A indústria dos fundos de investimentos continua a crescer no País, mas praticamente não há diversificação das carteiras devido à falta de alternativas no mercado de capitais. Fundos têm a maior parte do dinheiro no sector imobiliário, mas movimentam mais títulos de dívida pública. O mercado ainda não é uma alternativa ao financiamento bancário.
O valor líquido global sob gestão das Sociedades Gestoras de Organismos de Investimento Colectivo (SGOIC) cresceu 16% no primeiro semestre, ao passar de 618,7 mil milhões Kz em Junho de 2023 para 716,9 mil milhões em Junho deste ano, de acordo com cálculos da imprensa com base nos dados disponibilizados pela Comissão de Mercado de Capitais (CMC). Grande parte dos activos da indústria estão concertados no sector imobiliário, representando 79% da carteira dos fundos de investimentos, enquanto os restantes estão praticamente investidos em títulos de dívida pública. Para a economia sobra muito pouco.
Em termos práticos, os Organismos de Investimento Colectivo (OIC) são entidades com ou sem personalidade jurídica que têm por objectivo o investimento colectivo de capitais obtidos junto dos investidores, de acordo com uma política de investimento previamente estabelecida, podendo assim ter a forma de Fundos de Investimento ou Sociedades de Investimento. Assim o valor líquido global da indústria dos OICs corresponde à diferença entre os activos e os passivos sob gestão.
Contas feitas, os activos dos OICs cresceram 14% para 766,9 mil milhões Kz, onde cerca de 605 mil milhões, o equivalente 79%, estão investidos no sector imobiliário, isto é, em bens imóveis como edifícios e terrenos, e incluindo rendas. A justificar a aposta dos fundos no imobiliário estão dois factores: a necessidade que os detentores destes activos (na sua maioria bancos) têm de maximizar a rentabilidade por via da transferência da gestão destes empreendimentos para fundos de investimento, por outro lado, os benefícios fiscais que a legislação oferece a imóveis na carteira de sociedades gestoras de investimentos colectivos.
Já os títulos de dívida pública são os mais movimentados a nível dos OICs mobiliários devido às taxas praticadas pelo Governo e apresentam menor risco para os investidores, uma vez que são os títulos mais movimentados na Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA).
Tal como defende o economista chefe da Eaglestone, Tiago Dionísio, grande parte dos investimentos mobiliários estão em títulos de dívida pública porque os fundos de investimento em Angola são maioritariamente detidos pelos bancos, e os bancos são os principais detentores da dívida pública angolana. “Olhando também para os dados da BODIVA, a quase totalidade dos instrumentos transaccionados em bolsa são títulos de dívida pública (BT, OT-NR e OT-ME) e é o sector bancário o principal responsável pelas transacções em bolsa quer do lado do comprador quer do vendedor”, apontou.
Já o CEO da Standard Gestão de Activos, António Catana, na grande entrevista da edição 791 do Expansão, comentou que, se o País pretende olhar para o futuro, “o mercado não pode estar dependente exclusivamente da dívida pública”, salientando que qualquer instrumento novo que apareça é uma excelente oportunidade para diversificar a carteira dos fundos de investimentos. “Mas não vamos dizer que, actualmente, aquilo que existe não é suficiente. Porque se não fosse assim, não teríamos tido a coragem de avançar com os nossos fundos abertos, mesmo num quadro de liquidez relativamente reduzida e de pouca diversificação”, argumentou.
Hemera lidera fundos imobiliários…
Até ao final de Junho, encontravam-se registados na Comissão do Mercado de Capitais (CMC) 34 OICs controlados por 11 sociedades gestoras. A Hemera Capital Partners, cujos fundos estão associados ao Banco Millennium Atlântico, é a líder de mercado dos OICs, detendo 45% do valor do valor líquido global sob gestão das sociedades gestoras de investimentos colectivos em Angola, devido à sua aposta no sector imobiliário
Esta sociedade tem sob gestão três organismos de investimentos colectivos, sendo um imobiliário (Pactual Property Fund), um mobiliário (Liquidez Prime Fund) e um fundo de capital de risco (Dual Impact Fund ), cujos activos ascendem aos 323,6 mil milhões Kz. Os últimos dados da Hemera relativos ao primeiro semestre de 2023 apontavam que o seu fundo imobiliário era composto por uma carteira com mais de 176 imóveis, divididos entre espaços comerciais, habitações (moradias e apartamentos), escritórios, armazéns/estaleiros e terrenos para desenvolvimento.
Ainda ao nível das sociedades gestoras que gerem fundos imobiliários, está a Independent Finance Advisors (IFA) que gere seis fundos de investimentos com um valor líquido sob gestão de 93,9 mil milhões Kz. Destes, três são fundos imobiliários, com destaque para o GAMA, que anteriormente pertencia à Hemera Capital, avaliado em 24,6 mil milhões Kz, que para além de gerir terrenos e alguns imóveis, também tem na sua carteira lojas do supermercado Alimenta Angola, segundo o relatório e contas de 2022. Outro fundo imobiliário gerido pela IFA, avaliado em 61,8 mil milhões Kz, é o fundo OMEGA, com unidades de participações do BNI, que também é banco depositário e entidade comercializadora. Entre os fundos geridos pela IFA está também o fundo de capital de risco do banco Económico, constituído em Agosto de 2022 pelos 40 maiores depositantes que tinham mais de 5 milhões USD no banco…
Fonte: Expansão