Luanda – Pelo menos três edifícios desabaram nos últimos 20 anos, na cidade de Luanda, fundada em 1575, para acolher aproximadamente 600 mil habitantes.
Trata-se de uma situação que se deve, grosso modo, ao elevado estado de saturação e desgaste das infra-estruturas, algumas delas erguidas há mais de 50 anos.
Segundo registos, o primeiro a desabar, no período em análise, foi o prédio da antiga Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC), situado nos arredores da Cidadela Desportiva, Avenida Hoji Ya Henda.
O desabamento ocorreu na madrugada de 29 de Março de 2008, tendo causado 24 mortos, de um total de 180 pessoas que se encontravam no interior do edifício.
Conforme o relatório da comissão de inquérito criada na altura, as causas do desabamento foram “a falta de capacidade das peças estruturais, nomeadamente pilares, vigas e lajes, para suportarem o excesso de cargas acidentais e permanentes” sobre a estrutura.
De acordo com os registos disponíveis, no mesmo ano, precisamente a 3 de Dezembro, desabou o edifício-sede do Corpo de Segurança de Diamantes, na rua Robert Shildes, sem, no entanto, causar vítimas.
O desastre ocorreu pouco antes das 08 horas da manhã, com os gabinetes desertos dos funcionários habituais.
Volvidos 15 anos, a história voltou a registar-se, na madrugada de sábado, 25 de Março de 2023, desta vez com o edifício 41 da Avenida Comandante Valódia.
O prédio, construído no Distrito Urbano da Ingombota, ruiu por volta das 02h00 da madrugada, numa altura em que já havia sido evacuado pelas autoridades.
Ao contrário do edifício da ex-DNIC, este apresentava sinais evidentes de desgaste na estrutura, o que levou à sua interdição, dias antes da ocorrência.
De acordo com vários especialistas, ouvidos pela imprensa sobre a ocorrência, o prédio já tinha zonas sensíveis, que não suportavam o peso de três pessoas.
Até ao momento, não são conhecidas vítimas humanas, havendo, entretanto, o registo de várias perdas materiais.
Os trabalhos de remoção dos escombros decorrem desde as primeiras horas de sábado, prevendo-se que terminem até na madrugada de segunda-feira.
O balanço do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros aponta para a recuperação de vários bens materiais, como botijas de gás e um montante de mais de 100 milhões de kwanzas entre os escombros.
Curiosamente, quer o antigo edifício ex-DNIC, quer o 41 da Comandante Valódia, ruíram de madrugada, reduzindo, significativamente, o risco de vítimas.
No caso específico do prédio 41, além dos moradores, contava com algumas lojas de venda de materiais de construção civil, pelo que uma ocorrência de dia poderia ser mais drástica para os luandenses.
Edifícios demolidos
Entretanto, nos últimos 20 anos, a capital do país também viu alguns prédios a serem demolidos, por causa do mesmo problema: alto risco de desabamento.
Constam desse leque, o prédio da antiga lagoa do Kinaxixi, da Cuca e o conhecido prédio da Tchetchenia, este último, uma estrutura privada inacabada.
O edifício da Lagoa do Kinaxixi, com 20 pisos, acolhia mais de 200 famílias, e começou a ser construído em 1972, mas não chegou a ser concluído.
Depois da independência nacional, a 11 de Novembro de 1975, o edifício foi invadido pela população, quando tinha apenas a sua parte estrutural concluída.
O prédio foi demolido por iniciativa do Governo de Luanda, numa operação que durou mais de cinco horas, com a desmontagem da grua que ali se encontrava.
De igual modo, foi demolido o prédio inacabado da antiga Tchetchenia, no ano de 2012, por causa do seu avançado estado de degradação. No local, está a nascer um novo prédio, ainda em obras.
O mesmo ocorreu, um ano antes, em 2011, com o prédio da Cuca, demolido com tecnologia moderna, sem afectar as estradas nem outros edifícios adjacentes.
As famílias que viviam no prédio foram transferidas para as centralidades Vida Pacífica (Zango) e K 44. O edifício, inaugurado em 1974, tinha 14 andares, 162 apartamentos e quatro estabelecimentos comerciais.
Na lista consta ainda o prédio onde funcionou a direcção da Angola Telecom, no distrito da Maianga, Luanda, cujo processo de demolição começou em Maio e terminou em Agosto de 2012, devido a problemas nas fundações, solo, fissuras nas paredes e rupturas nas canalizações detectados após inspecção realizada em Maio de 2008, por técnicos do Ministério das Obras Públicas.
Na altura, a empresa de demolição executou o processo piso-a-piso, desde o último andar até ao rés-do-chão. O prédio, construído nos anos 70, tinha 10 andares, cada um com oito apartamentos.
De acordo com especialistas, a ocorrência de queda de edifícios em Luanda deve-se, essencialmente, ao elevado tempo de vida e à falta de manutenção periódica.
Outro factor tem a ver com as alterações de fundo na estrutura dos edifícios, e aumento de carga bruta não prevista, com a construção de anexos e colocação de máquinas pesadas, como geradores e tanques de água.
Edifícios em risco iminente
Como se não bastasse a questão do desabamento e da demolição dos prédios, Luanda confronta-se com a uma realidade desafiadora, atendendo o facto de ter dezenas de edifícios antigos que precisam de intervenção.
Trata-se de prédios com sinais evidentes de desgaste, nas suas fundações e não só, como o “Prédio Sujo”, no Marçal, do Livro, no São Paulo, e a Torre da Maianga.
O “prédio Sujo” tinha 120 apartamentos de tipologia T1, T2 e T3, mas registou construções clandestinas, tendo, actualmente, um total de 156 moradias.
O imóvel recebeu obras de restauro na parte exterior, tendo hoje uma imagem mais vistosa, por fora, mas ainda é uma incógnita a questão da resistência das suas fundações, tendo em conta as alterações feitas.
O prédio apresenta fissuras, com mais de dois centímetros de abertura, que dividem o edifício em duas partes, sendo que o perigo soma e segue dia e noite.
Por sua vez, o prédio da Torre da Maianga, com 15 andares, situa-se na Avenida Marien NGouabi, ainda hoje conhecida por muitos como António Barroso.
Abandonado desde 1974, encontra-se vedado com chapas, e tornou-se um “quartel” de marginais.
Portanto, a situação da conservação dos edifícios em Luanda, em particular, e em Angola, em geral, é uma questão que deve constar das prioridades do Governo, tendo em conta o acentuado desgaste dos mesmos.
A chamada cidade velha precisa de uma intervenção urgente, sendo que a manutenção dos edifícios é uma acção que não se deve mais retardar.
Os sinais de alerta soaram e as respostas impõem-se.
Fonte: Angop