Há vários meses que a população da província de Cabinda, sobretudo os banhistas e pessoas preocupadas com o meio ambiente, reclamam da presença de produtos químicos nos mares naquele território e acusam as empresas petrolíferas de deitarem, constantemente, resíduos de petróleo na costa. A direcção provincial da Indústria, Recursos Minerais e Petróleo de Cabinda assegurou, ao Novo Jornal, que está a investigar o caso.
Os populares contam que as indústrias petrolíferas em Cabinda não respeitam as normas estabelecidas e acusam o Governo Provincial de não tomar medidas contra as empresas de exploração de petróleo.
“Todos os meses aparecem quantidades de peixes mortos à beira-mar e sem explicação em muitas praias de Cabinda. Na Europa e em outras partes do mundo a população levanta-se para se manifestar contra a degradação do meio ambiente, infelizmente, aqui em Cabinda, se tentarmos fazer manifestações, logo somos vistos como FLEC”, explicou Adão Jaime, residente em Cabinda, que acrescentou que “é realmente um massacre ambiental o que as empresas petrolíferas fazem em Cabinda”.
Fernando Bicoco, também residente, contou que o aparecimento de produtos químicos nos mares da província é já uma questão antiga que tem sido ignorada pelas autoridades competentes.
“Os mares estão todos sujos. É estranho isso! Nas outras províncias, não, as águas são limpas. Estão a estragar a nossa costa e as nossas autoridades fingem que não vêem isso”, lamentou.
Um cidadão que preferiu não ser identificado disse que uma grande empresa petrolífera usa, nos mares de Cabinda, um produto muito perigoso para dissolver o petróleo bruto que se chama “Desemulsificante”.
“Todo angolano deveria conhecer essa palavra e saber identificar a presença de “desemulficantes” na água do mar. É um químico capaz de dissolver petróleo bruto, a sua composição é certamente cancerígena para os seres humanos”, explicou.
“Há décadas que vejo a nossa costa marítima banhada de uma espuma estranha que se confunde com a espuma natural das ondas do mar”, prosseguiu.
“Após presenciar o processo de limpeza de um derrame de petróleo, apercebi-me que a espuma misteriosa era um químico perigoso”, clarificou, acrescentando que “empresas petrolíferas usam esse químico e a população não é informada dos efeitos colaterais do mesmo”.
Para o devido esclarecimento sobre este assunto, o Novo Jornal contactou o secretário provincial de Cabinda da Indústria, Recursos Minerais e Petróleo, Henrique Bitebe, que não avançou muitos pormenores, tendo apenas assegurado que o assunto está a ser investigado.
“Vemos o que se passa. O assunto ainda está a ser investigado”, disse o responsável pela Indústria, Recursos Minerais e Petróleo de Cabinda, sem avançar mais pormenores.
De realçar que o Governo angolano autorizou, em Maio último, através do Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás (MIREMPET), a petrolífera Cabinda Gulf Oil Company (CABGOC) a despejar resíduos do crude directamente na costa de Cabinda.
Segundo o documento do MIREMPET, a que o Novo Jornal teve acesso em Setembro último, assinado por Euclides de Oliveira, o Executivo assegura que depois de um processo de consulta junto da ANPG – Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, o pedido da companhia petrolífera norte-americana foi aprovado “por incumbência superior”.
“Somos a informar que o Ministério dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás e após exaustiva análise do vosso pedido e ouvida a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), aprovou, de forma excepcional, o vosso pedido de extensão da moratória ao cumprimento do artigo 4.º do Decreto Executivo n.º 97/14, de 8 de Abril, até ao dia 31 de Julho de 2023”, lê-se no documento.
A província de Cabinda situa-se na região mais ao norte do País, e faz fronteira com a República do Congo Brazaville e a República Democrática do Congo.
Fonte: NJ