Em 2023, o canal digital superou os ATMs em número de operações realizadas na rede, sobretudo para consultas. Hoje, assiste-se a um novo marco que assinala aquele que poderá vir a ser no futuro o início do fim dos cartões físicos em Angola. Os clientes bancários angolanos são cada vez mais novos e mais digitalizados.
Pelo segundo mês consecutivo o Multicaixa Express ultrapassou em valor as transacções de realizadas nos Caixas Automáticos, um sinal de que a digitalização ganhou terreno face aos meios tradicionais. O canal digital já vale 36,3% do valor global movimentado na rede Multicaixa (3,0 biliões Kz), o que compara com as movimentações monetárias feitas nos ATMs, que caíram para 34,5% no mês passado, de acordo com cálculos da imprensa com base no Relatório Sintético Mensal MCX de Julho da Empresa Interbancária de Serviços (EMIS).
Se em 2023 o Multicaixa Express, que surgiu em Abril de 2019, ultrapassou os ATMs em número de operações, este ano começou a ameaçar aquele que é o meio mais tradicional de consulta e de operações financeiras feitas pelos clientes bancários. Apesar de em Abril o Multicaixa Express ter superado os ATM em movimentações monetárias, em Maio voltou a cumprir-se a “tradição”, para em Junho e Julho o Express ter regressado ao primeiro lugar novamente (ver gráficos). Ainda assim, no que toca ao acumulado do ano, o ATM ainda continua a liderar, ainda que por apenas 30 mil milhões Kz.
O “agigantamento” do Multicaixa Express é um sinal de que se começa a desenhar em Angola a substituição dos cartões físicos por meios mais digitais nas operações e transacções na rede Multicaixa, tal como já se observa em países com sistemas financeiros mais desenvolvidos. Isto permitirá uma menor circulação do dinheiro físico e maior controlo não só no combate a crimes como o branqueamento de capitais, mas também com vista à formalização da própria economia.
O Express tem actualmente mais de 1,37 milhões de usuários válidos e é o canal que mais cresce na rede Multicaixa, quer em número de operações, quer em utilizadores. O reforço da segurança, que foi posto em causa nos primeiros anos, juntamente com a rapidez nas operações – permite fugir a longas filas nos ATM – têm sido o grande chamariz deste canal.
Eduardo Bettencourt, administrador Executivo da EMIS, disse ao Expansão que “o crescimento sustentável do MCX Express tem provado que os angolanos são cada vez mais digitais e, com o tempo, estão a aceitar melhor o dispositivo móvel como um meio de pagamento seguro para o seu dia-a-dia”, apesar de ser “importante reforçar que o ATM continua e continuará a ter um papel preponderante e fundamental no ecossistema de pagamentos, garantido o cash-out”.
E se é bom para os clientes, também é encarado com optimismo para a própria banca que está constantemente à procura de mecanismos para melhorar a relação com os seus clientes. Segundo Mário Nascimento, presidente da Associação de Bancos de Angola (ABANC), este fenómeno sinaliza que os clientes bancários estão a receber positivamente a digitalização e modernização das operações. E, mais do que isso, estão desmaterializar a utilização do dinheiro e dos cartões físicos”. Ainda assim, admite que a digitalização da banca não passa só pela utilização do MCX Express, que é um canal que privilegia muito a instantaneidade das operações. O responsável adianta que há mais a ser feito pela banca no sentido de digitalizar o sistema financeiro nacional, onde há já bancos que permitem abrir contas e fazer solicitação de crédito por via de mecanismos digitais, embora considere que é necessário trazer mais produtos e serviços para os meios digitais, até porque o futuro da banca no País depende da digitalização. Nascimento defende que esta modernização do sistema bancário vai diminuir custos ao sector, já que os bancos num futuro mais distante vão deixar de instalar ATMs, que elevam os custos com energia e manutenção, e vão deixar de emitir cartões físicos e outros produtos que requeiram equipamentos físicos.
Já Nelson Prata, presidente da Associação Angolana de Defesa do Consumidor de Serviços e Produtos Bancários (ACONSBANC), considera que ainda é cedo para pensar numa digitalização efectiva, mas admite que há “claramente uma mudança ou alteração no perfil dos clientes bancários e, consequentemente uma maior adesão aos canais digitais. Por outro lado, enquanto continuarmos a ter um elevado nível de informalidade na nossa economia, o dinheiro físico continuará a ditar as regras nas relações económicas e comerciais”
Para o responsável da ACONSBANC, o maior desafio da digitalização dos produtos e serviços financeiros continuará a estar relacionado com as questões de segurança dos depósitos dos clientes. “Facilmente os clientes perderão a confiança se não se sentirem seguros. E a banca digital trás consigo muitos riscos para os utilizadores com baixo nível de instrução digital”, defende.
Segundo Eduardo Bettencourt da EMIS, a empresa que gere a rede Multicaixa tem feito um investimento significativo na defesa cibernética, através da implementação de um Centro de Operações de Segurança (SOC, em inglês). “Este sistema é um pilar vital para a nossa resiliência futura, sendo que o SOC oferece monitorização em tempo real, identificando ameaças, o que permite agir proactivamente para mitigá-las. Esta abordagem preventiva e ágil fortalece a nossa capacidade de enfrentar desafios, assegurando a continuidade dos nossos serviços e a confiança dos clientes/utilizadores”, sublinha.
Fonte: Expansão