As dificuldades na obtenção de moeda estrangeira e a forte desvalorização cambial que tem se verificado desde o ano passado estão na base da queda das remessas dos expatriados. Por outro lado, a diáspora angolana parece não ter interesse em regressar ao País e guarda o seu dinheiro lá fora. Portugal e China são os principais destinos das remessas dos expatriados.
Os estrangeiros a viver em Angola enviaram cerca de 60,4 milhões USD em remessas para o exterior no primeiro trimestre deste ano, o que representa uma redução de 68% face aos 189,4 milhões USD contabilizados no mesmo período do ano passado. Contas feitas, imigrantes enviaram menos 129,0 milhões USD nos primeiros três meses do ano, segundo cálculos da imprensa com base nos relatórios trimestrais sobre as remessas e outras transferências pessoais do Banco Nacional de Angola (BNA).
Na base está a falta de divisas e a forte desvalorização cambial que se verificou no ano passado, o que tornou os custos com as transferências mais altos, uma vez que são precisos mais kwanzas para comprar dólares ou euros. Com o kwanza mais fraco, menos disponibilidade de moeda estrangeira para atender às necessidades dos clientes e com elevada procura dos clientes, os bancos apresentaram grandes dificuldades para transferir divisas para o exterior, e muitas transferências levavam cerca de três a quatro meses para serem concluídas, o que acabou por impactar negativamente também nas remessas dos imigrantes e outras transferências para o exterior.
Por outro lado, a diáspora angolana parece não ter interesse em regressar ao País e guarda o seu dinheiro lá fora. Entre Janeiro e Março, os angolanos a trabalhar no estrangeiro enviaram apenas 3,4 milhões USD para Angola, uma queda 12% face aos 3,8 contabilizados no mesmo período de 2023. O que Angola recebeu dos seus emigrantes na diáspora vale apenas 6% das remessas que os expatriados enviam para os seus países de origem.
Assim, o saldo das remessas e outras transferências pessoais registou um défice de 60,5 milhões USD, à semelhança dos períodos anteriores, quase na mesma proporção das remessas enviadas para o resto do mundo, já que as remessas recebidas do exterior continuam a registar valores muito baixos.
As remessas são rendimentos enviados pelos residentes de um país para outro país, e representam uma importante fonte de rendimento para as famílias, potenciando o crescimento e o desenvolvimento. Nos países em desenvolvimento, as remessas representam uma soma considerável, o que as tornam a segunda fonte de financiamento destes países, ficando somente atrás do investimento directo estrangeiro.
As condições macroeconómicas do País e a falta de instrumentos financeiros atractivos ou alternativos ao investimento são algumas das causas da crescente saída de remessas do País, tal como se verificou entre 2019 e 2022.
Tal como defende o economista Wilson Chimoco, a redução das remessas de imigrantes em Angola deve-se às dificuldades no acesso às divisas no País.
Quanto à redução do envio dos angolanos que residem e trabalham lá fora, o economista acredita que ter a ver com a falta de confiança. “Penso ser uma questão de confiança e baixo rendimento da diáspora angolana. Grande parte de quem decide sair de Angola para uma experiência lá fora, fá-lo mais por questões de formação ou se está a procurar manter-se lá fora. E claro, pelo alto nível de vida lá fora a capacidade de fazer poupança e os enviar para o país de origem é reduzida”, justificou.
Assim, para Wilson Chimoco, o padrão da disposta angolana, que é jovem e boa parte dela é estudante e dependente dos rendimentos dos pais ou do Estado para se manter lá fora, deve ser a principal razão. Outro factor, levantado pelo economista, é a dimensão e a qualidade em termos de rendimento da diáspora. “Quantos angolanos temos lá fora? E quantos imigrantes temos em Angola?”, questiona.
“No geral os angolanos estão lá fora para se formar, enquanto os imigrantes que entraram em Angola estão aqui para trabalhar, logo têm mais rendimentos para enviar. E mais, os imigrantes em Angola confiam nos seus países de origem. Os angolanos não. E isso afecta significativamente a balança”, rematou.
Há ainda que ter em conta o facto de que muitos angolanos que vão lá para fora já não pretenderem regressar ao País, até porque muitos acabam por criar famílias nos países que os acolhem, entrando também nos sistemas sociais desses países, que lhes garante, entre outros, acesso a saúde gratuita e reformas por velhice.
Fonte: Expansão