Nunca houve, na história democrática angolana, sendo que para o resto do mundo seja ainda uma questão de estudo, uma organização política não legalizada que tenha conseguido a proeza de ter seus membros como deputados à dimensão do que fez o PRA-JA. E há a sensação quase generalizada de que a manutenção do poder pelo MPLA e/ou a alternância política pela UNITA esteja dependente do passo a seguir de Abel Chivukuvuku, codificadamente tratado por “Cavalo Branco” por alguns dos seus mais fiéis.
O antigo delfim de Jonas Savimbi, líder fundador da UNITA, Abel Epalanga Chivukuvuku, que acabou por deixar o partido em 2012, depois de 38 anos de militância, está a ser visto pelos seus e por diferentes observadores apartidários como um dos maiores negociadores políticos do presente século.
Em causa estão as engenharias políticas que tem montado para continuar na ‘pole position‘ da política doméstica, apesar do tempo e os embates.
O presente texto analítico não pretende observar o mérito das engenharias, se são traiçoeiras ou genuínas de acordo com a causa que a oposição diz defender, mas há um detalhe que os seus detractores na oposição se têm esquecido: desde 2009 Abel Chivukuvuku vem deixando claro que o seu sonho é ser “Presidente dos angolanos”, e diz mesmo, desde sempre, que os “partidos são meros instrumentos para lá chegar”.
E nos últimos dias passou a acrescentar em resposta aos seus críticos que, “não faria sentido criar partidos se o objectivo não fosse o poder”.
No caso vertente, numa matéria publicada pelo Novo Jornal, em 2020, uma matéria, que, diga-se, fez história, em que o órgão denunciara a existência de um alegado plano do MPLA de perseguir o presidente da UNITA, Adalberto Costa Júnior, Abel Chivukuvuku, de acordo com o órgão, foi tido como “fragilizado” no referido documento citado pelo jornal.
Na altura, havia a sensação de que a vida política de Abel Chivukuvuku acabaria por aí ou que, no mínimo, relegar-se-ia a escrever livros, dar palestras ou aulas, mas todos estes vatícionios não tiveram lugar.
Como já fazia questão de advetir, apesar de suas tentativas de criar o próprio partido, o PRA-JA, terem sido constantemente barradas pelo Tribunal Constitucional, ainda assim poderia participar nas eleições-gerais de 2022.
Para surpresa de muitos, num acto que deixou atónito parte significativa dos angolanos, inclusive os próprios militantes da UNITA, Chivukuvuku participou nas eleições supracitadas como o segundo cabeça de lista da UNITA, ou seja, como candidato a vice-Presidente da República pela lista da UNITA.
O facto era, até então, impensável dado não só pelo modo como abandonou a UNITA, mas também pela perda de influência que a UNITA conheceu face à sua saída do partido, bem como o estílo tradicional de certos altos quadros da UNITA. Mas aconteceu.
Como jamais visto na história democrática angolana, quiçá do mundo, no âmbito do acordo celebrado com a UNITA, o PRA-JA conseguiu fazer eleger 13 deputados à Assembleia Nacional, apesar de na altura ter sido apenas um projecto partido.
E por hoje, face à postura de Abel Chivukuvuku, que demonstra não estar, à primeira, predisposto a atrelar novamente a sua organização na lista da UNITA, ou seja, participar nas eleições previstas para 2027 sob a nomenclatura e símbolos da UNITA, relegando assim para o segundo plano o seu próprio partido, ganha força a perspectiva de que a manutenção do poder pelo MPLA e/ou a alternância política pela UNITA esteja dependente do passo a seguir que Abel Chivukuvuku for marcar.
Em diferentes segmentos refere-se que, apesar da insatisfação popular face à governação, o feito inédito eleitoral conseguido pela UNITA em 2022, resultou em parte da unidade criada com o Bloco Democrático, mas sobretudo pelo PRA-JA, tendo em conta a importância da imagem de Abel Chivukuvuku junto da sociedade.
Ainda no âmbito da parceria que levou o PRA-JA a eleger deputados, a UNITA atribui ao PRA-JA 20% da dotação orçamental vinda da Assembleia Nacional.
Para lá do acordo com a UNITA, vale também recuarmos para 2012. Nesse ano, Abel Chivukuvuku que não tinha partido, liderou a CASA-CE, uma coligação formalmente criada por quatro partidos.
Abel Chivukuvuku tem demonstrado ao longo dos anos uma capacidade extraordinária de negociação que o coloca sempre na ‘pole position‘, bem como aos seus.
Por exemplo, na CASA-CE, além de ele ser o presidente mesmo não tendo partido, os seus apoiantes internos, igualmente sem partidos, ocuparam na altura lugares de destaque na coligação. O então secretário-geral da CASA-CE, Leonel Gomes, saira com Chivukuvuku da UNITA, e o conhecido jornalista Félix Miranda (já falecido), com quem igualmente militara na UNITA ao tempo de Jonas Savimbi, foi o responsável pelo Gabinete de Imprensa.
E o então Secretariado Nacional estava repleto de seus seguidores.
Fonte: CK