos de ter criado políticas capazes de inverter a rota de fuga dos quadros, especialmente dos jovens que estão a abandonar Angola após as eleições”, afirmou Adalberto Costa Júnior.