No II trimestre do ano passado, 75% das obras estavam paralisadas, ainda assim, melhor do que no mesmo período de 2022, quando 79% das obras que decorriam no País estavam paradas. São os efeitos da crise, juntamente com a falta de divisas, a falta de crédito e a subida dos preços.
Três em cada quatro obras em curso no País estavam paralisadas no final do segundo trimestre de 2023, indicam os dados do Inquérito Trimestral de Avanço e Acompanhamento dos Edifícios em Processo de Construção (ITAEPC), do Instituto Nacional de Estatística, publicados na semana passada.
De acordo com os dados do relatório, entre Abril e Junho do ano passado foram visitadas 3.535 obras em todo o País, das quais apenas 874 estavam em processo de construção, com 2.661 a estarem paralisadas.
O ITAEPC é um indicador do estado do sector da construção em todo o território nacional, que há vários anos tem vindo a registar um desempenho negativo, elevando o pessimismo dos empresários e gestores da construção na evolução da economia no curto prazo, devido, segundo especialistas sobretudo, à recessão económica, à queda do preço do petróleo, às limitações financeiras, à falta de crédito bancário e a uma procura bastante reduzida, o que tem contribuído para a quebra do mercado imobiliário em Angola.
A estes factores acresce também a alta dos preços dos materiais de construção, sobretudo devido à desvalorização da moeda nacional, e os atrasados do Estado às construtoras. Estes, de acordo com as fontes, são alguns dos principais constrangimentos apontados para a paralisação de inúmeros projectos imobiliários um pouco por todo o País.
Durante o período em referência e olhando para a geografia das obras em construção licenciadas em Angola, Luanda lidera a tabela com 255 obras em processo de construção, posicionando-se no topo do mercado imobiliário do País, seguido pelo Cuanza Sul com 153.
O Bié com 82 projectos imobiliários em curso ocupou a segunda posição, enquanto o Huambo aparece na quarta posição com 77 obras e a Lunda Sul com 73, fecha o top cinco das províncias com maior número de obras em construção. Ou seja, na distribuição das obras em construção, destacam-se Luanda com 29,1%, Cuanza Sul com 17,5%, Bié com 9,3% e o Huambo com8,8%.
Entretanto, Benguela, com um total de 722 obras, das quais apenas 11 se encontravam em construção e estavam 711 paralisadas, é a região menos promissora para os promotores imobiliários. Os constrangimentos são os já mencionados. Ainda sobre o mapa das obras em Angola, a província do Uíge, com 459 obras paralisadas, é a segunda região com o maior número de obras licenciadas ociosas. De um total de 488 projectos imobiliários, apenas 29 estão em construção. Cabinda é a terceira circunscrição do País com o maior número de obras paralisadas, cerca de 273.
As obras por propósito estão classificadas nas categorias “para habitar”, com um total de 2.951, “uso próprio” com 481 e “propósito misto” com 103. Na categoria obras para habitar destaca-se Benguela com 23,8% do total, Luanda com 13,2%, Uíge com 11,9%, e Cabinda com 9,6%, respectivamente.
Especialistas são unânimes em reconhecer que a desvalorização cambial tem vindo a agravar ainda mais a crise na construção e garantem que sem dinheiro, ou seja, sem crédito bancário, tanto para os promotores como para os consumidores, será difícil e o mercado vai continuar a arrefecer. Mesmo assim, a esperança a médio prazo reside no facto de o País estar a fazer concessões no sector dos petróleos que permitirão a entrada no País de mais expatriados, o que poderá dinamizar a procura por imóveis novos. “Grande parte das obras em curso ou paralisadas foram concebidas para escritórios e enquanto não houver uma recuperação da produção petrolífera no País, o mercado imobiliário vai ressentir-se da crise”, disse uma fonte do sector.
Fonte: Expansão