Dois reclusos que se encontravam detidos no Estabelecimento Prisional de Viana, em Luanda, evadiram-se ontem daquelas instalações, por volta das 10 horas da manhã, estando em parte incerta, constatou o Jornal de Angola, quando efectuava uma reportagem nas imediações.
Populares que residem próximo daquele estabelecimento prisional, que também testemunharam a fuga dos dois reclusos, disseram ao Jornal de Angola tratar-se da segunda vez, este ano, que tal situação acontece.
António Castilho, que vive no bairro adjacente à Comarca de Viana, há mais de dez anos, disse que durante a fuga dos detidos as pessoas entraram em pânico, devido aos tiros feitos por elementos do Serviço Prisional, em perseguição aos indivíduos, para os intimidar e dissuadi-los do acto praticado.
“Os moradores foram tomados por um grande susto, porque já não estamos mais acostumados a ouvir disparos de armas de fogo com tal intensidade, que se parecia com o ataque a uma localidade ou guerra entre grupos rivais de delinquentes, como acontecia no passado”, disse António Castilho.
Domingas Bandeira, também antiga moradora do bairro, acredita que a fuga daqueles reclusos “deveu-se a uma desatenção dos guardas prisionais nas primeiras horas do dia”.
O porta-voz dos Serviços Prisionais, Menezes Cassoma, num contacto telefónico com o Jornal de Angola, confirmou a ocorrência e disse que neste momento a Direcção do Estabelecimento Prisional de Viana está a trabalhar no sentido de capturar e restituir à prisão os elementos foragidos na manhã de ontem e que se encontram ainda a monte.
Entretanto, uma outra fonte dos Serviços Prisionais disse ao Jornal de Angola que um dos foragidos levou consigo uma metralhadora do tipo AKM e uma funcionária da instituição, supostamente envolvida na fuga dos dois detidos, foi presa ainda ontem.
Os dois indivíduos são reclusos condenados e que cumpriam penas de 14 anos, por crimes de roubo qualificado e homicídio voluntário, segundo fonte dos Serviços Prisionais. Trata-se de Nicolau Catxama “Nico”, 30 anos, natural da Lunda-Norte e então residente em Porto Amboim, província do Cuanza-sul, condenado a 14 anos e sete meses de prisão, por crime de roubo qualificado.
O outro elemento é Jonas Makengo “PJ”, 22 anos, natural do Uíge e residente em Viana, considerado altamente perigoso pela Polícia Nacional, condenado a 14 anos e seis meses de prisão maior, por crime de homicídio voluntário.
Instado a justificar a situação que concorreu para a fuga daqueles detidos, Menezes Cassoma disse que os dois indivíduos, por serem condenados têm características próprias e “adquiriram uma certa confiança das autoridades prisionais, por não representarem perigosidade, nem demonstrarem intenções de se evadirem da prisão”.
Menezes Cassoma disse também que casos de fuga de presos no Estabelecimento Prisional de Viana “não são frequentes”, sendo a última registada em 1997, o que contraria a versão dos moradores da zona. “A partir daquele período, até hoje, nunca mais se registou qualquer ocorrência do género”.
Com capacidade para albergar 2.382 reclusos, neste momento o Estabelecimento Prisional de Viana acolhe 4000 detidos, dentre estes condenados, o que tem provocado superlotação.
O Jornal de Angola apurou que o Estabelecimento Prisional de Viana foi construído para albergar apenas 3.000 reclusos, uma situação que tem concorrido para a superlotação e provocado problemas de saúde nalguns membros da população penal.
As celas da Comarca de Viana foram erguidas para albergar 16 pessoas e neste momento acolhem em média 40 reclusos. Segundo fonte do Jornal de Angola, a instituição recebe diariamente 50 novos detidos, muitos deles de forma preventiva, por causa das tramitações processuais, ficando em muitos casos a aguardar por julgamento por longos períodos, devido à morosidade dos tribunais.