Site icon

Galinha assada atrai camionistas em Chongorói

A venda de galinha assada no mercado informal situado no bairro da Camaia, junto à Estrada Nacional 105, no município de Chongorói (150 quilómetros a sul da cidade de Benguela), está a atrair camionistas angolanos, namibianos e sul-africanos que fazem do local um ponto de paragem obrigatória. As vendedoras querem juntar-se em cooperativa para beneficiarem de financiamento do Estado

Sara Mateus vende galinha assada há três anos, no mercado informal de Chongorói. Além de galinha, ela vende frango assado. A vendedora diz que os lucros variam. Esclareceu que há dias em que vende mais e noutros nem por isso. “Depende dos clientes. Há dias em que só vendemos churrasco e batata rena frita” disse a mulher, confessando que “o negócio é muito bom para quem tem a responsabilidade de sustentar a família”.

Disse que a galinha é natural e comparou-a com a mesma espécie vendida no município da Humpata, 22 quilómetros a oeste da cidade do Lubango, na província da Huíla. “Lá (na Humpata) é mais barata. A diferença consiste no tempero e na localização”, apontou. Mas frisou que a venda de carne de galinha ou frango assado no Chongorói chega a ser mais lucrativa, em função do grande fluxo de passageiros. 

Victória Ngueleia é outra vendedora de  galinha assada. É sócia de uma prima. As duas jovens fazem do negócio uma actividade diária. Segundo ela, em média, vendem entre 20 a 30 churrascos por dia. 

Por sua vez Tia Fernanda, como é carinhosamente tratada, na casa dos 45 anos, mora no bairro Calohanda e é muito conhecida porque vende galinha assada, inclusive por encomenda, há cerca de 12 anos.  Tia Fernanda gabou-se de até ter clientes oriundos da Namíbia e da África do Sul. “Muitos automobilistas, sobretudo camionistas sul-africanos e namibianos, que circulam na Estrada Nacional, conhecem-me bem. Às vezes, mesmo estando ainda no Cunene, Huíla ou Luanda, para onde levam as suas mercadorias, ligam a encomendar o meu churrasco”, disse.

Segundo ela, os camionistas e turistas da Namíbia e da África do Sul têm o mercado informal do Chongorói como paragem obrigatória. O facto de Tia Fernanda cumprir rigorosamente os prazos de entrega das encomendas fez com que os seus clientes ganhassem confiança nela. A vendedora disse que no início não foi fácil. Confessou que começou vendendo, em média, duas galinhas por dia. Iniciou o negócio com dinheiro emprestado e, actualmente, explicou, com o fundo obtido da divisão dos lucros, criou o seu próprio negócio. “Eu estava insatisfeita com o volume de venda. A mesma amiga que me emprestava o dinheiro deu-me um conselho que mudou tudo. Ela aconselhou-me a procurar um ponto onde tivesse bastante gente circulando, como é o caso do mercado informal, onde estou até hoje”, afirmou.

Deu a conhecer que  compra as galinhas entre 2.500 e 4 mil kwanzas,  detalhando que os pedaços de carne que ela vende variam entre 500 e mil kwanzas.

Tia Fernanda tem como colegas no negócio da galinha asssada a Nandinha, a Mãezinha, a Jú, a Judith Bela, a Linda, a Tentinha, a tia Esmeralda, a Bia e a conhecida Mãe Fina. Todas juntas vendem diariamente entre 80 e 100 galinhas assadas.

Angelina Cassungo Mateus negou peremptoriamente que a venda de galinha assada a tenha tornado rica.  “Não sou rica. Estamos a trabalhar com o fundo alheio, de onde subtraímos apenas os lucros”, disse, acrescentando que depois de tirar as galinhas e vender a carne, devolve o dinheiro do fundo das patroas. “Só tiramos o lucro, o que é pouco rentável”, lamentou.

Criação de cooperativa

As vendedoras, disse Angelina Cassungo Mateus, têm o projecto de criar uma cooperativa para beneficiarem de crédito do Estado. Segundo ela, à semelhança do que acontece com as camponesas, também é possível o Governo Provincial de Benguela, através da Administração Municipal do Chongorói, incentivar as vendedoras de galinha assada a criarem uma cooperativa ou associação. 

“Precisamos de ajuda. Queremos crédito para evitarmos a dívida. Que o Governo veja esse problema. São muitas senhoras que vendem churrasco mas dependem de outras pessoas. Preferimos ficar a dever ao Governo e não às  particulares”, disse Adelina Cassungo Mateus, em nome das colegas.

Tukayana Pedro, natural de Luanda, é motorista há vários anos e  encontrámo-lo a degustar  o churrasco do Chongorói. “Quando venho de Luanda ou da Huíla paro aqui”, assegurou.

“A venda é 24/24 horas. O atendimento é ágil. Dificilmente demora. A única coisa que atrapalha um pouco é o tempero. Mas ajuda muito. Imaginas, a pessoa viaja e, às vezes, não come nada. Com o churrasco é possível saciar a fome”, completou.

Além do mercado, em toda a sede municipal de Chongorói há gente a vender galinha assada. É um negócio simples de se começar, mas requer, também, paciência.

Casada com João Javala, motorista,  Cristina disse ao Jornal de Angola que todo domingo, o seu esposo vai comprar uma galinha assada, por ser rápido, quando regressam da igreja. Explicou que os pedaços são baratos e as senhoras que vendem “já deixam tudo cortadinho”.

Paulinha disse que leva uma vida corrida no Chongorói. Professora numa das localidades da circunscrição, trabalha fora durante várias horas e quando chega a casa fica sem tempo para cuidar do almoço para os filhos que vão à escola. A opção, disse, às vezes, é comprar carne ou frango assado, por ser mais rápido.

“É quase sempre a mesma correria. O almoço quando atrasa estrangula logo o horário do resto do dia”, disse, acrescentando que “gasta-se bem” com a compra de carne de galinha ou frango assado.

“Melhor churrasco de Angola” 

O administrador municipal de Chongorói, Ernesto Pinto, realçou o contributo das mulheres nas actividades que visam criar renda nas famílias. Sobre a venda de carne assada, o responsável disse que o mercado ainda é considerado informal. Explicou que a estrada que atravessa o município é de carácter internacional “e o mercado de Chongorói funciona 24/24 horas”, acrescentando que “as opiniões dos viajantes dão conta que o melhor churrasco de Angola está no Chongorói”.

Salientou que, a par dos nacionais, os sul-africanos e namibianos que circulam na Estrada Nacional 105 têm o local como paragem obrigatória, devido à carne assada. Exortou aos empresários que actuam no sector da hotelaria a investirem no Chongorói construindo hotéis. Segundo o administrador, com a estrada,  poderão ganhar muito mais.

Reconheceu que o que se produz financeiramente no mercado informal de Chongorói ainda é insuficiente para sustentar as necessidades. “Realmente, temos ajuda do Executivo através das quotas mensais e para cobrir algumas despesas. Os valores que são recebidos do mercado são ínfimos”.

Disse que a população de Chongorói vive, essencialmente, da agricultura. Explicou que se o camponês vender uma abóbora, ou um quilo de fuba de milho, só pode contribuir com 10 ou 20 kwanzas. Esses valores, informou, às vezes nem chegam para a manutenção do próprio mercado, porque deve ser depositado na Conta Única do Tesouro (CUT). Referiu que é a partir da CUT que são recebidas as receitas locais.

Fonte: JA

Exit mobile version