Eddy Tussa, que despertou para a música através das rimas do hip hop, conta a história do seu álbum “Príncipe do Semba”, comercializado a 10 mil Kz, o preço mais alto de um álbum em Angola, e fala também da luta pela coroa imaginária do semba.
“Kassembele” foi lançado em 2015, já lá vão 9 anos. Neste período o que andou a fazer?
Depois do lançamento de uma obra discográfica o que se faz é trabalhar à volta desta mesma obra. Foram períodos de apresentações, concertos e tours, etc. Às vezes, nem há espaço para se pensar noutros trabalhos, enfim concentrei-me apenas na divulgação da obra e nas performances que fui fazendo neste período.
Eddy Tussa é dos poucos músicos que faz o trajecto do hip hop para o estilo semba, que tem outra exigência artística e é tradicionalmente angolano. Pode contar-nos esta aventura?
Não se trata de uma aventura como tal. Sou angolano e como artista é natural exprimir-me através das minhas raízes culturais.
A crítica trata-o como um intérprete que respeita o tradicional e como conservador do Kimbundu.
Sim, tive muita sorte. Sorte de aprender kimbundu desde cedo, tive a oportunidade que muitos jovens angolanos não tiveram e não têm. O resto foi só seguir em frente e aperfeiçoar.
Como foi este processo de aprendizagem, o kimbundu nasceu depois da música?
O kimbundu aprendi desde muito cedo com os meus pais. Eles sempre comunicaram connosco em kimbundu. O kimbundu veio antes de cantar o semba.
Este álbum que vai lançar agora, “Príncipe do Semba” foi preparado em quanto tempo?
Foram 5 anos de preparação e muito trabalho à mistura.
E porquê o título “Príncipe do Semba”?
Percebi que não havia outro que se encaixasse tão bem como este para o álbum.
Este título é também uma forma de marcar a sua posição no semba enquanto artista?
Sem sombra de dúvidas. Já mudou a forma como se olha para o semba como um “estilo dos cotas”. Assim criamos algo por que lutar. Uma coroa.
Onde foi produzido o álbum, e o que ele traz para os apreciadores da boa música à moda angolana?
Este álbum, foi produzido em 5 países, nomeadamente Angola, Portugal, França, Peru e Estados Unidos da América. Posso garantir que foram feitas cópias suficientes. Tem 15 faixas musicais. Quanto a características mais artísticas, prefiro que as pessoas ouçam por si mesmas e exprimam as suas opiniões sobre o álbum.
Qual é a razão especial para custar 10 mil Kz?
As razões óbvias, tais como qualidade e despesas inerentes à obra. Construir uma obra discografia custa muito caro. Importação de serviços musicais de qualidade e outras despesas associadas. Com a desvalorização da moeda é mais caro ainda.
Quando diz razões óbvias, tais como qualidade e despesas inerentes, fala de quê, especificamente?
Refiro-me à contratação de vários outros artistas para darem a qualidade que se pode esperar. Falo de artistas, como o Chico Santos, Yark Spin, Mayo, Semba Muxima, Boper, Caló Pascoal, Dj Mania, Cláudio, Benjamim, Miqueias Ramiro, entre outros. Quanto aos custos, perdi a conta.
Entendemos a razão óbvia de que fala, mas há também fragilidade do lado da população, não teme que a obra seja considerada elitista, ou seja, chegar apenas a uma determinada camada da sociedade?
Infelizmente, uma obra de qualidade tem custos muito elevados e o povo merece ouvir música de qualidade independentemente do momento que estamos a viver. Portanto, 10 mil Kz hoje tem a mesma cotação que os 1.000 de antes, 10 USD. As contas são fáceis de se fazer.
Fonte: Expansão