Apesar de o apoio à democracia registar uma queda de 7 pp em relação à década anterior, 80% dos africanos rejeitam governos autoritários, 78% não querem um governo de partido único e 66% recusam um governo militar. Corrupção, eleições de baixa qualidade, impunidade e falta de responsabilização minam democracias.
O apoio à democracia continua forte em 39 países analisados pelo Afrobarómetro, com 66% dos cidadãos inquiridos num período que vai de 2021 a 2023 a preferirem a democracia a qualquer outro sistema de governo, mas Angola, com 47%, está entre os cinco países onde menos de metade dos cidadãos manifestam apreço pela democracia. A satisfação com a democracia em Angola também é baixa, com apenas 38% dos inquiridos a considerarem que o país é uma democracia (completa ou com pequenos problemas) e só 24% a manifestarem-se razoavelmente/muito satisfeitos.
A lista dos que preferem a democracia é liderada pela Zâmbia, com 87%, e fecha com o Mali, onde apenas 39% dos inquiridos escolhe a democracia a outras formas de governo. Já a África do Sul, com 43%, foi o que registou a pior queda (-29 pp) em relação à década anterior (2011/2013), altura em que 72% dos sul-africanos inquiridos manifestavam preferência pelas eleições.
Apesar de o apoio à democracia registar, em média, uma queda de 7 pontos percentuais (pp) em relação à década anterior, 80% dos africanos rejeitam os governos de um líder forte, 78% não querem um governo de partido único e 66% recusam um governo militar, com uma média de 42% a recusar liminarmente intervenção militar e 53% a responder que os militares podem intervir quando os líderes “abusam do poder para os seus próprios fins”.
Mas uma coisa é o apoio às eleições e outra é o nível de satisfação com a democracia. Menos de metade (45%) dos africanos inquiridos acham que os seus países são maioritariamente ou completamente democráticos e apenas 37% dizem-se satisfeitos com a forma como a democracia funciona nos seus países. A satisfação com a democracia caiu vertiginosamente em algumas das democracias mais importantes de África, incluindo Botsuana (-40 pp), Maurícias (-40 pp) e África do Sul (-35 pp), refere o relatório do Afrobarómetro, que documentou as aspirações e experiências democráticas dos cidadãos nos últimos 25 anos. Em Angola a satisfação com a democracia melhorou, mas mantém níveis muito baixos, tendo passado de 17% para 24%, entre 2019 e 2022.
Corrupção e eleições de baixa qualidade
Este relatório do Afrobarómetro, o primeiro de uma série anual que aborda vários temas que interferem com a vida das pessoas, abrange mais de uma década e inclui os resultados da última ronda de pesquisas nacionalmente representativas, em 39 países, que representam 75% da população do continente africano. Os resultados de Angola têm por base inquéritos a 1.200 angolanos, realizados entre 9 de Fevereiro e 8 de Março 2022, pelo parceiro nacional Ovilongwa – Estudos de Opinião Pública, com base numa “amostra representativa, aleatória, estratificada e probabilística” de todo o país.
“Em poucas palavras: os africanos querem uma governança mais democrática do que estão a obter, e as evidências sugerem que nutrir o apoio à democracia exigirá o fortalecimento da integridade no governo local e da responsabilização oficial”, resume o Afrobarómetro, concluindo que “o aumento da corrupção no governo local, eleições de baixa qualidade, impunidade para infractores e falta de responsabilização presidencial parecem minar o apoio popular à democracia”.
“Combater essas falhas políticas – nutrindo a democracia, fortalecendo a integridade e a responsabilização, coibindo a impunidade e garantindo a qualidade das eleições – deve ser uma prioridade para os governos africanos, bem como para os actores regionais, pan-africanos e internacionais comprometidos com o fortalecimento da democracia no continente”, defende a organização não-governamental, sediada no Gana, que é responsável pela realização de pesquisas e armazenamento de dados estatísticos em 39 países africanos.
Fonte: Expansão