Esquecido no tempo, o antigo basquetebolista Ângelo Victoriano clama por maior reconhecimento das entidades de direito e da sociedade, após 17 anos de sucessivos feitos em clubes e selecções nacionais.
O ex-poste, nascido na província de Luanda, em 1968 (55 anos), iniciou-se em 1982, aos 14 anos, em provas não oficiais e dois anos depois (16) vinculou-se ao Petro de Luanda. Foi ao serviço dos “tricolores” que abriu caminho para uma promissora carreira, que acabou sendo primeiramente bem reconhecida (contra a natura) pela Federação Internacional de Basquetebol Associado (FIBA). Efectivamente, foi por via do órgão reitor mundial que o angolano beneficiou do melhor reconhecimento até à data, quando passou a integrar a restrita lista de “lendas” cujos nomes estão grafados no “Salão da Fama” da Fiba-Mundo“.
O acto decorreu após a conclusão do Congresso da entidade, a 23 de Agosto último, em Manila (Filipinas), antes do Campeonato do Mundo, onde a Selecção Nacional falhou o apuramento directo para os Jogos Olímpicos “Paris`2024”.
O irmão mais velho de três basquetebolistas, Justino Victoriano “Puna” e Edmar Victoriano “Baduna” (todos ex-craques) foi consagrado em uma lista que incluiu, entre outros, Penny Taylor (Austrália), Katrina McClain (EUA), Amaya Valdemoro (Espanha), Wlamir Marques (Brasil) e Yao Ming (China).
O segundo atleta angolano a integrar o Salão da Fama, depois de Jean Jacques, em 2013, foi recebido dia 15 pelo Ministério da Juventude e Desportos, na Galeria localizada na Cidadela, em cerimónia liderada pela ministra de Estado para a Área Social, Dalva Ringote.
Na ocasião, Ângelo Victoriano, oito vezes campeão africano pela Selecção Nacional (1989, 1991, 1993, 1995, 1999, 2001, 2003 e 2005), regozijou-se pela iniciativa do MINJUD, mas espera que se tenham abertas portas que o catapultem para uma mudança de vida, proporcional aos seus feitos.
Em entrevista à imprensa, à margem da actividade, o antigo jogador do Petro de Luanda e do 1.° de Agosto lamentou o facto de se quer possuir uma residência como lembrança do seu contributo ao desporto nacional, além de outras benesses. Disse pertencer a uma geração de jogadores que se entregou e deu tudo para o engrandecimento da modalidade e do desporto no geral, mas que nunca foi devidamente recompensada.
Indicou que jogou em um contexto diferente e com muito mais dificuldades que hoje, sacrificando a juventude em prol dos objectivos de Angola, mas que em termos de contrapartida e reconhecimento pouco se fez, comparativamente ao actual momento. Sem emprego e qualquer meio seguro de sustento, o ícone, que passou oito anos adoentado, frisou não ter uma vida que lhe garanta salário regular e que, às vezes, tem de “fazer das tripas coração” para alimentar a família.
Questionado se alguma vez recebeu apoios, o antigo capitão do “cinco nacional” respondeu peremptoriamente que não, acrescentando que ele, e tal como outros na sua condição, devia beneficiar de uma política de rendimento mensal. Fora das quadras, foi treinador-adjunto do 1.º de Agosto e da Selecção Nacional com o qual foi campeão africano na Líbia, em 2009, tendo o luso Luís Magalhães como chefe.
Em 2014 foi convidado pelo Governo da província de Malanje para desenvolver um projecto de massificação que não vingou. Conforme o interlocutor, foi a maior decepção da sua vida em termos sociais, por ter permanecido em Malanje por três anos sem o devido respeito, sem casa e nem salário.
“Nunca me receberam e nunca me senti tão mal como em Malanje. Marquei audiências com o governador, mas nunca fui recebido”, lamentou. Afirmou que enquanto jogador do 1.º de Agosto e do Petro de Luanda, tal como outros, foi sempre descontado pela Segurança Social, mas que actualmente não beneficia de uma pensão pós laboral, explicando ser uma questão que não consegue provar já que na altura não existia tal cultura.
Para ele, a Associação dos Atletas Olímpicos de Angola, onde é membro, pode ser um caminho para a valorização dos antigos praticantes fazendo advocacia para a integração em projectos de massificação porque existe formação desportiva e existe talento. No entanto, nem tudo tem estado menos bem.
Segundo a fonte da ANGOP, em 2014, foi feita uma campanha com o lema “um smash para a vida”, dirigida por pessoas singulares para ajudar o craque que padece de diabetes, restabelecer a saúde com tratamento na República de Cuba. Ângelo Victoriano lembra que, na ocasião, beneficiou igualmente de uma ajuda financeira por parte do Ministério da Juventude e Desportos, na altura liderado por Gonçalves Muandumba.
Reconhecido por sua resistência e capacidade de jogar em diversas posições no ataque, o destemido Ângelo alcançou o topo do pódio no “Afrobasket” em oito ocasiões, enquanto no cenário global disputou quatro Jogos Olímpicos e três Campeonatos do Mundo de Basquetebol da FIBA.
Confiável, trabalhador e inspirador, sua voz sempre pode ser ouvida no vestiário nos momentos difíceis das temporadas ou torneios, ajudando os companheiros a enfrentar os momentos difíceis e a manter o foco. Embora Angola tenha perdido, Ângelo jogou contra o “Dream Team” dos EUA nas Olimpíadas de 1992, significando que competiu contra a maior selecção de todos os tempos, que incluía estrelas como Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e outras figuras lendárias do desporto.
Na sua famosa carreira a nível de clubes, actuou no Petro Atlético de Luanda (1982-1992), Queluz de Portugal (1992-1993), Barreirense de Portugal (1993-1995), Petro Atlético de Luanda (1995-1996), ASA (1996-1997) e 1.º de Agosto (1997-2006).
Sagrou-se campeão nacional em dez ocasiões, oito vezes vencedor da Taça de Angola, oito vezes vencedor da Supertaça de Angola, duas vezes vencedor da Taça de Clubes Africanos e campeão da Liga Portuguesa da II Divisão em 1993. Ângelo Victoriano é agora, confirmadamente, uma lenda pela FIBA-MUNDO que clama por maior reconhecimento interno.
Fonte: Angop