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Petróleo: De um mau momento a um momento preocupante vão apenas alguns cêntimos de dólar – Barril passa em baixa barreira dos 90 USD

Arábia Saudita e Rússia estavam a prever uma quebra no ímpeto do sector petrolífero dos últimos dois meses devido a um conjunto alargado de sinais oriundos das grandes economias de quebra no consumo de energia e vieram a terreiro anunciar a solidez das suas posições sobre a continuidade dos cortes unilaterais até ao final do ano.

No dia em que os peritos da OPEP+, a organização que junta desde 2017 os Países Produtores (OPEP) e a Rússia, mais um grupo móvel de nove produtores, para reforçar o equilíbrio dos mercados a seu favor, ou seja, evitar quedas abruptas nos preços do barril, os mercados estão a castigar as recentes valorizações do crude temendo tempos de tempestade macroeconómica no horizonte.

Tempestade essa que é formada a oriente por dados de relativa fragilidade da economia chinesa, o maior importador de petróleo do mundo e a segunda mais robusta economia do mundo, e a ocidente, com as altas taxas de juro nos EUA, o maior consumidor e a maior economia do planeta.

E nem a soma dos cortes da OPEP+, entre 2022 e 2023, de 3,6 milhões de barris por dia (mbpd) e os 1,3 mbpd realizados de motu proprio por russos e sauditas, parecem estar a ser suficientes para debelar os efeitos da tempestade em formação, onde se inclui ainda o contínuo aumento da produção do cartel nos últimos tempos, seja porque os membros adquiriram mais capacidade, como é o caso, embora ligeiramente, de Angola, seja porque recuperaram infra-estruturas debilitadas por fenómenos naturais, como é o caso da Líbia e do Iraque.

Assim, com estes dados em cima da mesa, o barril de Brent passou hoje para baixo da fasquia dos 90 USD, valendo 89,27 USD perto das 12:30 desta quarta-feira, 04, hora de Luanda, perdendo 1,82% face ao fecho da sessão anterior.

Esta quebra, inesperada, contrasta com as expectativas de fortes ganhos nas últimas duas semanas avançadas tanto pela Agência Internacional de Energia como pelas financeiras JPMorgan ou Goldman Sachs, todos a apontar como certa uma valorização do Brent ao longo de todo o ano de 2023 e a passar muito além dos 100 USD por barril.

Com a reunião desta quarta-feira em Viena de Áustria da OPEP+, alguma decisão pode ainda reverter este quadro, mas tal não está a ser estimado pelos analistas.

Para já, o tratamento a que o “cartel” pode recorrer é anunciar novos cortes, mas tal pode revelar-se inapropriado porque o doente pode morrer da cura.

Ou seja, a Arábia Saudita apresentou recentemente números que apontam para um crescente défice nas suas contas públicas, apesar do aumento do valor do crude nos últimos meses, e a Rússia, o outro gigante do “cartel”, já esticou a corda até onde podia, de forma minimamente saudável, se não quiser atingir com vigor o seu esforço de guerra na Ucrânia.

Mas isso ver-se-á já nesta quarta-feira, em mais um encontro mensal do “cartel”, quase sempre nos primeiros dias de cada mês, embora os analistas estimem que dificilmente haverá alterações à tabela de cortes em vigor, depois de no mês passado ter prolongado os cortes de 3,6 mbpd até final de 2023, além de Moscovo e Riad terem acompanhado esta decisão.

Manter a oferta artificialmente apertada é a estratégia de russos e sauditas, na qual são acompanhados pelos seus parceiros, onde está Angola, embora não se saiba há muito tempo qual a posição oficial de Luanda nas discussões internas do grupo de exportadores que controlam mais de 50% da produção global, actualmente a bater nos 103 mbpd.

Contas nacionais

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, manter o Brent acima dos 90 USD – apesar da turbulência visível nesta semana ameaçar o cenário positivo -, é uma necessidade, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

Se continuar assim por muito tempo, o que pode agora ser mais difícil de se verificar as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico.

E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB, revelando-se como um antidoto não negligenciável para o aumento dos custos do pagamento da dívida, especialmente agora que se começam a sentir fortemente os efeitos do fim das moratórias de três anos criadas pelo G20, com a China a ser especialmente importante para Luanda, no contexto do combate mundial à pandemia da Covid-19.

O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

Fonte: NJ

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