Site icon

Situação angolana tem-se degradado e pode originar ″turbulências indesejáveis″

O ex-presidente da UNITA Isaías Samakuva disse esta sexta-feira que a situação socioeconómica de Angola se tem degradado numa “velocidade assustadora”, defendendo medidas “mais activas e dinâmicas” das autoridades, sob pena de se viver “turbulências indesejáveis”.

“É interessante, se de um lado a conjuntura internacional em si é difícil, do outro lado a situação económica e social do nosso país tem-se degradado em uma velocidade que é assustadora e estou preocupado com esta situação”, respondeu à Lusa o ex-presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA, maior partido na oposição).

Isaías Samakuva, que foi o orador da primeira edição do espaço “Reencontro com a História”, promovido em Luanda pelo Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), defendeu medidas mais activas e mais dinâmicas das autoridades governativas para inverter a situação do país.

Para Samakuva, os dirigentes do país “têm noção” da degradante condição socioeconómica dos angolanos, “vê-se que estão a tentar fazer alguma coisa”, que, no seu entender, “não é suficiente”.

“Há que tomar medidas mais ativas, mais dinâmicas, há que envolver muito mais gente que é para as pessoas sentirem que há esperança do amanhã melhor”, apontou.

“Porque se continuarmos como estamos, corremos o risco de depois viver uma fase de descontentamento que leva a turbulências indesejáveis neste momento”, advertiu.

Isaías Samakuva, que liderou a UNITA durante 16 anos, após a morte de Jonas Savimbi em 2002, falou durante hora e meia do seu percurso académico, militar, diplomático e político neste encontro, para uma plateia recheada por estudantes e alguns deputados dos “maninhos”.

Adalberto Costa Júnior, atual presidente da UNITA e cabeça-de-lista do partido nas eleições gerais de agosto de 2022, em que o MPLA, no poder desde 1975, foi declarado vencedor e a UNITA conquistou 90 assentos no parlamento, quase o dobro das eleições anteriores.

Falando pela primeira vez sobre os resultados das eleições de 2022, Samakuva referiu que traduzem o “descontentamento” do povo que “quer mudança ante ao falhanço” das políticas do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola).

“Portanto, há claramente vontade e desejo de mudar, as pessoas estão cansadas, os cidadãos estão cansados, já não aguentam mais, portanto se de facto as coisas não mudam não há dúvidas de que a UNITA, mesmo com fraudes, na próxima eleição pode ganhar”, atirou.

Questionado se a UNITA, partido que dirigiu entre 2003 e 2019, está preparada para ser poder em Angola, Isaías Samakuva referiu que “precisa apenas de oportunidade”, criticando a presença do MPLA no poder em quase meio século, período em que a situação do país “só está a piorar”.

“Portanto, o que é mais lógico é perguntarmos se o MPLA está apto para governar, é a pergunta mais lógica, até diria que seria um dever patriótico do MPLA dizer que ainda vamos dar oportunidade a outros e vamos ver (…). É preciso darmos esta oportunidade”, defendeu.

Sobre a sua relação com Adalberto Costa Júnior, seu sucessor no cargo, Samakuva, agora com 76 anos, desmentiu a existência de qualquer problema e garantiu que é ótima.

“Nós temos uma relação que sempre tivemos, não é de hoje a nossa relação, tive sempre o companheiro Adalberto junto de mim, ainda anteontem tivemos uma longa conversa, partilhamos ideias sobre o partido, sobre o país, sobre o nosso futuro, portanto não há problemas entre nós”, assegurou à Lusa.

Desvalorizou ainda a alegada pretensão da atual direção da UNITA em “ofuscar” a sua imagem no interior da agremiação partidária, considerando que na sociedade angolana “se fala muito e muitas vezes sem bases”.

“Esta é a opinião dos outros, a minha ainda ninguém ouviu, a minha opinião não é aqui onde vou emitir, porque pode-se oferecer a várias interpretações, mas os que falam podem falar, é preciso termos bases e fundamentos para fazer alguma afirmação”, atirou.

Samakuva, diplomata de carreira, sobretudo na era Jonas Savimbi, saudou igualmente a iniciativa do MEA: “É bom que os jovens académicos se encontrem e reflitam sobre a história do país e sobre outros aspetos”.

“Então, em vez de estarmos em volta dos copos é bom perder alguns minutos em atividades como estas, portanto eu fico satisfeito de ver que há iniciativas desta”, concluiu.

O político da UNITA foi ainda homenageado, na ocasião, com cânticos e um diploma de honra, pelo seu contributo pela “pacificação do país”, como disse o presidente do MEA, Francisco Teixeira.

Fonte: NJ

Exit mobile version