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Novos acordos para impulsionar comércio entre Angola e Zâmbia

O Presidente da República, João Lourenço, defendeu, esta quarta-feira, em Luanda, um maior reforço dos laços de cooperação económica com a vizinha República da Zâmbia, de modo a se corrigir a tendência de se querer ir buscar fora do continente ou da região bens e serviços que ambos os países possuem e podem trocar.

O Chefe de Estado manifestou essa intenção no final das conversações entre as delegações de Angola e da Zâmbia, que reuniram, ontem, no Palácio Presidencial, na sequência da visita de Estado de 72 horas do Presidente zambiano ao país.

Para o estadista angolano, que falava à imprensa, ladeado do seu homólogo da Zâmbia, Hakainde Hichilema, é necessário corrigir este quadro, que considerou “absurdo”. “Este absurdo deve ser corrigido e a forma que encontramos, para a sua correcção, é assinar os instrumentos que vão facilitar a cooperação económica e as trocas comerciais entre ambos os países”, realçou o Presidente João Lourenço.

Os dois países assinaram, ontem, no quadro desta intenção, seis instrumentos jurídicos, nomeadamente, o memorando de entendimento para a construção das estradas de ligações fronteiriça entre Angola e Zâmbia, via Jimbe- Mwinulunga e via Mapelenga (Malundo) – Sikongo; memorando de entendimento entre o Instituto Nacional das Infra-estruturas da Qualidade – INIQ de Angola e a Zâmbia Bureau of Standars – ZABS da Zâmbia nas áreas da normalização, avaliação da conformidade e formação; memorando de entendimento entre a Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações (AIPEX) e a Zâmbia Development Agency (ZDA); acordo sobre a criação de uma Comissão Binacional; memorando de entendimento entre a Escola Nacional de Administração e Políticas Públicas de Angola (ENAPP) e o Instituto Nacional de Administração Pública da Zâmbia (NIPA) e o memorando de entendimento entre o Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola e a congénere da Zâmbia.

O Presidente reconheceu o potencial da Zâmbia no domínio da Agro-pecuária, afirmando que Angola está interessada em beber dessa experiência. João Lourenço referiu que o país tem a necessidade de repovoar-se com gado, particularmente, o bovino, e, para esta empreitada, pensa contar com a Zâmbia. “Pode ser que a resposta esteja aqui ao lado, seja a Zâmbia. Então, por que não tentar trabalhar com os nossos irmãos zambianos, no sentido de Angola voltar a ser um país auto suficiente na produção de carne?”, questionou.

Em relação à aposta nas infra-estruturas, o Presidente referiu ser necessário a marcação deste passo, na medida em que permite uma maior integração regional e cooperação entre os países. “O nosso continente e os nossos países, em particular, carecem de infra-estruturas, para haver integração regional e cooperação entre Estados”, realçou.

O Chefe de Estado referiu que essa aposta nas infra-estruturas vai permitir que haja mais facilidade na ligação rodoviária, ferroviária e fluvial entre os países. De modo prático, no que diz respeito à ligação rodoviária, disse já estar em carteira a construção de duas estradas que vão ligar a província do Moxico à Zâmbia, bem como a construção do ramal ferroviário que vai ligar os Caminhos-de-Ferro de Benguela à Zâmbia. O estadista angolano apontou um outro projecto que disse já ter iniciado há uns bons anos, mas que precisa de ser concluído, nomeadamente o Canal Fluvial Xangombo-Rivungo, na província do Cuando Cubango, que, como salientou, vai facilitar a circulação de pessoas e bens entre Angola e Zâmbia.

Sobre a ligação aérea entre os dois países, o Presidente João Lourenço disse já existir, mas que precisa de ser reforçado, com o aumento do número de frequência. “Nós temos muita esperança em ver as nossas economias desenvolvidas”, aclarou o Presidente da República, para quem tudo vai ser feito para que todas estas intenções se concretizem.

Um outro desafio apontado pelo Presidente João Lourenço tem a ver com a interligação das redes de transporte de energia, cuja proposta disse já existir.
Mercado angolano está aberto

O Presidente da República assegurou, no quadro da nova dinâmica que se quer empreender, agora, na cooperação económica com a vizinha Zâmbia, que o mercado angolano está aberto a uma maior presença de investidores daquele país.

O Presidente, que discursava na sala das conversações, no Palácio da Cidade Alta, esclareceu que a ideia é edificar, na prática, uma base de cooperação mutuamente vantajosa entre os dois países.

João Lourenço referiu que, apesar dos mais variados acordos, memorandos e protocolos assinados, até aqui, entre Angola e Zâmbia, os resultados da cooperação económica e do intercâmbio comercial são, ainda, pouco expressivos, estando longe das ambições. “Por isso, devemos desenvolver uma cooperação mais actuante, que melhor aproveite os nossos vastos recursos, a capacidade e habilidade dos nossos povos e o dinamismo de seus governantes no sentido de se alterar este quadro”, realçou. O Presidente ressaltou que o objectivo passa por se estabelecer uma verdadeira parceria com a Zâmbia, que se consubstancia no alargamento dos laços de amizade e de cooperação económica, com destaque para a Educação, Cultura, Ciência, Agropecuária, Indústrias Extractivas e Transformadoras das Matérias Primas, assim como a interligação rodoviária, ferroviária e eléctrica entre os dois Estados.

