Perante a aceleração da taxa de inflação mensal desde Fevereiro, acompanhado da crise cambial com a depreciação do kwanza, o Banco Nacional de Angola (BNA) deixa a política monetária inalterada sem respostas aos mercados. Especialistas alertam que o banco central praticamente desvalorizou a inflação, que em termos reais será bastante superior àquela que tem sido anunciada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Assim, o Comité de Política Monetária (CPM) decidiu manter a Taxa BNA em 17%, bem como as taxas de Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez e Facilidade Permanente de Absorção de Liquidez em 17,5% e 13,5%, respectivamente. A decisão de manutenção das taxas de juro directoras foi justificada pelo facto de o CPM considerar que o aumento de preços observado, essencialmente em Agosto, derivou de factores sazonais e da insuficiência de oferta de bens e serviços, num contexto em que a procura interna se manteve reprimida e a taxa de câmbio relativamente estável”. “Tal decisão assenta ainda no pressuposto de que o comportamento da inflação continuará a ser determinado, fundamentalmente, quer por factores sazonais, quer por desequilíbrios entre a procura e a oferta”, disse o governador do BNA, Manuel Tiago Dias, durante a conferência de imprensa.
Esta reunião decorreu no Sumbe, Cuanza Sul, pelo que a presença de jornalistas foi praticamente nula. Assim, ninguém questionou o governador como é que num periodo em que houve falta de oferta de bens e serviços, mas que a procura também esteve reprimida, como é que se justifica o aumento dos preços, já que a teoria da lei de mercado não bate nesta justificação.
Entretanto, o economista Wilson Chimoco olha com “bastante cepticismo e preocupação” para as decisões do banco central. “Primeiro, porque a política monetária está a tornar-se irrelevante para os actuais desafios com a inflação, e segundo, porque o BNA quer atribuir responsabilidade à política monetária que não está na lei. E terceiro, porque vejo que se está a voltar a colocar a política monetária ao serviço dos objectivos do Governo e não da inflação”, elaborou.
Assim, Chimoco entende que a decisão do CPM terá um impacto negativo na economia, tanto na gestão de expectativas dos investidores como na estabilidade dos preços no médio prazo. Já o economista e consultor Maximiano Mwende, entende que o banco central continua a ter uma posição modesta, afastando- -se um pouco da problemática actual da economia que tem que ver com falta de crédito à economia real e das medidas que podem ser tomadas na busca da promoção do crescimento económico.
“Obviamente que o banco central acredita piamente que a inflação é um fenómeno monetário em todo o lugar e a todo tempo, e por esta via sendo o principal objectivo do BNA.
Assim o banco central praticamente amarra-se a este objectivo, apresentando um posicionamento muito cauteloso e pouco atrevido”, disse. Maximiano Mwende argumenta também que o BNA devia ser mais “ousado”, uma que o País está numa “situação económica muito debilitada, onde as empresas não conseguem rentabilizar os seus recursos, muitas empresas estão a trabalhar apenas para pagar salários e vão despedindo trabalhadores. A isto, é associado o aumento da inflação, que com nível elevado de desvalorização da moeda nacional, faz com que o kwanza valha cada vez menos”. Já o economista Mateus Maquiadi argumenta que a decisão do BNA não terá qualquer impacto sobre a economia, já que não se mudou nada. “O BNA está a tentar ver até que ponto os preços irão subir. Penso que já em Setembro vamos ver a inflação ficar acima da meta que o BNA definiu. Não vejo um novo aumento dos juros de referência”, disse.
Ainda assim, para Maquiadi a decisão do BNA foi de encontro com as suas expectativas de manutenção dos instrumentos da política monetária. “Apesar de a inflação ter voltado a subir e existirem ainda evidências de que vão continuar a subir, a inflação homóloga ainda está bem abaixo dos níveis actuais das taxas de juros directoras e, portanto, subi-las não faria tanto sentido agora”, disse o economista.
Fonte: AN