Com apenas 32 anos, Henriques Ngolomé, já soma ao currículo prémios internacionais e um livro, que faz uma reflexão sobre a ausência de uma cultura de liderança responsável em Angola e no continente africano.
Jurista, líder cívico e também co-fundador e director do Centro de Inovação Social e Incubação da Universidade Católica de Angola (CISIUCAN), em 2021, foi distinguido como líder do ano da Rede YALI (Young African Leaders Initiative), iniciativa do Governo norte-americano de investimento em jovens líderes africanos.
Recebeu também, em 2019, um prémio do Banco Mundial no concurso de redacção sobre ideias para o desenvolvimento da juventude africana.
Em entrevista exclusiva ao Correio da Kianda, Henriques Ngolomé falou sobre os projectos nos quais está envolvido, bem como questões pertinentes para a futuro dos jovens africanos.
Leia a entrevista abaixo
É autor do livro “Liderança Responsável”. O que o motivou a escrever a obra?
Porque descobri que a maior crise de África está na ausência de uma cultura de Liderança Responsável. Os grandes problemas de África e em particular de Angola, não está na falta de recursos naturais ou de inteligência, há séculos que vivemos uma grande crise de liderança, por isso escrevi o “Sapi Ya Chiyulo: Liderança Responsável”, para lembrar que liderar para o bem de todos é algo que sempre esteve na génese do povo bantu. Os nossos avós apreenderam a liderar pelo exemplo e a se realizar na colectividade, nisso está a essência da Liderança Responsável enquanto um desafio ético, uma habilidade directiva e um solução preventiva em termos de criação de possibilidades de vidas para as gerações futuras.
Quais orientações teria para os angolanos que desempenham algum cargo de liderança?
Primeiro: apreender a liderar-se e buscar ser e agir de forma ética, como um líder responsável. Em vez de agir só pelo poder da posição e não pelo exemplo da influência e do relacionamento genuíno. Segundo: perceber a importância de desenvolver outros líderes, através da mentoria de líderes para mais impacto das organizações.
É fundador e director do Centro de Inovação Social e Incubação da Universidade Católica de Angola (CISIUCAN). Quais resultados têm alcançado com o trabalho que desenvolvem?
Temos trabalhado na Excelência em Liderança, Empreendedorismo e Inovação Social, incubamos negócios alinhados aos ODS da ONU. E temos produzido estudos, em Liderança, Ética Empresarial, Direito e Inovação e para o próximo ano temos em carteira o relatório sobre o Estado da Arte do Empreendedorismo em Angola. Actualmente, temos 10 ideias de impacto, na fase de pré incubação, todos negócios com impacto social.
A temática empreendedorismo social é recente em Angola e pouco difundida. Como o país teria a lucrar investindo neste sector?
Uma das maiores plataformas de dimensionamento do mercado global de investimentos de impacto (Rede Global de Investimento de Impacto – GIIN) anunciou que o tamanho estimado do mercado global de investimento de impacto será um recorde de USD 1,164 trilhão! O importante relatório do GII, publicado anualmente, prevê que mais investidores estão procurando gerar resultados sociais e ambientais positivos com os seus investimentos. Em Angola, ainda não temos um mercado da economia social formalizado e não temos dados oficiais de investimentos públicos para o fomento do empreendedorismo social, que no fundo é o futuro da economia.
O conceito empreendedorismo social não é estigmatizado?
Hoje, um dos critérios mais consistentes de avaliar as economias robustas é o grau de concretização dos ODS, o nível do impacto das organizações em termos das decisões que tomam e o impacto dessas decisões na sociedade. Por isso, o empreendedorismo social, hoje já não pode ser visto como parente mais próximo da pobreza. O Empreendedorismo Social é a forma de empreender para a resolução de problemas prementes, nalgumas vezes negligenciados pelas iniciativas públicas voltadas ao investimento social e criar possibilidades de vidas para as gerações futura. Um mercado potencialmente rico e com possibilidade de criar riqueza para o bem de todos. Por isso deve haver alguma urgência na criação de políticas públicas voltadas ao fomento do empreendedorismo social em Angola, com a criação de Lei da Economia Social, bem como o regime jurídico de empresas sociais e startups de impacto, para que o sector esteja alinhado aos ganhos emergentes no mercado global de investimentos de impacto.
