O MPLA, partido no poder em Angola, vai realizar o seu congresso extraordinário em dezembro.
Entretanto, na última reunião do Comité Central, surgiu a possibilidade de um “ajustamento dos estatutos” do MPLA. O assunto tem gerado polémica em Angola, onde já se questiona até que ponto esse reajuste poderá beneficiar o líder do partido,João Lourenço, e de que forma.
O “ajustamento dos estatutos do MPLA”, debatido na última reunião do Comité Central, em Luanda, continua a suscitar as mais vivas reações.
Nos últimos tempos, fala-se da possibilidade de múltiplas candidaturas no próximo congresso ordinário do partido, que deverá acontecer em 2026.
Possíveis candidatos à liderança do MPLA
Figuras como Higino Carneiro e António Venâncio já manifestaram a intenção de concorrer à liderança do MPLA.
No entanto, o atual líder do partido e chefe de Estado, João Lourenço, alertou que “ninguém começa o jogo sem ouvir o apito do árbitro”.
Com a proposta do ajustamento dos estatutos, “as coisas estão claras”, disse o cientista político angolano Eurico Gonçalves, em declarações à DW África.
“Isso quer dizer que a possibilidade da eleição de um candidato via múltiplas candidaturas não acontecerá tão cedo”, acrescentou.
Mas há outra interpretação, continuou:
“Poderá refletir a continuidade de João Lourenço na liderança do MPLA, o partido político, e não na liderança presidencial de Angola, por motivos da própria constituição. Ou seja, João Lourenço não vislumbra eleições no partido para criar as condições que possam garantir que ele próprio dirija o partido e possa indicar um cabeça de lista para 2027”, explicou Gonçalves.
Contudo, tal intenção terá sido contestada “nos corredores” durante o último encontro do partido.
Ceticismo sobre mudanças nos estatutos e futuro político
O certo é que o congresso extraordinário está agendado para dezembro, onde deverão ser debatidos este e outros temas. O presidente do MPLA terá a prerrogativa de indicar o candidato às próximas eleições presidenciais.
Será que a proposta terá pernas para andar?
O jurista Agostinho Canando mostra-se cético:
“Porque o Comité Central e o Bureau Político terão sempre alguma palavra a dizer se concordam ou não, e, por se tratar de várias cabeças dos principais membros do partido, não irão permitir que se faça o reajuste, principalmente se for a bel-prazer ou para satisfazer os interesses de uma única pessoa, nesse caso, o presidente do partido, João Lourenço”, afirmou Canando.
O tema também reavivou o debate sobre um possível avanço de João Lourenço para um terceiro mandato. Recentemente, Esteves Hilário, porta-voz do MPLA, disse que “não era assunto para o partido no poder”.
Para Agostinho Canando, “seria bom que João Lourenço, enquanto Presidente da República, esquecesse a ideia de um terceiro mandato, porque depois entraremos numa fase tão péssima que a saída dele demorará muito mais tempo para que Angola se recomponha”, acrescentou o jurista.
Fonte: DW