Cerca de 400 trabalhadores não recebem salários desde Janeiro e alguns contaram à imprensa que vão avançar para os tribunais. A entrada de um investidor que possa salvar a empresa continua em cima da mesa, confirmam alguns dos envolvidos, mas até agora não há uma solução para a Movicel.
A empresa está a definhar e não aparece uma solução sólida para o seu futuro. De acordo com o que o Expansão já tinha noticiado a 7 de Julho do ano passado, o Ministério das Telecomunicações estava a negociar a entrada de um grupo africano no capital da empresa, que de acordo com as informações da altura, deveria estar formalizado até ao mês de Outubro.
Foi possível apurar já este ano que, no entanto, se pedia que o sócio maioritário entregasse parte do seu capital a custo zero, o que foi negado pelo INSS, que sempre defendeu que tinha de recuperar o valor do investimento, uma vez que se tratava de dinheiro que vinha das contribuições dos cidadãos. Passaram seis meses sob aquele prazo e a solução continua adiada.
Aliás, parece lógico que deveria ser o próprio INSS a tratar da entrada de um novo sócio e não o Ministério das Telecomunicações, cujas empresas sob a sua tutela têm uma participação minoritária na Movicel. O Expansão apurou que o instituto tem negociações avançadas para entrada de um investidor sul africano na empresa, mas têm de esperar que o Ministério se “retire” da solução, uma vez que, recorde- -se, a liderança da administração é garantida pelo PCA da Angola Telecom e que apenas durante três meses em 2021, o INSS teve como PCA um quadro indicado por si, numa altura em que o sócio maior era o GAFP. Em termos práticos, quem decide hoje e faz a gestão corrente na companhia é o Ministério das Telecomunicações, via Angola Telecom, e não o Ministério do Trabalho, que por via do INSS detém a posição maioritária.
Enquanto se mantém este braço-de-ferro para perceber qual a solução, de quem deve administrar a Movicel e em que condições, a empresa está a desaparecer. Hoje já são necessários mais do que os 150 milhões USD avançados no ano passado para que a empresa pudesse voltar a funcionar com normalidade.
Trabalhadores sem salários
Na sequência desta “morte lenta”, consubstanciada pela degradação dos seus serviços e pela perda de clientes, sabe-se agora que está há quase cinco meses sem pagar os ordenados a cerca de 400 trabalhadores, que não recebem desde Janeiro. Este grupo é a soma dos que trabalhavam nas províncias e os que já estavam em Luanda.
Depois da empresa ter iniciado, em 2022, o fecho de lojas na s províncias, fez uma proposta aos trabalhadores – quem quisesse continuar na empresa tinha de ir para Luanda, e quem não quisesse era livre de sair, mas neste caso, sem qualquer indemnização. De acordo com o que o Expansão apurou, muitos que não queriam perder o emprego vieram mesmo para a capital.
“Pelo tempo que não vemos os nossos ordenados, estamos a ter muitos problemas nas nossas famílias: as crianças foram obrigadas a sair dos colégios por falta de pagamento de propinas, estamos a endividar-nos, os que tinham carros agora já andam a pé ou lutam nos empurrões dos autocarros de 50 Kz para ir para o trabalho”, admitiu um dos vários funcionários da empresa que falaram ao Expansão, sob anonimato por receio de represálias.
“Saímos das nossas províncias para vir trabalhar para aqui e continuarmos a garantir o pão para as nossas famílias, mas já vi que foi mau termos aceitado a proposta da empresa. Era preferível mudar de emprego”, lamentou um dos funcionários que era supervisor comercial numa das províncias do sul do País e depois do encerramento da dependência foi “obrigado”a transferir-se para Luanda.
Fonte: Expansão