“Tenho aprendido que Liderança é Influência e Relacionamento”
Pensa que os projectos desenvolvidos em Angola já procuram estar alinhados com as agendas internacionais, como a de 2030 (ONU) e 2063 (União Africana)?
Sim, alguns que mesmo executados nalgumas vezes sem alinhamento com agenda 2030 da ONU sobre a concretização dos 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável, bem como a agenda 2063 da OUA sobre a África que queremos, não deixam de concretizar os dois instrumentos referidos. Entretanto, uma vez que estamos em relação aos ODS na última década, penso que Angola deveria acelerar em termos de projectos, mais concretos como a erradicação da pobreza, qualidade do ensino através de investimentos consideráveis na educação e na saúde. Principalmente, a questão da falta de qualidade no ensino, condiciona muita coisa, até o próprio desenvolvimento económico que muito se pretende alcançar para os países como nosso. Hoje, se nos concentrarmos em educação e investirmos para a qualidade do nosso ensino, teremos os maiores dividendos como país e como cidadãos angolanos com a agenda 30 da ONU e a agenda 63 da OUA.
A COVID-19 ajudou a alavancar a economia digital em vários países, inclusive Angola. Pensa que os empreendedores locais estão num caminho certo ou ainda não estão a explorar todas as possibilidades do ambiente digital?
O cenário é animador, Angola esteve bem durante essa fase, criou resiliência e aumentou a sua Taxa de Actividade Empreendedora no Mundo, segundo o Maior Relatório de Empreendedorismo do Mundo (Global Entreperneurship Monitor /GEM-2021-2022). Entretanto, em termos de desenvolvimento de competências comportamentais e condições de ambiente de negócio para que a Taxa de Actividade Empreendedora se reflita também no Índice de Inovação em Angola, precisamos de investimentos e leis de fomento ao empreendedorismo e inovação em Angola. Temos oportunidade de concorrermos em pé de igualdade na economia digital e no trabalho do futuro. Só precisamos redefinir as prioridades que podem potencializar as capacidades dos angolanos que para o mundo estão evidenciadas.
Foi distinguido como líder do ano 2021 da Rede YALI, que reconhece jovens líderes africanos. A que se deve esta premiação?
Os critérios são em consequência do engajamento dos membros da comunidade em projectos individuas e colectivos, realizados no ano anterior e no ano da premiação. Em 2020, fundei o Centro de Inovação Social e Incubação da Universidade Católica de Angola. Em 2021, lancei o livro “Sapi Ya Chiyulo: Liderança Responsável”, além de ter participado activamente e como orador em Conferências da Comunidade YALI Angola, cimeiras e outros eventos com impacto mensurável para a distinção.
O que tem aprendido como fellowship e como este aprendizado tem contribuído para o trabalho que desenvolve?
Tenho aprendido a ser uma influência positiva para a minha vida e das pessoas ao meu redor. Tenho aprendido que Liderança é Influência e Relacionamento. Que nós podemos ser realmente a mudança que queremos ser no mundo, tal como diz o pai do empreendedorismo social: “se ficcionarmos o mundo que queremos para nós, esse vai ser o mundo que vamos construir” Muhammad Yunus.
É vencedor do concurso de redacção sobre ideias de desenvolvimento da juventude africana Blog4Development, região África em Angola 2019. O que trouxe no texto apresentado ao Banco Mundial?
A minha proposta de como podemos transformar e preparar a juventude africana e angolana, em particular, para a economia digital e o trabalho do futuro: ensinando liderança responsável. Para a materialização dessa proposta, desde que venci o blog, em 2019, mesmo sem qualquer apoio, consegui traduzir parte da ideia na criação do Centro de Inovação Social e Incubação da UCAN. Lancei o livro que ensina como a juventude pode aperfeiçoar as suas habilidades comportamentais e estar habilitado para ser bem sucedida na economia digital e no emprego do futuro, tendo ou criando emprego, e lacei a ideia da Academia Aberta de Liderança Responsável, para ensinar todos angolanos a liderarem-se e a falarem para serem ouvidos.