João Lourenço considerou a visita do homólogo zambiano uma grande oportunidade para se abordar a melhor forma de se impulsionar, com sentido prático, todas as iniciativas existentes, que permitam colher os melhores benefícios da cooperação. O Presidente disse que um dos objectivos do país, em relação ao Corredor do Lobito, passa por colocar a infra-estrutura ao serviço das economias dos países da região, nomeadamente da Zâmbia e da República Democrática do Congo.

Lembrou que a Zâmbia e Angola desenvolvem dentro do quadro estabelecido pelo Acordo Geral de Cooperação Económica, Científica, Técnica e Cultural, assinado em 1979, relações de cooperação bastante regulares, altura em que, como sublinhou, foram rubricados um bom número de instrumentos jurídicos em vários domínios de cooperação e interesse comum.


Garantia de investimento  no Corredor do Lobito

O Presidente da Zâmbia mostrou interesse em investir no Corredor do Lobito e confessou mesmo que um dos motivos da sua vinda a Luanda está ligado a este projecto.

Hakainde Hichilema, que se desloca, hoje, ao Lobito, para visitar este projecto, ressaltou que um dos principais produtos consumido pelo seu país é o combustível e, em função disso, referiu não fazer sentido que a Zâmbia importe este produto de outras paragens e não da vizinha Angola.

“Não sei como conseguimos manter esta situação, de comprar combustível da Arábia Saudita e em outras partes do mundo, e não no nosso vizinho. Acredito que todos estão chateados com isso, porque o mercado está aqui próximo”, realçou Hichilema, acrescentando que a Zâmbia devia sentir-se mal com esta realidade.

Hakainde Hichilema disse que, apesar de ser tendência no seu país, quando há mudança de Governo, ignorar-se o trabalho feito pelo Executivo anterior, o seu continua a implementar os acordos que o Estado angolano assinou com a Zâmbia, antes da sua chegada ao poder.

O Presidente zambiano aproveitou a ocasião para elogiar o esforço do estadista angolano na pacificação do continente, com destaque para a região, sublinhando não ser possível falar-se em investimento nesta zona sem que haja, primeiro, estabilidade. Hichilema, que disse estar maravilhado com a visão de liderança do homólogo angolano, prometeu apoiá-lo na luta pela estabilidade da região da SADC.

Chefe de Estado zambiano visita província de BenguelaO Chefe de Estado zambiano efectua, hoje, uma visita de trabalho à província de Benguela, para constatar as potencialidades económicas da região do Sul do país.

Hakainde Hichilema, que se encontra no país desde terça-feira, a convite do Presidente João Lourenço, no quadro do relançamento das relações de cooperação bilateral, vai manter um encontro com o governador local, Luís Nunes, e em seguida visitará o Corredor do Lobito.

O governador Luís Nunes disse que a visita do estadista zambiano a Benguela, é aguardada com “bastante expectativa”, sobretudo pelo facto de a região ser a sede do Corredor do Lobito.

“Temos a grande vantagem de albergar a sede do Corredor do Lobito que, cada vez mais, vai consolidando a sua posição estratégica de rede de comunicação que liga Angola ao exterior, constituindo-se numa plataforma estrutural de elevado potencial de desenvolvimento e prosperidade para a região”, reconheceu Luís Nunes, lembrando que o Porto do Lobito, bem como os Caminhos-de-Ferro de Benguela formam uma rede transcontinental que possibilita o fácil acesso dos produtos para o exterior, assim como a circulação de pessoas e bens.

As duas infra-estruturas, referiu, sugerem, cada vez mais, oportunidades de fixação na região de empresas multissectoriais, constituindo-se num aglomerado colaborativo que reforça a importância geo-estratégica da província de Benguela.

“Reitero a nossa receptividade ao investimento nacional e estrangeiro, de forma a empoderar a classe empresarial, como motor da economia e da sustentabilidade”, afirmou o governador.

Economista indica vantagens

O economista Janísio Salomão considerou, ontem, na cidade de Benguela, que a visita do Chefe de Estado zambiano a esta província vai acelerar a execução prática das diversas acções, no quadro da cooperação entre os dois países.

Em declarações ao Jornal de Angola, Janísio Salomão, alertou que a Zâmbia possui experiência e enormes potencialidades no sector agro-pecuário (produção de sementes e pecuária), que devem ser aproveitadas por Angola com vista a acelerar o seu crescimento económico e social.

O economista disse, ainda, que a constatação das potencialidades da província de Benguela pelo Chefe de Estado zambiano visa o fomento da troca de tecnologias para a dinamização dos sectores da agricultura e pecuária dos dois Estados.

Janísio Salomão considerou “históricas” as relações entre os dois Estados, salientando que devem continuar a ser aprofundadas em função dos níveis de progresso que Angola tem alcançado nos últimos tempos.

