Trump usou imagens da RDCongo para acusar Pretória

Donald Trump mostrou, numa reunião na Sala Oval, imagens chocantes de alegados “cemitérios” com mais de “mil agricultores” que existem na África do Sul e garantiu que está a decorrer um “genocídio branco” no país. Mas afinal, as imagens que o Presidente dos EUA apresentou ao seu homólogo sul-africano foram tiradas de contexto e, em alguns casos, remontam à República Democrática do Congo. O desmentido foi feito pela agência Reuters, proprietária das imagens em causa.
O momento foi vivido na passada quarta-feira: inesperadamente, Trump pediu que apagassem a luz da sala e exibiu um vídeo e algumas imagens de um alegado genocídio branco que estaria a acontecer na África do Sul. A seu lado, incomodado e sem saber o que dizer, estava Cyril Ramaphosa. “Está a tirar as terras das pessoas”, dizia o Presidente norte-americano, mostrando vídeos do que seria uma “vista aérea de um cemitério” onde estavam os corpos de mais de “mil agricultores”. Os carros que são vistos no vídeo, alegou, pertenciam a familiares das vítimas, que se deslocavam até ao local para prestar as últimas homenagens.
Ramaphosa explicou que a África do Sul tem altas taxas de criminalidade generalizada, e que as vítimas são maioritariamente negras. E garantiu que “se estivesse a ocorrer um genocídio de agricultores sul-africanos”, “os senhores” que o acompanhavam naquela reunião não estariam ali, disse, referindo-se aos golfistas brancos Ernie Els e Retief Goosen, que estavam presentes. Mas nem isso foi suficiente para fazer Trump mudar de ideias. Agora, a agência Reuters veio esclarecer o que estava em causa.
Num dos vídeos apresentados, por exemplo, surgiam cruzes brancas — levando Donald Trump a afirmar que se tratavam de campas de pessoas brancas. No entanto, esse vídeo foi gravado em setembro de 2020, durante uma ação de protesto que ocorreu depois de duas pessoas terem sido mortas na sua quinta, escreve a Reuters. Segundo a agência, que cita uma entrevista dada por um dos organizadores à emissora pública sul-africana, as cruzes não serviram para assinalar sepulturas reais, mas sim para representar todos os agricultores que, ao longo dos últimos anos, morreram.
Mas não fica por aqui: durante a reunião, foi também apresentado um papel com uma imagem que tinha sido captada de um vídeo e que, segundo Trump, retratava vários “agricultores brancos a serem enterrados”.
“Mas na verdade, o vídeo publicado pela Reuters a 3 de fevereiro mostrava trabalhadores humanitários a levantar sacos de cadáveres na cidade congolesa de Goma”, na República Democrática do Congo, escreve a agência. As filmagens da Reuters foram feitas após um ataque do grupo rebelde M23, apoiado pelo Ruanda
Foram gravadas pela jornalista da agência noticiosa Djaffar Al Katanky, que explicou que “foi extremamente difícil” os jornalistas terem acesso ao que estava a acontecer. “Tive de negociar diretamente com o M23 e pedir autorização para poder filmar. Só a Reuters tem vídeos deste momentos”, conta a jornalista.
As imagens alusivas a este momento foram inicialmente publicadas pela revista conservadora online American Thinker, que não apresentava qualquer legenda nas fotografias. Confrontada com esta situação, a editora-chefe da revista e autora da publicação, Andrea Widburg, escreveu apenas que Trump tinha “identificado mal a imagem”. E acrescentou que as imagens em questão eram alusivas ao “governo marxista disfuncional e obcecado pela raça” de Cyril Ramaphosa.
Até ao momento a Casa Branca não se pronunciou.
FOnte: MSN