A situação do Hospital Central de Maputo é crítica. O alerta é da direcção da maior unidade hospitalar que afirma que a agitação social pós-eleições está a aumentar entrada de pacientes feridos com armas de fogo, a ter um impacto negativo no “stock” de sangue e a condicionar a chegada de alimentos aos pacientes.
Pode começar a faltar comida aos mais de 900 doentes internados no Hospital Central de Maputo que tem capacidade para 1500 camas. O alerta é da directora clinica substituta, Eugénia Macassa, que reconhece as dificuldades dos fornecedores em fazerem chegar os camiões ao hospital.
“Os nossos fornecedores também não conseguem chegar à unidade sanitária. Não conseguimos ter os alimentos que precisamos para alimentar os nossos pacientes (…). Não há pacientes que ficam sem comida, mas corremos esse risco se não recebermos alimentos nas próximas horas”, referiu.
Eugénia Macassa afirma que, nas últimas horas, 62 pacientes vítimas de arma de fogo deram entrada na unidade hospitalar, sendo que duas pessoas acabaram por perder a vida.
“Foi feito todo o esforço para salvar essas duas vidas, mas chegaram num estado crítico que já não foi possível fazer grande coisa”, admitiu.
A directora clínica substituta reconhece que a agitação social pós-eleições está a ter um impacto negativo no “stock” de sangue.
“Dizer que um grande problema, nesta altura do ano; é o sangue. Temos tido dificuldades. Temos muitos doentes por trauma. Esta unidade sanitária consome em média 100 unidades por dia e essas unidades são acrescidas neste período do ano e, principalmente, na presença da situação que estamos a viver actualmente. Fizemos um apelo ontem e gostaríamos de agradecer porque temos recebido vários doadores que vêm fornecer-nos este precioso líquido que muita falta faz aos nossos pacientes”, explicou.
A médica reconhece ainda que há um défice actual de 200 profissionais de saúde, devido às dificuldades que existem para chegar à unidade sanitária.
“Apelamos que haja permissão para que os trabalhadores de saúde e as ambulâncias passem e assim possamos prestar os cuidados de saúde que os doentes que chegam ao Hospital central precisam”, disse.
De acordo com a plataforma eleitoral Decide, pelo menos 56 pessoas morreram e 152 foram feridas com armas de fogo, em Moçambique, desde segunda-feira, na sequência da contestação aos resultados das eleições gerais moçambicanas.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado Frelimo, como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane alerta que se avizinham “dias difíceis” para os moçambicanos, acrescentando que “ou a gente organiza o nosso país agora ou então nada feito”.
Os resultados das eleições gerais moçambicanas mostram, ainda, uma grande queda da Renamo, até agora maior partido da oposição. Ossufo Momade, candidato presidencial da Resistência Nacional Moçambicana, ficou na terceira posição com 6,62% dos votos. No parlamento, a Renamo passa a ser a terceira força com 28 deputados.
Ossufo Momade, presidente da Renamo, fala “num retrocesso da democracia”, distancia-se dos resultados anunciados pelo Conselho Constitucional e promete mobilizar a população para sair à rua pela verdade eleitoral. Momade voltou a pedir “a anulação deste processo”.
O candidato presidencial do MDM, Lutero Simango também não reconhece os resultados do escrutínio que dão vitória à Frelimo e ao seu candidato, Daniel Chapo. Simango ressalva que “Moçambique está em crise” e que a “anulação das eleições” “teria sido a decisão mais acertada” para “um ambiente de paz”.
Fonte: LUSA