Angola e Zâmbia partilham uma fronteira de mais de 1.111 quilómetros, e as trocas comerciais entre os dois países têm atingido 25 milhões de dólares por ano.

A cifra, referiu o economista, pode vir a crescer caso se imprima maior dinamismo entre os dois países. O economista defendeu, ainda, a criação de infra-estruturas na zona fronteiriça de Katanga, para que, a curto prazo, a linha férrea projetada nesta localidade chegue ao território zambiano e demais países vizinhos.

A cidade de Benguela acolheu, a 11 Novembro de 2022, uma mega conferência que reflectiu sobre a integração regional e o comércio livre nos países da SADC e o impacto da rede de empresários no funcionamento da economia de Angola e da Zâmbia.

O evento, na altura, foi testemunhado pelo embaixador da Zâmbia em Angola, Lawrence Chalungumana, e avaliou as potencialidades dos dois países, que deviam ser aproveitadas pelos empresários.

Em relação ao projecto arquitectónico sobre as vias de comunicação, Janísio Salomão recordou que, na altura, o diplomata zambiano havia dito que o mesmo contaria com a participação de potenciais investidores privados, para auxiliar os dois Estados na construção das infra-estruturas de ligação ferroviária e terrestre.

Arão Martins e Maximiano Filipe | Benguela


Empresários procuram oportunidades de investimento
Uma delegação de mais de 20 empresários zambianos de diversos sectores visitou, ontem, a Zona Económica Especial (ZEE) Luanda–Bengo, tendo averiguado a capacidade instalada no empreendimento económico, com vista a implementação de futuros investimentos no parque industrial nacional.

Técnicos da Agência de Investimento Privado e Promoção das Exportações de Angola (AIPEX) e da Agência zambiana para o Desenvolvimento avaliaram, no local, as oportunidades de negócios existentes e os mecanismos para a sua rápida implementação. A visita ocorreu no quadro da intensificação das relações económicas entre os dois Estados.

Os empresários zambianos ligados aos sectores do Agronegócio, Construção, Comércio, Indústria Têxtil, Logística, Tecnologias Sustentáveis, e Formação Técnico-Profissional mantiveram contacto com a produção nacional, na sequência das visitas que efectuaram às unidades fabris da ZEE Luanda-Bengo.

Nas fábricas de massa alimentar e de montagem de tractores, os empresários zambianos foram informados sobre o processo de produção, tendo o representante da Agência para o Desenvolvimento da Zâmbia declarado que procuram oportunidades de investimento em Angola, como forma de incrementar os laços económicos bilaterais.

O chefe da comitiva empresarial zambiana, Obby Banda, apontou como principais factores que estimulam o investimento em Angola, a abundância de matérias-primas diversificadas, a densidade populacional, bem como a proximidade entre os dois países. “Angola tem muitos recursos naturais e minerais, possui mais de 30 milhões de habitantes e partilha uma vasta fronteira com a Zâmbia. Estes factores representam uma oportunidade para os empresários zambianos invistirem em Angola”, declarou.

Obby Banda disse ter ficado bastante impressionado com as potencialidades da ZEE, sobretudo dos investimentos nela instalados.

“Ficamos bastante impressionados com o que vimos, por isso vamos continuar a estudar as áreas em que podemos nos contemplar”, explicou o representante do órgão encarregado de promover o comércio e investimentos na Zâmbia.

Sobre o Memorando de Entendimento Comercial rubricado entre as Câmaras de Comércio e Indústria de Angola e da Zâmbia, Obby Banda considerou que o instrumento não só vai permitir superar os actuais 18 milhões de dólares das trocas comerciais, mas também tornar o mercado bilateral mais aberto. “Está a vista o incremento das relações comerciais entre ambos os países”, anotou.

Impacto em África

A administradora executiva da Zona Económica Especial, Luanda – Bengo, Carla Silvestre disse, na ocasião, que a aliança comercial vai contribuir para a industrialização de ambos os países.

Carla Silvestre defendeu o fortalecimento da cooperação entre Angola e Zâmbia, salientando que os dois países podem tornar-se na fonte de importação para outros países africanos, sobretudo na região da SADC.

Sublinhou que a ZEE tem todas as condições criadas para albergar unidades fabris, porquanto oferece serviços de acordo com os mais altos padrões internacionais.

“Temos serviços diferenciados que facilitam a produção e o escoamento dos produtos”, referiu, acrescentando, que na estratégia de captar investidores e internacionalizar a economia angolana, a ZEE procura integrar-se no processo de livre comércio dos países da SADC, por formas a estar apta a responder aos desafios que representam a criação da Zona de Livre Comércio Continental Africana.

A criação da Zona Económica Especial (ZEE) Luanda – Bengo, em 2009, é fruto de um conjunto de reformas económicas e sociais implementadas pelo Executivo angolano, por formas a mitigar a excessiva dependência da economia angolana do sector petrolífero, contribuir para o fomento da produção nacional, criação de empregos e diversificação da economia.

O empreendimento económico está edificado numa área de 4.717, 91 hectares, com 1.110 lotes para instalar diversas unidades fabris. 

Fonte: JA

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