Pedro Sapalo, conhecido por “Pedrito do Bié”, nasceu a 25 de Agosto de 1991 embora considere a sua “idade confusa”. Atualmente reside com a família no centro do país (Bié). Aos 32 anos, o artista é casado e pai de três filhos. Mas, foi na capital angolana, Luanda, que à imprensa, conversou com um dos mais notáveis cantores infantis dos últimos tempos.
Questionado sobre como se define, o artista respondeu, assim: “Me defino como angolano. 100% angolano que ama Angola e luto pelo meu país e não olho pelos meus interesses”. Órfão de pai (antigo militar das FAPLA desaparecido em tempo de guerra), Pedrito do Bié mudou-se para Luanda em 2002, altura em que terminou o conflito armado com a morte, na província do Moxico, do líder fundador da UNITA, Jonas Savimbi.
Explicou que na capital angolana passou por momentos difíceis. Teve que se tornar cantor de rua para sobreviver. Tinha “mais ou menos 10 anos”. Contou que a busca do pão era feita com uma guitarra feita de madeira que pertencia ao seu amigo.
“Fazia quatro a cinco mil kwanzas por dia. E dividia esse dinheiro com o dono da viola, Herculano Lopes”, recorda. Entre as canções, nas ruas de Luanda, Pedrito cantava com frequência a música “Nação Coragem” – um tema feito para homenagear o programa da Televisão Pública de Angola (TPA) – onde muitos angolanos procuravam os seus familiares desaparecidos no conflito armado. Como qualquer criança, Pedrito tinha muitos sonhos, entre eles o de estudar direito e tornar-se advogado.
Mas ainda não o concretizou porque “deixou” de estudar na 11ª classe. Ainda assim, tem esperança que venha a materializar este objetivo. porque quer ser um dos defensores dos direitos e liberdades dos cidadãos. “Eu nunca gostei de ver desigualdades. Nunca. Então, eu cresci com a ideia de ser advogado para resolver esse problema. As pessoas cometem erros e, às vezes, quem comete não é punido. Então, para mim, o advogado era o dono da razão”, comentou.
Porém, foi na música que encontrou uma das suas maiores realizações e conhecimento nacional e internacional. Pedrito do Bié conta com três discos e um DVD no mercado musical angolano, entre eles a obra intitulada “Angolawé”. O cantor explicou as motivações do título: “Angolawé é uma música que me criou muitos problemas porque diziam que eu como miúdo não podia ter a visão do conteúdo que está na música.
O tema fala sobre igualdade e também respeito e amor aos próximos”, referiu. Mas foi com o tema “professora” que Pedrito alcançou maior sucesso embora diga que não é a música preferida do seu repertório. Esta música, explica, foi escrita a pedido dos seus colegas numa das escolas de Luanda onde uma das docentes usava sempre a “vara” no seu processo de ensino e aprendizagem.
Sobre novos trabalhos discográfico brevemente, Pedrito nega. “Ainda não está na minha agenda porque as coisas estão muito caras”, admitiu. O seu último disco foi lançado em 2017. Pedrito do Bié decidiu sair de Luanda e viver na sua terra natal onde segundo revelou a vida não é tão cara como na capital angola. É no centro do país onde se tem revelado muito crítico da governação local e central. O jovem anda, normalmente com um cajado – um pau envernizado com a escultura de um homem, uma mulher, um leão e um pensador.
“Homem é o caçador que tem que procurar sempre alguma coisa; a mulher é a batalhadora; o leão é o rei da selva porque toda a selva tem que ter um rei; e o pensador que representa o povo que de tanto sofrer só vive a pensar”, resumiu.
Em junho deste ano, o músico foi detido pelo Serviço de Investigação Criminal local no “Jardim da Pouca Vergonha” por ter estado a exibir uma camisola com os dizeres “Bié não é Bengo – Dá oportunidade às empresas locais”, uma referência ao governo provincial que estaria a trabalhar apenas com quadros recrutados próximo de Luanda em detrimento dos técnicos locais. Depois de detido, foi posto em liberdade por falta de provas. Pedrito do Bié deixou de ser cantor infantil e tornou-se “revú”? “Eu acho que nós todos na vida temos um propósito porque chega-se a um momento em que, quando a maldade é demais, tem que haver alguém para fazer alguma coisa”, afirmou.
O artista admite que está dececionado com o partido no poder, o MPLA, por supostamente não estar a “resolver os problemas” da coletividade. Pedrito do Bié nega ter recebido favores do MPLA para a sua projeção musical e material. “Muita gente olhava para mim como filhinho de papá e mamã do MPLA. Eu não conheço nada que o MPLA tenha feito por mim. Eu não conheço. Mas as pessoas que fizeram alguma coisa por mim eu conheço-as e não são do MPLA”, afirmou. Por causa de críticas que tece ao Governo e aos membros do partido no poder, muitos cidadãos rotulam-no como militante da UNITA, maior partido da oposição em Angola. Mas ele nega este rótulo: “Se eu for militante haverá limitações nas coisas [que digo e falo]. Então, ainda vou aproveitar a minha liberdade sem limites de partido. Mas vontade de entrar não me falta”. Se for convidado para ser deputado independente pela lista da UNITA, em 2027, não tem dúvidas: “Eu não vou negar. Eu vou aceitar.”
O cantor infantil considera que o país está cada vez pior e apela ao Estado para proteger as crianças porque, nota-se, que estão muito vulneráveis nos últimos tempos. “No nosso país as crianças são abandonadas. Quando o poder olha para criança angolana não olha para a maioria. A própria elite que nós temos só olha para os filhos que eles têm”, concluiu.
Fonte; DW/AN