A União Africana (UA) suspendeu, com efeito imediato, o Níger como represália pelo golpe militar de 26 de Julho e exige que os líderes do assalto ao poder em Niamey abdiquem de governar o país, repondo a ordem constitucional, deixando, porém, reticências explicitas sobre uma intervenção musculada externa para reconduzir o Presidente deposto.
Mohamed Bazoum foi deposto pelos militares golpistas a 26 de Julho e mantido encarcerado na Presidência, estando actualmente a ser acusado de traição à pátria pelos lideres do golpe, enquanto a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) está em conversações aceleradas entre os membros para obrigar à reposição pela força da ordem constitucional.
Enquanto não é decidida a data do avanço da força da CEDEAO sobre as fronteiras do Níger, a União Africana tem mostrado menos adesão a uma intervenção externa e as potências ocidentais com bases militares no país, os Estados Unidos e a França, também parecem estar em posições diferentes sobre essa intervenção por parte das tropas da África Ocidental.
Recorde-se que a CEDEAO anunciou a disponibilidade para intervir militarmente dias depois do golpe militar liderado pelo general Abdourahamane Tchiani, embora sem que tivesse sido tomada essa decisão definitiva devido à clara oposição de alguns dos Estados-membros e a forte dissuasão posta a circular pelos vizinhos Mali e Burquina Faso, onde decorreram igualmente golpes militares nos últimos dois anos, e da Argélia, cuja posição parece ter feito estancar o passo a alguns países mais inclinados para a acção, fortemente incentivada pela França.
O interesse da França – apesar de fortemente contestada nas ruas por milhares de jovens, muitos deles empunhando bandeiras da Rússia – numa intervenção militar para repor o regime de Bazoum é resultado directo dos interesses que Paris detém no Níger, especialmente nas minas de urânio que alimentam grande parte das suas centrais nucleares de produção de electricidade com combustível atómico.
Alias, o Níger é uma das peças de maior importância no seio da “franceafrique”, designação para a vasta geografia francófona do Sahel onde Pais mantém desde a década de 1960, após as independências, uma forte influência, tanto política como económica e militar.
Depois de ter “perdido” o Mali e o Burquina Faso, ou ainda a Guiné Conacry, igualmente para juntas militares, o Níger aparece como o derradeiro desafio a Paris e através do qual a França pare estar a querer estancar esta sangria.
O Conselho de Paz e Segurança da União Africana, apesar de ter suspenso o país, na reunião que teve lugar esta terça-feira, 22, parece não estar disponível para alinhar com Paris nesta urgência de uma acção militar após o golpe de 26 de Julho.
Para já, tanto a União Africana como os EUA, que têm no país uma base que opera essencialmente drones, apontam como melhor caminho a negociação directa com os golpistas, sendo que a França, com mais de 1.500 soldados no Níger, e a CEDEAO parecem preferir uma intervenção e quanto antes.
Só que, se acontecer essa intervenção por parte da comunidade sub-regional, esta terá de explicar porque é que o faz agora com o Níger, um dos mais pobres países do mundo, com um Exército limitado no seu poderio militar, quando não o fez antes com o Mali, o Burquina ou a Guiné.
Alias, a CEDEAO, em 2016 deu um sinal ao mundo muito claro de que não iria tolerar mais golpes usando como exemplo a também frágil Gâmbia, quando o Presidente Yha Yha Jammeh se recusou a entregar o poder ao vencedor das eleições, Adama Barrow.
Para isso, enviou uma força robusta composta pelo exército senegalês e pela força aérea da Nigéria para as fronteiras da Gâmbia, ameaçando com uma invasão, o que levou, após pequenas escaramuças na fronteira com o Senegal, o Presidente Jammeh a abrir mão do poder de facto que já tinha perdido nas urnas.
Fonte: NJ