Em Maio de 2022, a Libéria parou de emitir passaportes diplomáticos após ter sido encontrado na casa de um empresário liberiano, detido nos EUA, um passaporte diplomático. O objectivo agora é passar todos a “pente fino.”
O governo da Libéria deu um mês a todos os titulares de passaportes diplomáticos e de serviço com prazo de validade de dois anos para procederem à sua devolução, sob pena de serem cancelados imediatamente caso não sejam entregue até 18 de Abril. Os cidadãos que se encontram fora do país devem dirigir-se às embaixadas e consulados da Libéria mais próximos para proceder à substituição do passaporte, segundo a ministra das Relações Exteriores, Sara Beysolow Nyanti, que alegou preocupações de “segurança nacional” para a troca, sem entrar em pormenores.
A ministra das Relações Exteriores anunciou ainda a suspensão imediata dos regulamentos dos passaportes que foram instituídos pela administração do ex- -presidente George Weah, em Julho de 2023, e o restabelecimento dos regulamentos de Março de 2016. A decisão surge três anos depois da suspensão do director do Departamento de Passaportes e Vistos, após a descoberta da existência de milhares de passaportes diplomáticos entregues irregularmente, revela a imprensa nacional.
“Os cidadãos que possuam múltiplos passaportes diplomáticos, oficiais e de serviço terão os passaportes extras revogados imediatamente. Aqueles com razões justificáveis para possuir múltiplos passaportes são aconselhados a entrar em contacto com o Departamento Jurídico do Ministério das Relações Exteriores para esclarecimentos”, informou a ministra da tutela, esta segunda-feira, dia 18.
Segundo Sara Beysolow Nyanti a emissão de passaportes diplomáticos e de serviço passará a estar sujeita a “critérios de elegibilidade”, cabendo ao Ministério cobrir os custos de substituição dos documentos “gratuitamente” a todos os que se apurar terem direito a ele.
“Esta suspensão dos Regulamentos Revistos de Passaportes de Julho de 2023 reflecte as medidas proactivas do governo para enfrentar os desafios de segurança, centrando-se na manutenção da integridade do sistema de passaportes da Libéria e no reforço das medidas de segurança fronteiriças”, frisou a ministra, citada pelo jornal The New Dawn.
Compra de passaporte por 150
Em Maio de 2022, a Libéria parou de emitir passaportes diplomáticos após ter sido encontrado na casa de Sheik Bassirou Kante, nos EUA, um passaporte diplomático, embora o empresário tido como pessoa próxima do ex-presidente George Weah não tivesse direito a ele.
Sheik Bassirou Kante, conhecido na Libéria como “Royal Gold”, foi detido em Abril de 2022 nos EUA por fraude electrónica e lavagem de dinheiro. Além do passaporte diplomático, tinha na sua posse passaportes de vários países, bem como documentos de identificação fraudulentos, refere o jornal The Independent Probe, adiantando que o governo anterior “foi bastante flexível na emissão de passaportes diplomáticos”.
Mas o problema vem de trás. Em 2012, o jornalista dinamarquês Mads Johan Brugger Cortzen, obteve um passaporte diplomático liberiano, através de uma rede online que lhe vendeu o documento por 150 mil dólares liberianos (o equivalente hoje a 774 USD). A compra do passaporte é reproduzida no documentário “The Amassador”, onde Brugger se faz passar por um empresário que tem como objectivo construir uma fábrica de fósforos na República Centro Africana.
Em 2021, o então director do Departamento de Passaportes e Vistos, Andrew Wonplo, foi suspenso do cargo por não conseguir explicar a existência de vários passaportes diplomáticos, havendo alegações de que, durante o seu consulado, vários milhares de passaportes diplomáticos foram entregues, muitos deles com o envolvimento directo do gabinete presidencial.
Fonte: Expansão