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Petróleo: Barril em esforço para voltar aos 80 USD e procura extraordinária nos EUA está a ajudar

O barril de crude está a ter mais uma semana frenética com subidas e descidas acentuadas, por vezes no mesmo dia, o que demonstra a volatilidade actual dos mercados e a época de incerteza que a economia mundial atravessa, mas, paulatinamente, lá vai fazendo o seu caminho de volta para a “periferia” dos 80 USD.

Na sexta-feira, 05, o Brent, que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, chegou ao final do dia a valer pouco mais de 72 dólares e, de segunda a quinta-feira, hoje, 11, teve três saltos no “abismo” para logo de seguida regressar à superfície, posicionando-se nesta manhã, perto das 09:30, hora de Luanda, nos 77:16, a subir 0,85%.

Por detrás destes solavancos, que são importantes para Angola quando passam dos 75 USD, visto que o OGE 2023 foi elaborado usando como preço de referência para o barril esse valor médio, estão os mesmíssimos factores que estiveram em “cartaz” nos últimos 14 meses, desde o início da guerra na Ucrânia, em Fevereiro de 2022.

Ou seja: a inflação a galope, as oscilações na oferta, muito em resultado dos cortes de mais de três milhões de barris por dia (mbpd) neste período por parte da OPEP+ (OPEP+Rússia), o risco de recessão nos EUA e na União Europeia, as subidas das taxas de juro nestes dois blocos económicos gigantes, os solavancos na economia chinesa pós-Covid, onde as restrições à mobilidade levaram a que o maior importador de petróleo do mundo ficasse reduzido a uma figura de estilo, as consequências directas da guerra no leste europeu e as sanções a Moscovo e, sem que a referência em último lhe retire importância de topo, a forma como a transição energética exigida pela ameaça existencial das alterações climáticas se vai impondo de forma indelével.

Para o saltinho que o barril deu esta quinta-feira, positivo, contribuiu quase em exclusivo a crescente procura por combustíveis refinados nos Estados Unidos da América, que, embora seja actualmente o país que mais petróleo produz é, igualmente, o que mais consome, e onde a gasolina e o gasóleo mais contribuem para esse registo, sendo que os analistas dos mercados apontam os radares mais afinados para os níveis das reservas norte-americanas destes combustíveis, estando essa claramente em declínio.

E mais do que o esperado. Vai daí, os mercados reagiram como sempre e o Brent, mas também o WTI, em Nova Iorque, recuperaram dos quase 2 USD perdidos na quarta-feira, voltando ao verde.

O que conta a sério para este contexto em Angola é que, sendo um dos países mais dependentes da matéria-prima, qualquer oscilação a montante, gera resultados a jusante, como a teoria do caos, onde um bater de asas na Austrália gera uma tempestade no Atlântico Norte, e é isso que se está a verificar, estando 2022 e 2023 a registar uma apreciável confiança das multinacionais no offshore nacional.

Angola assinou no último ano cinco contratos de serviços com companhias petrolíferas internacionais, que totalizaram 9,4 mil milhões de dólares (8,5 mil milhões de euros), segundo dados da Energy Capital & Power.

Basta ir de encontro a uma notícia recente da Lusa, para perceber que Angola totalizou quase 9 mil milhões de dólares em contratos de serviços no sector petrolífero no último ano.

De acordo com a Energy Capital & Power, uma plataforma de investimento líder global focada no sector de energia africano, os cinco contratos de serviços com maior valor foram assinados entre 2022 e o ano em curso, sendo o de maior valor de 7,8 mil milhões de dólares, que foi assinado em fevereiro deste ano pela Azule Energy, a maior produtora independente de petróleo e gás em Angola.

Os contratos foram assinados com empresas de infra-estruturas e tecnologias energéticas importantes no Projeto de Desenvolvimento Integrado do Centro Oste Agogo — um dos maiores projectos de ‘upstream’ (actividades de exploração, perfuração e produção) em Angola, designadamente Yison, Baker Hughes, Aker Solutions, Saipem, Subsea 7 e TechnipFMC.

Isto ainda não é o alçapão por onde Angola deixa para trás os problemas que o seu sector extractivo na área do petróleo vem observando nos últimos anos, e que, apesar de tudo se têm acentuado, mas é um alívio, mesmo que circunstancial.

Isto, quando os mercados, como nota a Reuters, não deixaram ainda de enviar sinais de desconforto com a realidade actual, como seja a questão da aparentemente imparável subida das taxas de juro.

Como diz Yeap Jun Rong, estratega de mercados da IG, citado pela Reuters, “o Brent conseguiu gerir o contexto para reganhar algum fôlego, mas ainda mantém o passo travado por causa do risco que não desapareceu no sector bancário” dos EUA e da Europa, sendo esse um dos buracos por onde tudo o que existe como certeza por desaparecer num ápice.

Contas nacionais

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este momento dos mercados é melindroso.

Com o barril a valer pouco mais de 77 USD, o Governo angolano está a perder a folga, embora mantenha alguma ainda, no que diz respeito às suas contas porque o OGE 2023 foi elaborado com o barril nos 75 USD.

O país ainda depende em grande medida do seu sector energético, considerando que o crude representa mais de 90% das suas exportações, perto de 30% do PIB (tem vindo a descer nos últimos anos o peso do sector) e mais de 50% das receitas fiscais do Estado, sendo certo que o sector do gás natural já é uma importante fonte de receitas, superando mesmo o diamantífero.

Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.

Fonte: NJ

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