O agravar do conflito na vizinha RDC, com o recente avanço das forças rebeldes do M23, agora despudoradamente apoiadas pelo Rwanda, veio confirmar o fracasso dos processos de Nairobi e Luanda, num contexto de ressurgimento de velhos conflitos regionais e num clima de progressiva disputa geopolítica e económica, por recursos críticos e espaços vitais, por parte das grandes potências.
A história africana recente e a da Região dos Grandes Lagos, em particular, confirmam estes sinuosos desenvolvimentos, em que grupos ditos rebeldes ou insurgentes, instrumentalizados sob o viés tribal ou religioso, são catapultados por intermediários na nova luta pelos recursos: do Sudão à África Central e Oriental, para citar os casos mais conhecidos, que tendem a adensar-se perigosamente para a África Austral, por via da RDC e de Mocambique.
Se, como aqui damos testemunho, o processo de Nairobi ficou minado, à partida, por Kinshasa tentar afastar uma das partes do diálogo nacional que a mediação queniana pretendia também incluída na mesa das negociações, já o processo de Luanda tentou contornar a crua realidade da guerra por procuração patrocinada pelo Rwanda com a cumplicidade de vários países ocidentais e multinacionais, na exploração ilegal de minerais estratégicos, sem esquecer antigas ambições territoriais.
Maus sinais no horizonte nestes tempos, em que alguns países africanos tentam fazer tábua-rasa de um princípio dito sagrado da União Africana sobre a inviolabilidade das fronteiras históricas herdadas à época das independências, algo que exigiria uma posição mais firme e abrangente. Esta via perigosa pode abrir caminho à divisão e desintegração de países, com o beneplácito directo ou indirecto de grandes potências mundiais de diferentes latitudes. A utilização de mercenários para garantir coutadas, acrescida de bases ou facilidades de acesso militar, faz, igualmente, parte desse cenário.
Fonte: NJ