As previsões feitas por várias instituições internacionais apontam a um forte abrandamento do crescimento económico que pode ir até à recessão. Cenário marcado pela depreciação do kwanza, retirada dos subsídios à gasolina, alta da inflação e dificuldades de financiamento.
O quadro macroeconómico deteriorou-se face ao que estava projectado no início do ano e as instituições internacionais e nacionais já estão a rever em forte baixa as previsões de crescimento económico da economia nacional. O Governo é o mais optimista, o FMI é moderado, enquanto o BFA e vários especialistas apontam já a uma recessão económica. O cenário negativo para a economia angolana é marcado sobretudo pela queda das receitas fiscais que resultaram da quebra da produção petrolífera, já que foram produzidos menos 17 milhões de barris no I semestre face ao período homólogo.
Esta queda da produção está na base para a depreciação da moeda nacional e da aceleração da inflação. Mas existem também outros factores como a retirada dos subsídios à gasolina, que agravou o poder de compra das famílias, e as dificuldades em obter financiamentos externos pelo Governo, já que lá fora os juros estão hoje em níveis incomportáveis para a sustentabilidade da dívida angolana, o que obrigou a cortar nos investimentos.
Segundo o Executivo, está agora projectada uma derrapagem orçamental que deverá chegar aos 7,4 biliões Kz até ao final do ano, o que obrigou a cativação de 50% das despesas do OGE. Assim, o Governo viu-se forçado a rever em baixa as perspectivas de crescimento da economia de 3,3% para 1,9%, previsão que alguns especialistas consideram ser optimista perante o actual quadro macroeconómico. Por outro lado, o gabinete de estudos do BFA é o mais pessimista. Os especialistas do banco apontam para uma recessão económica de até 1,4% este ano, com a inflação a aumentar para 20%, devido principalmente à desvalorização da moeda nacional.
Já o Centro de investigação económica da Universidade Lusíada de Angola (CINVESTEC) também espera tudo menos crescimento económico. Aponta a uma queda do PIB real até -1,0%, com o PIB nominal deflacionado a cair para baixo dos -20%, pressionado pela redução dos rendimentos do petróleo. Ainda assim, a instituição liderada por Heitor Carvalho considera que não há condições de estabilidade em todo o mundo para se poderem fazer previsões económicas acertadas. “Vivemos um período de grande instabilidade e alteração que tornou a generalidade dos modelos de previsão inoperantes.
A previsão que fazemos é meramente qualitativa. Com estas ressalvas, a nossa perspectiva é de que o PIB em medidas de volume decline para valores negativos moderados (menos de 1%) nos próximos trimestres do ano”, disse Heitor Carvalho. Também a consultora BMI, do grupo Fitch Solutions, aponta a uma queda do PIB em 0,7%, devido à forte desvalorização do Kwanza, considerando que o “aumento da inflação vai impactar o consumo das famílias e no investimento das empresas, o que coloca ainda mais pressão descendente na actividade económica do sector petrolífero”.
Já o Centro de Investigação Social e Económica da Faculdade de Economia da Universidade Agostinho Neto (CISE) espera um crescimento inferior ao registado em 2022. “Tudo começou com os gastos excessivos feitos em ano de eleições (2022). Para piorar, em 2023 verificámos um declínio na produção petrolífera”, disse Fernandes Wanda, economista e coordenador do CISE. Para Fernandes Wanda, se a economia fosse menos dependente do petróleo, “se a produção de alimentos fosse uma realidade no mandato anterior e se a governação tivesse feito poupanças, hoje as coisas seriam diferentes”.
Entretanto, há as instituições com previsões mais moderadas, que apontam apenas a uma desaceleração do crescimento face a 2022 e face às suas projecções iniciais para 2023. É o caso da consultora Oxford Economics, que reviu em baixa a previsão de crescimento de Angola de 2,5% para 1,7%, e piorou a estimativa para a inflação, esperando uma subida de 16,3% este ano.
Quanto ao Fundo Monetário Internacional (FMI), de acordo com um comunicado sobre a avaliação pós-financiamento feita ao País emitido esta quarta-feira, também reviu em baixa a previsão de crescimento económico de 3,5% este ano para 0,9%. “Prevê-se que o crescimento abrande para 0,9% em 2023 (devido a uma estimativa de fraca produção petrolífera este ano), antes de estabilizar em cerca de 3,4% a médio prazo, apoiado pela agenda de reformas estruturais e de diversificação.
Prevê-se que a inflação aumente temporariamente em 2023/24 devido ao aumento dos preços da energia relacionado com a reforma dos subsídios aos combustíveis, abrandando posteriormente”, refere o comunicado da instituição multilateral
Fonte: Expansão/AN