Huíla: autoridades tradicionais querem que mulheres adúlteras também paguem multas
Trata-se de COE, uma prática centenária adotada para reduzir os casos de adultério nas comunidades habitadas pelos Nyaneka Umbi, onde habitualmente o homem adulto é obrigado a pagar uma ou duas cabeças do boi ao marido da mulher com quem se envolveu. Devido aos casos cada vez mais recorrentes, as autoridades tradicionais do município dos Gambos, na Huíla, querem que as mulheres adúlteras sejam obrigadas a pagar multas às donas do homem com quem se envolveram sexualmente.
De acordo com os sobas, que falavam à RNA neste fim-de-semana, o COE está a ser usado para fins completamente distintos, chegando a ser um negócio em algumas comunidades.
Por este motivo, na Ombala dos Gambos, fala-se da adoção de novas medidas em que a mulher adulta também é multada, para, segundo alegam, acabar com este mal.
O COE é uma prática cultural entre os Nyaneka Umbi e foi imposta com o objectivo de reduzir os casos de adultério, responsabilizando o homem que é encontrado com a mulher de outro, sendo por isso, obrigado a pagar uma multa que vai entre uma cabeça de boi ou duas, neste último caso, quando se tratar de um envolvimento que resultou em gravidez.
A multa é paga ao esposo traído, seguindo uma determinação habitualmente feita por uma autoridade tradicional, quando há falta consenso entre as partes.
Hoje, a realidade social mudou e o COE passou a ser tido como um acto para enriquecer as famílias que chegam a desenhar o adultério. Esta situação preocupa as autoridades tradicionais da Ombala dos Gambos, que agora pensam em mudar o paradigma cultural para a responsabilização também da mulher adúltera.
O rei da Ombala dos Gambos sublinha que o COE não tem uma finalidade patrimonial, mas é um acto de garantia de paz na comunidade, pelo facto de, em alguns casos, os envolvidos serem amigos.
“Se for uma pessoa que você talvez dá uma pouca consideração, vai te pagar um boi. Independente do nome, não se define o tamanho importante que é um animal, um boi. Agora, se for uma pessoa de consideração, talvez um lapso, um engano qualquer, você só chama atenção do meu amigo, não torna a fazer mais”, disse, o ancião Mionbov.
Aquela autoridade tradicional esclarece ainda que, apesar dos esforços feitos para manter esta essência, hoje o COE é tido como um recurso para que as mulheres paguem o dote apresentado no seu alembamento e tenham caminho aberto para pedir o divórcio.
“O casamento tradicional que eles fazem aqui é pagar dois bois. Esses bois vão para os pais da mulher, mas depois, quando haver divórcio, se for dois, tem que vir quatro. Algumas, agora estão a fazer isso como um negócio. Praticam adultério para poder diminuir os custos daquele relacionamento, daquele casamento que eles tiveram com esse primeiro marido”, referiu.
O soba disse que é de opinião que, por se tratar de um acto praticado pelos dois, além do homem pagar, essa mulher também deve pagar à outra mulher do homem com quem se envolveu.
Entretanto, a ideia dos sobas da região está a dividir opiniões na Umbala dos Gambos, mas em algumas comunidades parece ser unânime.
A seculo da Shibemba Treza Jamba disse que, junto com os seus conselheiros, já pensaram em reunir os chefes de famílias para encontrarem um consenso quanto à adoção desta nova medida.
“Esse problema agora, nós vamos pensar, vamos pensar sozinhos, com [Ministério da Acção Social, família e]a promoção da mulher, com o seculo, com a soba, vamos fazer assim. Se o marido vai pagar o COE, e essa mulher também vai pagar o COE do outro, mas quando ela também dormir com o marido, não dê.
A segunda esposa do rei da Umbala dos Gambos, Cristina Muiticavela, sublinhou que, ao se adotar essa medida, toda mulher que for responsabilizada por adultério pensará duas vezes antes de voltar a trair o marido.
“Sobreviver de adultério é um acto reprovável e, na verdade, para desencorajar as pessoas que praticam, devia sim até a outra que roubou o marido alheio pagar alguma coisa, pelo menos para as mulheres terem medo de serem desencorajadas, que essa prática não é boa.
Na mesma linha, pensa o seculo Ângelo Cacala, que diz que o número de casos resolvidos mensalmente tende a aumentar, causando inimizade na comunidade.
“Isso é complicado, porque a tradição diz que o homem é quem dá duas cabeças, que é o alambamento. Mas a mulher também deveria contribuir, porque ela também gastou no marido, estava a lutar para isso”, disse.
Para fundamentar a razão de uma nova lei, ninguém melhor do que uma mulher que já foi traída e gostaria de ser indeminizada. Ela diz que é tudo de poder, porque ela é que cozinha, que lava roupa para o marido estar limpo.
O seculo do bairro Xinhange Velho, Vasco Tote, que diz que os actuais métodos devem manter-se.
“Eu digo com a boca cheia que deve permanecer, porque é o homem que foi atrás da mulher, não a mulher que foi atrás do homem. Assim, resultar do próprio para dizer que a mulher também deve ser pegada do COE, não”, justificou.
O seculo entende que a única forma de acabar com o adultério nas comunidades é aumentar o valor da multa do COE.
Fonte: CK