O rapper Prodígio fez questão de se manifestar dizendo que “uns têm mais motivos do que outros” para comemorar a independência de Angola e salientou que o destino do país está na mão “de todos os angolanos”.
“Há uns que têm mais motivos para comemorar do que os outros, não é? Eu, que comemoro sempre a nossa independência porque sou mesmo patriota (…), ainda que muitas vezes triste, muitas vezes infeliz, acredito piamente que as coisas poderiam estar melhores”, disse à Lusa o rapper a propósito do cinquentenário da independência, à margem da apresentação da digressão do cantor Paulo Flores por várias províncias em que participa como artista convidado, a par de Yuri da Cunha.
Prodígio, nome artístico de Osvaldo Moniz, nasceu em 1988 e é um dos integrantes do grupo de Hip-Hop Força Suprema, tendo vivido vários anos em Portugal, para onde emigrou ainda criança.
O artista destacou que o rumo do país depende de todos os angolanos, que não devem limitar-se a ficar de braços cruzados ou a ser um “treinador de bancada”, já que todos são de alguma forma activistas.
“Eu sofro muito dessa pressão, do ‘que é que estás a fazer socialmente?’, quase como se fazer música fizesse de mim logo à partida um activista. Mas acredito que sejamos todos de alguma forma activistas, não como um estilo de vida, se não cozinhamos em casa e também somos cozinheiros, depois jogamos a bola com os amigos e também somos futebolistas, não é? Então acredito que a vida tenha muitas camadas e às vezes é bom, temos de ser cirúrgicos a desfiá-las”, salientou.
Quanto à situação do país, considera que os últimos tempos têm sido “mais confusos”, o que é generalizado um pouco por todo o mundo.
“Eu não quero nunca perder a esperança pessoal naquilo que faço, que é a arte [mas] acredito que o mundo está todo a passar por uma fase de transição estranha, porque passo muito tempo fora, pelo mundo, e noto que a dificuldade se está a tornar uma coisa comum agora”, comentou o rapper, assinalando que “as coisas estão muito difíceis”, sobretudo no plano dos de “baixo”. “Imagino que lá em cima eles estejam bem melhor”, ironizou.
Sobre se os angolanos têm assumido as suas responsabilidades no rumo do país, afirmou ter a percepção de que os que mais cobram “normalmente são internautas” que “o que fazem bem é mexer os dedos”. “Deve ser isso que fazem melhor por Angola”, lamentou.
Mas os angolanos em geral, que descreveu como “um povo sacrificado e que se sacrifica”, são também “grandes lutadores” a quem “batem muito”.
Fonte: VA