São as consequências da subida das taxas de juro no I trimestre deste ano, que resultam não só do aperto da política monetária, mas também da corrida dos bancos ao mercado interbancário para garantir liquidez para comprar divisas ao Tesouro. Taxas de juro mais altas significam maior esforço de famílias e empresas para cumprirem as suas obrigações.
O malparado na banca comercial cresceu 334,7 mil milhões Kz entre Dezembro do ano passado e o final do I trimestre deste ano, equivalente a cerca de 400 milhões USD, de acordo com cálculos da imprensa com base nos Indicadores de Solidez Financeira do Sector Bancário do Banco Nacional de Angola (BNA).
No final de 2023, o malparado na carteira de crédito da banca era de 15,1%, passando para 19,7% em Março. Ainda assim, em Fevereiro o malparado foi superior, já que, de acordo com os dados do BNA, no final do segundo mês do ano “valia” 20,9% da carteira de crédito dos bancos.
No final do ano passado, o crédito bruto bancário era de quase 7,9 biliões Kz, pelo que o malparado de 15,1% equivale a pouco mais de 1,2 biliões Kz. Já em Março o crédito bruto cresceu 1,5% para quase 8,0 biliões Kz. Assim, os 19,7% de malparado representam quase 1,6 biliões Kz no final de Março, equivalentes a 1.890 milhões USD à taxa média de câmbio do BNA durante o período. Em kwanzas, o malparado na banca tem hoje o segundo valor mais alto desde Maio de 2020, quando superava os 2,1 biliões Kz.
Por cada 1.000 Kz de crédito bruto do sistema financeiro nacional, 197 Kz estavam malparados no final Março. Longe vão os tempos em que o malparado valia 34,5% do crédito bruto da banca, como aconteceu em Junho de 2019. Como o total do crédito bruto era de 4,9 biliões Kz, à taxa de câmbio da altura equivalia a 14.494 milhões USD. Ou seja, o malparado em Junho de 2019 era de 5.000 milhões USD. Só passado um ano é que baixou substancialmente, quando em Junho de 2020 a Recredit “assumiu” o crédito em incumprimento do maior banco público, o BPC. E baixou para 2.026 milhões USD, o que é um sinal do peso que o malparado do BPC tinha no agregado do crédito em incumprimento de toda a banca.
De acordo com o economista Mateus Maquiadi, o aumento do malparado está directamente relacionado com o “aumento das taxas de juros Luibor indexantes para o crédito ao longo de todo o primeiro trimestre e ainda o ambiente de falta de confiança dos agentes económicos”, que resulta de problemas como a inflação, a falta de divisas que é essencial para o comércio”, que têm afectado a actividade empresarial.
E há que ter em conta, também, a subida da taxa básica de juro do BNA em Novembro do ano passado. A LUIBOR (acrónimo inglês de Taxa Interbancária de Oferta de Fundos do Mercado de Luanda) é a taxa que os bancos cobram quando emprestam dinheiro entre si e serve de referência para o crédito a clientes. Isto é, se a taxa básica serve de referência às taxas LUIBOR, estas servem de referência às taxas de juro de crédito a clientes. Normalmente, quando alguém vai ao banco pedir crédito, a instituição bancária cobra-lhe uma taxa LUIBOR mais uma margem que depende do risco desse cliente. Entre Dezembro de 2023 e Março de 2024, as taxas LUIBOR a várias maturidades dispararam. Por exemplo, a LUIBOR a nove meses passou de 14,72% para 17,15%, o que significa que os créditos indexados a esta maturidade viram as suas prestações subir exponencialmente, agravando as dificuldades das famílias e das empresas em cumprir as suas obrigações.
Segundo Mateus Maquiadi, a subida das LUIBOR no I trimestre deve-se, essencialmente, às vendas de divisas do Ministério das Finanças no mercado cambial. “Como o BNA não abriu as facilidades, os bancos tiveram de recorrer em muito no mercado monetário interbancário, o que pressionou as taxas para cima”, sublinha.
Fonte: Expansão